Capítulo Vinte

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Por Gabriela

Eu não estava preparada para conversar com Rafael.

Eu sabia que na sua frente eu iria ceder e não conseguiria me distanciar.

Mas eu não estava preparada para vê-lo machucado daquela forma.

Meu coração doeu ao ver seu rosto roxo.

E imaginar que o pai de Rafael teve a coragem de fazer isso com o filho, de deixá-lo marcado, com tanta brutalidade.

Aquele homem é um monstro.

A única coisa que pensei na hora foi abraçá-lo forte na intenção de confortá-lo o máximo que eu pudesse.

De tentar amenizar a dor de Rafael.

Eu não pude negar o pedido dele.

Na verdade, eu também queria vê-lo para saber se estava tudo bem. Eu não aguentaria ficar sem notícias e ver com meus próprios olhos se estava tudo bem com ele.

Depois de conversarmos um pouco na porta da escola, fomos almoçar juntos em um self-service à quilo.

A comida era simples, mas percebi que Rafael comeu bem. Ele devia estar com fome.

--Você gostou desse lugar? -- começo a sondar.

--Sim. Você não gostou?

--Gostei sim. Não é o que você deve estar acostumado.

--Eu não ligo pra isso, Gabi. Eu como de tudo e em qualquer lugar. Não tenho frescura. E não imaginei que estava com tanta fome.

--Acredito que você não comeu nada ontem, né.

Ele solta um longo suspiro e nega com a cabeça, desviando o olhar.

Pego na mão de Rafael e aperto levemente.

--Eu estou com você Rafael. Sempre que você precisar.

--Eu preciso hoje, Gabi. Eu preciso muito de você perto de mim.

Depois do almoço, Rafael me deixa em casa e vai embora.

Fico pensando, que se eu tivesse alguma forma de tirá-lo daquela casa, não mediria esforços. Mas hoje eu não posso fazer nada para ajudá-lo.

--Você demorou filha, está tudo bem? Você almoçou? --pergunta minha mãe.

--Vamos para meu quarto. --chamo ela.

--Aconteceu alguma coisa? --pergunta sentando na cama.

--Eu estava com o Rafael e almoçamos juntos.

--Vocês voltaram?

--Não. Não sei. A verdade é que eu não quero deixá-lo agora.

Respiro fundo tentando controlar para não chorar ao me lembrar do estado de Rafael.

--O pai de Rafael bateu nele. Ele está marcado pela violência do pai. --falo e algumas lágrimas descem.

--O pai dele o machucou? --mamãe pergunta assustada.

--Ele está marcado no rosto. E estava sem óculos. Eu senti tão mal vendo ele daquele jeito. Doeu tanto, mamãe.

Minha mãe me abraça, confortando meu pranto. Ficamos ali juntas por um tempo, sem dizer nenhuma palavra. Até meu choro cessar.

--Eu não conheço essas pessoas minha filha, mas já não gosto deles. Eles te humilharam e ainda bateram no filho. Isso não é uma família. Ali não há amor. --ela fala indignada.

--E não foi a primeira vez. Rafael me disse que apanhou outras vezes. --revelo.

--Você está certa, filha. Você não pode virar as costas pra ele. Eu não sei onde isso vai dar. Eu tenho medo que você sofra com esse relacionamento. Mas hoje eu acho que ele precisa mais de você do que qualquer outra coisa.

--Obrigada mamãe. Obrigada por tudo. Por ser tão boa pra mim e para os meus irmãos.

--Não precisa agradecer nada, meu amor. Eu só amo vocês demais. Mais do que a mim mesma. E um dia filha, você saberá que amor é esse.

Ela me beija e sai do quarto.

Decido tomar um banho, mas antes envio uma mensagem para Rafael. Eu preciso saber se está tudo bem com ele.

Rafael me responde na hora, dizendo que está tudo bem e meu coração fica mais aliviado.

No restante da semana não vejo Rafael. Porém, conversamos todos os dias.

Eu não queria que ele me levasse no trabalho como fazia antes e ele acatou a minha vontade.

No sábado, minha amiga Dani apareceu me pedindo para ir com ela ao shopping e eu aceitei, precisava conversar com ela.

--Então, Gabi. Me conta essa história direto, como assim, o almoço na casa do Rafael foi horrível? Sendo eles tão ricos, o que poderia ser ruim?

Eu havia comentado com a Dani que o almoço foi péssimo. Agora termino de contar.

--Pois é Dani. Foi horrível sim. Os pais dele me humilharam, eles não gostaram nem um pouco de mim. Eu tenho certeza. Foi servido comida japonesa e lagosta, eu acho, o bicho estava inteiro. --conto.

--Nossa. Que péssimo hein. Eu sempre falo com você, Gabi experimenta um japonês e você sempre fugia.

--Mas eu não gosto Dani. E além do mais, essa comida é cara.

--Isso é verdade. E o que eles falaram com você?

--Nada. Não trocaram uma palavra comigo. A mãe dele me olhou com nojo. E o pai é um monstro. Eu não gostei deles.

--Ai amiga. Eu podia prever isso. Eles são ricos, Gabi. Querem que o filho se relacione com pessoas iguais a eles.

--Mas nada justifica, Dani. Tratar mal as pessoas e humilhá-las como eles fizerem comigo.

--E você e Rafael? Como estão com tudo isso? Ele não apareceu na faculdade essa semana.

--Não? -- me assusto com essa notícia.

Será que aconteceu mais alguma coisa e Rafael está me ocultando.

--Vocês não estão conversando? Não estão mais juntos?

--É complicado, amiga. Eu não sei. Depois de tudo que aconteceu com os pais dele. Eu não quero viver a mesma história dos meus pais, você sabe.

--Eu sei Gabi. E te entendo. Sempre haverá um abismo entre vocês e suas famílias.

--É. --respondo.

Depois que a Dani me contou que Rafael não foi à faculdade a semana toda. Achei melhor não contar nada sobre a agressão do pai dele. Com certeza, Rafael não foi à aula por estar com o rosto machucado.

Assim, decido chamá-lo para almoçar comigo, no domingo. Vou pedir mamãe para me ajudar a preparar uma coisa bem gostosa para o Rafael e tentar deixá-lo um pouco mais alegre.


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