Capítulo Dezenove

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Por Rafael

Eu fui inocente ao acreditar que minha mãe receberia bem a Gabi.

Eu esperava que meus pais ao menos tivessem a educação que me ensinaram para tratar a Gabi em nossa casa. Mas foi tudo ao contrário, eles não fizeram questão da presença da minha namorada, eles tramaram para humilhá-la.


E eu fiquei vendo tudo, sem reagir. Eu não deveria ter ficado ali sendo conivente com aquela cena. Eu deixei a Gabi ser destratada dentro da casa dos meus pais.

Mais uma vez eu fui burro.

Depois que Gabi me disse tudo o que ela sofreu na infância e até hoje em relação à rejeição da família dos seus pais. Aquilo doeu muito em mim, mas acredito que doeu mais na Gabi. Como eu permiti meus pais machucá-la tanto.

Minha vontade é entrar na casa da Gabi agora e implorar para que ela me perdoe, mas nada do que eu disser vai diminuir o meu erro. Os pais dela irão me odiar por fazer a Gabi sofrer.


Então, resolvo acertar as contas com meus pais primeiro.

Volto pra casa com o sangue fervendo de ódio.

Ao entrar pela porta encontro minha mãe na sala, lendo uma revista tranquilamente, como se não tivesse acabado de cometer uma injustiça contra uma pessoa que ela mal conhece.


Fecho a porta com toda a minha força, fazendo um barulho estrondoso.

Ela se assusta e me olha na hora.

--O que significa isso Rafael? --diz se levantando.

--Isso? Isso? Isso é raiva, é ódio por você ser tão cruel e ardilosa com as pessoas. Como você pôde humilhar a Gabi dessa forma? -- grito.

--O que está acontecendo Rafael? --meu pai aparece na minha frente.

--Eu queria saber, o que está acontecendo com vocês dois? Vocês conseguiram acabar com meu namoro. Vocês não gostam de mim. Vocês não pensam na felicidade do próprio filho.

--Sua felicidade não é aquela moça. Acorda Rafael. Desde quando se envolver com uma negrinha pobre, favelada é felicidade? Você já pensou como será apresentar uma pessoa igual ela a nossa família? E se ela engravidar e tiver filhos pretos? Eu não quero esse tipo de gente na minha casa. --diz minha mãe.

--Eu que não quero ficar na sua casa, muito menos trazer as pessoas que eu amo na sua casa. Sabe por que mamãe? Porque você é vazia, você não ama ninguém, porque você não tem amor para dar.

Mal termino de falar e sinto um tapa tão forte na face que desequilibro e caio no chão, com o impacto meus óculos saíram do meu rosto e caíram no chão destroçados. Vejo meu pai se aproximando de mim para me bater mais. Minha mãe entra na frente impedindo que ele avance sobre mim.

--Bate! Bate! Pode bater. Não é a primeira vez que você faz isso. --digo.

--Saí da minha frente Rafael, antes que eu perca a cabeça e faço uma loucura. Você acha que já é homem, mas não é. O dia que você tiver sua casa e não precisar mais do meu dinheiro para sobreviver, aí sim, você será homem. E aí eu quero ver essa negrinha ficar com você, quando você estiver pobre sem o meu dinheiro e passando fome. Por enquanto, você depende de mim e vai seguir as minhas ordens. Some da minha frente. --meu pai diz aos berros.

Levanto do chão e recolho meus óculos quebrados e vou para o meu quarto. Entro no banheiro e ligo o chuveiro na água fria, mesmo ainda vestido fico debaixo da água e choro de raiva e de dor. Uma dor que nunca senti nesses vinte e cinco anos.

À noite mando uma mensagem para a Gabi, mas ela nem visualiza. E eu não insisto. Ela deve estar muito triste.

No dia seguinte, decido não ir trabalhar. Não tenho ânimo para nada.

A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora