Capítulo Cinquenta e Três

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Por Rafael

Voltei a trabalhar normalmente, mesmo diante dos protestos da minha esposa.

A diferença agora, é que eu ligava durante o dia, diversas vezes. No intuito de tranquilizá-la e saber se ela estava mesmo de repouso e sem fazer extravagâncias.

Depois de uma semana de trabalho, recebi uma visita inesperada.

Antes de acabar meu expediente minha porta é aberta e vejo meu pai me fitando.

--Posso entrar? Você está ocupado?

--Entre. --falo surpreso.

--Como você está?

--Bem. Agora estou bem. --respondo ainda curioso sobre essa visita repentina.

--Eu precisava conversar com você, em particular, e na sua casa é complicado.

--Pode falar.

--Eu...eu...conversei com sua mãe. E eu estou muito orgulhoso do homem que você se tornou. --ele diz inseguro. --Eu fiquei feliz quando te vi de uniforme, aquele dia no shopping.

--Obrigado, pai. Mas o mérito não é só meu. Sem minha esposa eu não teria chegado onde estou hoje.

--Eu sei. Eu....eu...pensei que você voltaria para casa quando....quando te dispensaram do exército.

Tiro meus óculos e começo a coçar minha testa. Lembrar desse período não é nada bom.

--Eu estava de casamento marcado, pai. Em poucos dias eu iria me casar com a Gabi. Como o senhor teve coragem de fazer isso comigo?

--Mas eu e sua mãe não queríamos que você se casasse com essa moça. Minha intenção foi te trazer a razão. --ele se altera.

--Eu não abandonaria a mulher que eu amo.

--Nós achávamos que era um capricho de um menino mimado ou que você queria nos afrontar. Humilhar a nossa família. Eu....eu...não imaginei que você levaria a sério esse casamento. E também não imaginei que você poderia passar necessidades. Eu não desejei isso para você, Rafael.

Meu pai soa sincero.

Fico por um tempo olhando-o e pensando como deve ter sido difícil pra ele vir até aqui confessar tudo isso.

--Não foi fácil, pai. Eu tive que lutar muito para não enlouquecer. Eu fiquei desesperado por não ter condição de manter minha casa. Mas eu só não desanimei porque eu tive a melhor mulher do mundo ao meu lado. E eu não me arrependo de ter me casado com ela. Se eu tivesse que escolher mais uma vez, entre me casar com a Gabi ou ficar no exército. Eu escolheria sem vacilar, eu ficaria com a Gabi.

--Hoje eu entendo isso. E me arrependo de tudo o que fiz. O que eu vi no hospital demonstra o tanto que ela gosta de você.

--E eu a amo. Mais do que a mim mesmo. E não imagino minha vida sem ela e sem os meus filhos. Eu não me arrependo de ter lutado por esse amor.

Meu pai suspira fundo e fixa seus olhos no chão. Ele toma fôlego, como se fosse falar algo, uma, duas, três vezes. Quando eu acho que ele já terminou o que queria dizer. Ele olha nos meus olhos. E diz firme.

--Eu vim até aqui para te pedir perdão, Rafael. Perdoa-me por ter errado tanto com você. Por não ter sido um pai que você merecia. Hoje eu vejo o pai que você é para os seus filhos e percebo o quanto eu errei com você e a Clara. Eu quero reparar os meus erros. E quero começar por você. Perdoa o seu pai?

Fico sem saber o que responder. É tudo tão surreal. Vê-lo confessando que errou comigo e com a Clara. E saber que ele entendeu o significado de ser pai, é muito chocante.

--Você não precisa responder agora. Quando você se sentir preparado, você me procura. Eu vou ficar aguardando. --ele diz e se levanta indo em direção à porta.

--Pai. --chamo.

Ele para e gira seu corpo me olhando.

Eu levanto da minha cadeira e me aproximo dele.

--Pai. Apesar de tudo que o senhor e minha mãe fizeram comigo, eu ainda os amo. Você é o meu pai e eu não quero alimentar um sentimento ruim a vida toda. Por isso, eu acho que podemos tentar.

--Obrigado, filho.

Sou surpreendido com um forte abraço daquele homem que por muitos anos era somente imponência dentro de casa. Nesse instante, a única coisa que vejo é um pai emocionado ao abraçar o filho que estava distante.

--Eu fiquei com tanto medo de te perder, meu filho. Medo de você partir sem me perdoar, sem estar conversando comigo. Perdoa-me, Rafael. --ele fala emocionado, ainda abraçados.

--Já passou, pai. --digo me afastando.

--Me perdoa, Rafael. Eu quero mudar com você e com sua família. Eu preciso de uma nova chance. Eu vou provar para você e sua irmã que eu mudei e quero estar perto de vocês. Eu quero fazer parte da sua vida, filho.

--Eu fico feliz em ouvir isso, pai. Eu te perdoo de todo coração. Porém, com relação a Gabi e as crianças eu preciso de um tempo. Eu vou conversar com ela, antes de qualquer aproximação. Por enquanto não vamos forçar nada. Vamos aguardar que o tempo nos mostrará o momento ideal. E por enquanto, eu só quero cuidar da minha esposa e dos meus filhos que estão para nascer e precisam de cuidados.

--Eu sei. A Clara me disse que a Gabriela está de repouso.

--Sim. Por causa de tudo que me aconteceu, a gestação da Gabi se complicou um pouco. Mas eu tenho fé que vai dar tudo certo e meus filhos vão nascer saudáveis.

--Pode contar comigo, filho. Eu e sua mãe estamos prontos para te ajudar. Quando vocês precisarem eu estarei a disposição.

--Obrigado, pai. Obrigado por tudo que fez por mim, depois daquele terrível acidente aqui.

--Não precisa agradecer. Eu só preciso do seu perdão. E que você me aceite na sua vida com todos os meus defeitos.

Vou até ele e o puxo abraçando forte.

--Está perdoado meu pai. Fica em paz. Eu te amo e também quero o senhor na minha vida e na minha família.

--Obrigado. Eu fico muito feliz em saber que você é melhor do que eu. E eu tenho muito orgulho de você, Rafael. Obrigado, filho.

Nos despedimos e ele vai embora.

Sento em minha cadeira e passo a mão no peito.

Que sensação estranha.

Tenho uma sensação de alívio.

Como se tirassem um pedaço que pesava no meu coração.

É como se meu peito estivesse mais leve.

Depois disso me sinto mais feliz e mais forte ao mesmo tempo.

Uma nova sensação gostosa e uma certeza que a partir de agora, tudo será melhor.


A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora