Capítulo Quarenta e Cinco

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Por Rafael

--Eles te pediram para vir? --pergunto minha irmã, quando ficamos sozinhos.

--Nossa mãe quer conversar com você e quer conhecer a Alice. --diz.

--Porque agora, Clara?

--Eu não sei, Rafa. Eles ficaram mexidos ao te ver no shopping. Eles me pressionaram e eu tive que contar tudo.

--O que eles queriam saber?

--Nosso pai viu seu uniforme, ele me perguntou se você é da Polícia e eu contei que você é Delegado. Ele ficou feliz.

Fico sem reação. Para mim tanto faz esse interesse repentino. Ele não me ajudou em nada para eu chegar onde estou hoje.

--A mamãe quer ver a Alice.

--Não. --digo categórico.

--Rafa. Eles estão tentando se aproximar. Talvez agora será diferente.

--Não, Clara. Sinceramente eu não acredito.

--Nosso pai ficou orgulhoso de você. Está contando para as pessoas que você é Delegado.

Levanto e fico de costas para a Clara, olhando o movimento da rua, pela sacada.
Respiro fundo antes de continuar. Volto a perguntar tendo a certeza da resposta.

--Clara. Todos esses anos, desde quando eu saí de casa, nossos pais perguntavam por mim? Eles sabiam que nós conversávamos e eles demonstravam algum interesse em saber como eu estava?

Viro para ela aguardando a resposta.

Clara, como eu imaginava, abaixa a cabeça, sem me responder.

--Responde Clara. --insisto.

Demora alguns segundos e ela levanta o rosto.

--Desculpa. --suspira fundo. --Você está certo. Eles nunca se interessaram em saber de você ou da Gabi. Seu nome não era pronunciado na nossa casa. Nossos pais nunca me perguntaram sobre você, se estava bem ou mal. E eu não podia dizer nada. Eu estava proibida de tocar no seu nome.

--Eu não tenho nada para conversar com eles e muito menos a minha filha.

--Desculpa Rafa. Eu não deveria ter vindo. Mas eu pensei que talvez você desse uma nova chance a eles. Nós somos uma família, Rafa.

--Não somos, Clara. Esse conceito de família está bem distante da realidade. Eu não sabia o que era família até conhecer minha esposa. Pode ter certeza que é bem diferente do que vivemos com nossos pais.

--O que eu digo para eles então?

--Não diga nada. Faça o que eles fizeram até dois dias atrás. Finge que eu não existo. Assim como antes você não podia tocar no meu nome, continue sem falar de mim.

--Desculpa por vir assim. --ela levanta e pega sua bolsa. --Dá um beijo na Gabi e na Alice por mim.

Minha irmã vai em direção à porta.

Acompanho ela até a saída.

--Você sempre será bem vinda na minha casa, Clara. Mas eu não quero eles aqui ou perto da minha filha.

--Tudo bem. Tchau.

Nos abraçamos e me despeço dela.

Volto para a sacada e fico ali imerso em pensamentos, até sentir a Gabi abraçar minhas costas.
Suspiro fundo.

--Você tinha razão, meu amor. --digo.

--O que eles querem?

--Conhecer a Alice.

A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora