Por Gabriela
Rafael chegou no horário marcado.
Ele, como de costume, abre a porta traseira do carro para nós entrarmos.
Sua irmã está sentada no banco da frente mexendo no celular.
--Boa Tarde. --digo e os meninos fazem o mesmo.
--Boa Tarde. --ela responde sem tirar os olhos do celular.
--Clarinha, guarda esse celular um pouco princesa. --pede Rafael.
--Ai Rafa não dá. Estou conversando com minhas amigas. --responde sem olhar para o irmão.
Rafael não insiste e coloca uma música.
--Vocês não devem gostar dessas músicas, né meninos. Essas são relíquias que eu e a Gabi gostamos. --Rafael comenta.
--Eu não conheço Rafael. --diz o Gui.
--Me fala então uma banda boa que eu procuro pra vocês. --ele pede.
Os meninos vão falando algumas bandas e ele coloca, mas quando a música chega no refrão, ele diz brincando que é muito ruim. Ficamos nesse clima descontraído até chegar no shopping. Mas a Clara não diz nada. Está muda. E eu começo a perceber que não somos bem vindos.
Por isso tento resolver isso quando descemos do carro.
--Rafael. --chamo e ele para na minha frente. --Eu vou levar os meninos nos brinquedos, enquanto você ajuda sua irmã.
--Nada disso, Gabi. Nós viemos juntos e vamos ficar juntos.
--Rafael. É melhor assim. Eu não quero atrapalhar seu passeio com a Clara.
--Vocês não atrapalham nada. --ele levanta a mão e coloca uma pequena mecha do meu cabelo atrás da orelha. Eu fico hipnotizada com seu toque. E acredito que Rafael também. Até que sua irmã chama nossa atenção.
--Eu vou olhar um vestido ali, tá Rafa.
--Espera, Clara. Nós vamos juntos. Vamos? --diz Rafael.
Ele caminha e coloca uma mão no meu ombro me conduzindo.
Na loja de vestidos fico olhando algumas peças, mas acho o preço bem alto. De longe vejo os meninos conversando animados com Rafael.
Até que me assusto com Clara na minha frente com três cabides.
--O que você acha? Qual desses? -- ela pede minha ajuda para escolher.
Vamos para o provador e ela veste um por um.
Eu escolho um floral, que fica lindo nela.
A Clara é muito parecida com o Rafael. A diferença é o cabelo dela que tem algumas mechas douradas. E ela não usa óculos. Ela é uma linda menina.
Ela sai do provador com o vestido, no corpo, e vai em direção onde o irmão está e fica dando voltas mostrando para ele o vestido.
Nesse momento uma senhora me aborda.
--Você trabalha aqui mocinha? Eu quero um vestido de festas.
--Eu não trabalho aqui senhora. Sou cliente também. --respondo firme.
A senhora me olha de cima abaixo e sai sem pedir desculpa. Estou acostumada com isso. Para os racistas, as pessoas negras em uma loja cara só podem ser empregadas, nunca cliente.
--Gabi. -- a Clara me chama. --O Rafa também gostou desse, eu vou levar.
--Que bom Clara. Ele é lindo mesmo.
Depois disso, fomos em uma loja de departamento, lá os preços são mais atrativos e decido olhar algumas peças pra mim. Quando menos espero, Clara está ao meu lado com alguns cabides também. Assim, vamos para o provador e experimentamos as peças. Mostro para Clara e peço sua opinião e ela também do mesmo jeito.
Acho que demoramos muito, porque quando saímos da loja eu não vejo os meninos.
Pego meu celular e ligo para Rafael.--Oiii. Onde vocês estão? --pergunto.
--Gabi.... Estamos.... espera aí......eu perdi?.... Oi. Gabi estamos na sala de jogos. --custou a dizer, com certeza estavam jogando.
Começo a rir, imaginando a cena.
--Vamos para a praça de alimentação. --informo.
--Tudo bem. Estamos indo. Beijo.
Desligo o telefone sorrindo e vou com Clara em direção à praça de alimentação. Mas no caminho vejo uma loja de artigos femininos, que vende de tudo.
--Vamos entrar Clara?
--Vamos. Nossa que tanto de coisa linda. --ela diz empolgada.
Perdemos a noção do tempo vendo várias coisas, entre brincos e produtos de maquiagem. Resolvo comprar uns lenços para o pescoço e Clara compra também. No final, estávamos com muitas sacolas.
Meu telefone toca e quando consigo pegar, vejo que é o Rafael.
--Gabi. Onde vocês estão? Não estamos te vendo.
--Ah, estamos saindo da loja agora. Me espera aí que já chego.
Nesse momento algumas sacolas caem no chão e me descontrolo para não deixar o celular cair também. Clara tenta me ajudar, mas está igualmente com as mãos ocupadas.
Do nada aparece um rapaz me ajudando recolhendo as sacolas.
Ele é um jovem negro simpático e oferece ajuda.
--Não precisa. Obrigada. --respondo tentando pegar minhas sacolas.
--Eu te ajudo moça. Vocês estão carregando muito peso. --ele diz e ajuda a Clara também, que não mostra resistência em entregar para o estranho suas compras.
--Para onde estão indo? -- pergunta.
--Eu vou na praça de alimentação. Mas não precisa....
--Eu te ajudo moça. Vamos?
Eu não consigo argumentar e ele começa a caminhar, na companhia da Clara. Quando avistamos os meninos em uma mesa, vejo Rafael levantar e vir em nossa direção.
--Vocês demoraram. Tudo bem? --ele olha para o nosso ajudante desconhecido, com cara de poucos amigos.
--Sim. --respondo.
--Obrigado amigo. Mas eu ajudo elas. Estão comigo.
Rafael não espera o homem reagir e pega nossas sacolas na mão dele.
--Eu estava ajudando elas. --diz o rapaz se defendendo.
--Mas agora não precisa. Obrigado. Vamos meninas. -- Rafael fala.
Eu fico sem graça e agradeço o rapaz.
Nos sentamos na mesa para escolher alguma coisa para comer, mas o Rafael está estranho. Ele sentou ao meu lado, com a Clara do outro. Ele coloca o braço na minha cadeira, resvalando no meu ombro.
Nós decidimos o que vamos comer, e Rafael ainda permanece sisudo.Quando faço menção de levantar para fazer os pedidos, ele me impede.
--Deixa que eu vou Gabi.
Não digo mais nada.
A verdade é que eu nunca tinha visto o Rafael assim. Ele sempre se mostrou simpático. Isso é novidade pra mim.
Até que ouço a voz de Clara.
--O Rafa está "puto" com a gente Gabi.
--Como você sabe? --pergunto.
--Ele está segurando para não explodir. Olha como ele coça a testa. E fica altivo, na fila, com o peito erguido.
Olhei para Rafael e reparei sua postura, como a Clara falou. Realmente ele parece estar muito bravo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Luta Pelo Amor
RomanceBaseado em fatos reais. A Luta Pelo Amor conta a história de um jovem casal que mesmo diante de todas as dificuldades encontradas pelo caminho, optam por ficarem juntos. Eles enfrentam o preconceito da família e amigos e, apesar de todas as adversid...