Capítulo Vinte e um

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Por Rafael

Depois da última agressão do meu pai, eu vivia naquela casa como um estranho.

As refeições eram feitas sempre em silêncio.

Minha vontade era comer no meu quarto ou na cozinha.

Entretanto, o general do meu pai, não aceitava, na verdade nunca aceitou.

Todos tinham que obedecer a suas ordens e as refeições à mesa era obrigatória.


Então, eu obedecia.

Meu pai me disse uma coisa certa, tenho que confessar.

Eu estava na casa dele e ainda vivia com o dinheiro dele. O dia em que eu me libertasse dessa prisão, aí sim, eu seria um homem de verdade e seria livre.

Então, comecei a planejar minha saída de casa.

Eu tenho um dinheiro guardado, não é muito, mas dá para começar. Também vou vender meu carro. Este eu comprei com meu dinheiro e também daria um bom valor por ser um carro SUV.

Quero procurar um lugar pequeno e aconchegante.

Comecei a fazer uma lista e calcular os gastos que seria para morar sozinho.

Apesar de ser muito difícil, eu vou esperar terminar a faculdade, até porque faltam menos de seis meses. Prazo suficiente para achar um lugar para morar e comprar os móveis.


Com esses planos em mente eu me senti renovado.

E quem sabe a Gabi voltaria de vez pra mim. Poderíamos até morar juntos se ela quisesse.
São muito sonhos.

Sonhos de uma vida nova e feliz.

No decorrer da semana eu não fui à faculdade. Não queria que me vissem marcado pela bofetada que meu pai me deu. No trabalho eu disse que tinha caído com o rosto no chão. Sei que não acreditaram, mas não me importo com o que pensam de mim.

No sábado à noite recebo uma mensagem da Gabi me convidando para almoçar com ela, no dia seguinte. Então, resolvo matar a saudade, escutando sua voz.

--Claro que aceito, Gabi. Com você eu vou a qualquer lugar. --declaro.

Ouço ela rindo do outro lado da linha e acompanho sua risada.

--Sinto muito em te informar Rafael, mas o almoço será aqui com meus pais. A novidade é que a cozinheira será uma chef de cozinha renomada. --brinca.

--Que bom. E eu a conheço?

--Sim.

--E eu posso beijar essa chef de cozinha?

--Pode. Mas no rosto.

--Entendi. Essa chef de cozinha tem namorado? E ele é ciumento?

Escuto ela gargalhando. Como é bom estar com pessoas leves como a Gabi.

--A única informação que eu posso te passar é que ela disse que ele é lindo. O homem mais bonito que ela já viu.

--Esse cara tem muita sorte. Porque essa chef também é muita linda. Acredito que ele deve ficar louco quando está com ela.

Gabi continua rindo, mas muda de assunto. De forma leve eu tento abordar alguns assuntos mais íntimos e a Gabi sempre sai evitando o tema. Não quero pressioná-la. Por enquanto, eu só quero tê-la por perto.

--Rafael, então você vem amanhã?

--Claro meu amor. A hora que você quiser. --digo.

--Não precisa de marcar hora. Você é de casa. Eu fico te esperando. Um beijo.

--Até amanhã. Obrigado. Os beijos eu cobro quando chegar aí.

Ela ri ainda mais e finaliza a ligação. Isso me faz tão bem. Gabi renova minha esperança de dias melhores.

No domingo, levanto cedo e me arrumo para sair. Como Gabi disse que não tinha hora certa para chegar, eu decido ir antes do café da manhã.

Ao chegar à casa dela sou recebido por seu pai.

Ele me convida para tomar o café da manhã com ele.

Acho estranho porque ficamos somente nós dois, durante a refeição.

--A Gabi saiu com a mãe, elas foram à feira comprar algumas coisas para o almoço. Todo domingo é assim. --diz meu sogro com um sorriso.

Parece que ele adivinhou meus pensamentos.

--Ela disse que eu poderia vir a qualquer hora. Mas acho que cheguei muito cedo.

--Não. Claro que não. Temos muito trabalho aqui e uma mão extra, será bem vinda. -- Ele fala rindo. --Porque aqueles dois preguiçosos ficam só jogando na televisão e não querem levantar cedo e nem sujar as mãos de terra. E eu preciso dar um jeito no jardim.

Nesse momento, entendo porque o pai de Gabi quer uma mão extra.

Mas eu ajudarei com gosto.

Alguns minutos depois, Gabi chega com sua mãe, carregando várias sacolas e eu corro para ajudá-las.

--Oiii. Você já chegou. Que bom. --Gabi me cumprimenta com um abraço.

--Você disse que não tinha hora certa. --digo.

--Você é de casa Rafael. Fique à vontade. --diz a mãe da Gabi. --É bom que pelo menos você nos ajuda com as compras, porque esse velho aí finge que não vê.

Realmente, o pai da Gabi permaneceu sentado mesmo vendo elas carregando várias sacolas.

--Esse rapaz é forte, melhor do que eu. Eu estou velho. Não posso fazer gracinhas. E por falar nisso, deixa eu acordar aqueles dois meninos dorminhocos.

--Pai. Fala com eles que eu trouxe salgados. Eles levantam rapidinho. --diz Gabi.

Ela começa a tirar os objetos da sacola e eu ajudo. Depois ela prepara uma vasilha com alguns salgadinhos e dois copos de suco.

--Vem. --Gabi me chama e caminha em direção a varanda da entrada.

Sentamos-nos nas poltronas de bambu, um de frente para o outro e na mesinha lateral ela coloca a bandeja com os objetos.

--Como você está? --me pergunta.

--Com saudades.

Ela ri.

Pego sua mão e levo aos meus lábios.

Com minha outra mão puxo sua nuca para colar nossos lábios.

O beijo começa lento, mas em razão da saudade que eu estava da Gabi, eu aprofundo o beijo, querendo mais dela.

--Rafael. Aqui não. --ela separa nossos lábios.

--Desculpa. Eu estava com muita saudade do seu beijo.

Gabi ri. E bebe seu suco. Mas eu sei que ela estava sem fôlego também. Pois seu peito sobe e desce como se tivesse corrido uma maratona.

--Come, você gosta de salgados? --estende o pote.

--Gosto sim. --aceito e começo a comer.

--Como estão as coisas na sua casa? E como foi sua semana? Seu rosto está bem melhor. Voltou a cor normal. E está de óculos novo. Já te falei que você fica lindo de óculos? Eu acho que você fica tão charmoso. --Gabi dispara a falar e eu só consigo rir.

Ficamos ali conversando um bom tempo e de vez em quando eu roubava um beijo rápido. É muito gostoso estar com a Gabi. Ela consegue me deixar leve, eu não preciso fazer nada para agradá-la. Eu posso ser eu mesmo. E é muito boa a sensação de paz que ela causa em mim.

A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora