Capítulo Quarenta

381 53 11
                                    

Por Gabriela

Minha vida mudou completamente quando cheguei nessa nova cidade.

Eu não tinha mais trabalho, não tinha família perto e nem amigos.

Era somente Rafael e eu.


A cidade era bem pequena e Rafael era o único Delegado da região.

Na maioria das vezes ele trabalhava de dez à doze horas por dia. Todos os dias e finais de semana.

Teve dias que ele saiu até de madrugada por causa de alguma ocorrência grave.

Minha vida estava assim, ficava mais tempo sozinha e dentro de casa.

Não tinha shopping para passear, não tinha nada para fazer.

Eu não sei se suportaria viver assim por tanto tempo. E em certos momentos eu acho que Rafael percebia meu desânimo.

Ele tentava me dar atenção, mas para ele também estava bem difícil, diante de tanto serviço na Delegacia.


Nós estávamos tentando engravidar.

Porém eu ainda não tinha conseguido, e isso também era mais um motivo de desânimo.

Passaram-se seis meses assim.

Então, resolvi fazer alguma coisa por mim, senão eu enlouqueceria.

--Amor, sabe o que eu achei e estou pensando em fazer? --digo.

Estava conversando com Rafael durante o jantar, porque na hora do almoço, raramente ele estava em casa.

--O que Gabi?

--Eu estava pesquisando e encontrei uma Pós Graduação, especializada na docência infanto-juvenil. Eu quero fazer. É 100% on line. O que você acha?

--Nossa. Muito legal. Faça sim, meu amor. Eu te ajudo.

--Eu estou empolgada. Acredito que vai ser bom e quando eu voltar a trabalhar vou ter uma especialização.

--Você não precisa trabalhar, Gabi. O que eu ganho dá para manter nós dois.

--Eu sei. Nunca reclamei de nada. Mas eu quero ter meu trabalho. Eu preciso ocupar minha mente.

--Tudo bem. Vamos focar primeiro na pós graduação e depois conversamos sobre o trabalho.

Eu não insisto na conversa.

Na verdade nós já havíamos discutido sobre isso e eu não voltaria a repetir os mesmos argumentos. Eu não quero ficar a vida toda sem trabalhar. Eu gosto da minha profissão e não vejo problema nenhum em continuar trabalhando. Mas, por enquanto, eu vou focar nos estudos, depois eu retornaria a esse assunto que incomoda tanto Rafael.

Comecei a estudar e estava amando.

O curso teria a duração de um ano, mais a elaboração de um artigo científico.

Eu estava muito empolgada e isso me ajudou a ocupar a mente.

Nesse período eu estava tão feliz e relaxada que consegui engravidar.

Meu bebê nos surpreendeu, porque descobri a gravidez com quase dois meses, de tão entretida que eu estava com a pós graduação.

Nós comemoramos muito essa novidade.

Liguei para os meus pais e minha amiga Dani.

Eu estava radiante à espera do meu bebê.

Apesar da correria diária de Rafael, ele sempre me acompanhava nas consultas e exames.
E foi com muita alegria que descobrimos que estava à caminho uma menina.

--Amor. Eu posso sugerir um nome?

Rafael me perguntou à noite, quando estávamos deitados.

Ele passava a mão na minha barriga fazendo um carinho na filha.

--Claro meu amor. Você quer escolher o nome?

--Você pensou em algum? --ele me pergunta.

Ele estava meio apreensivo.

Com certeza ele já tinha escolhido mas não queria impor sua vontade.

Então decidi fingir que não tinha pensado sobre possíveis nomes.

--Não meu amor. Não pensei ainda. Me fala quais os nomes que você gosta e optamos por um que ambos gostem.

--Eu só tenho uma sugestão.

Eu ri dele.

--Tudo bem. Qual nome você gosta?

--Alice. Eu gosto de Alice.

--É o nome de alguma ex namorada sua, Rafael? --pergunto.

Ele solta uma gargalhada alta.

--Claro que não, Gabi. Eu nunca faria isso. Eu acho bonito o nome Alice. Apenas isso.

--Você tem certeza? Não está mentindo pra mim?

--Claro que não, meu amor. Mas se você não gostar escolhemos outro.

--Tudo bem. Eu gosto de Alice. É um nome lindo. Pequeno e bonito.

"Oi Alice. Minha bonequinha Alice. Alice do papai."

Rafael começou a conversar com a filha na barriga.

Então estava decidido, seria Alice.

Minha pequena Alice.

Depois desse dia, liguei para minha mãe contando a novidade e também pedindo ajuda.

Eu queria fazer o enxoval da Alice, mas eu não podia contar com Rafael para me ajudar.

Algumas coisas eu compraria na Internet, outras eu teria que comprar pessoalmente.

Decidi pedir ajuda a minha mãe, que se prontificou imediatamente para vir me ajudar. E pensei, também, na minha amiga Dani, eu queria convidá-la para ser a madrinha da Alice. Porém, Rafael criou objeções.

--Eu pensei em chamar a Dani pra ficar aqui alguns dias e me ajudar com o enxoval da nossa filha.

--Não Gabi. Sua mãe está vindo para te ajudar. Não precisa de mais gente. --disse categórico.

--Eu também quero convidar a Dani para ser a madrinha da Alice.

--Nunca. Eu não deixo. --ele fala alterado.

Minha paciência está se esgotando.

--Rafael. Eu vou chamar a Dani para me ajudar e eu quero que ela seja a madrinha da Alice. --falo pausadamente.

--Não Gabi. Eu não quero aquela mulher aqui.

--Ela é minha amiga..

--Ela não é sua amiga, pode ter certeza disso.

--Você que implica à toa com ela. Eu conheço a Dani desde criança, ela foi minha madrinha de casamento, ela é minha única amiga.

Já estávamos discutindo outra vez sobre o mesmo assunto.

--Não é implicância minha. Ela não é sua amiga. E eu não quero ela perto de você. No nosso casamento eu não queria ela nem como convidada, mas por você eu aceitei que ela fosse sua madrinha. Mas agora ela ser madrinha da Alice é demais.

--Qual o seu problema com a Dani. O que ela te fez?

Rafael me olha por um tempo sem dizer nada.

--Ela não é sua amiga, Gabi. Não vale a pena você conviver com ela.

--Está vendo como você não tem nem argumentos. Eu vou convidá-la sim.

--Eu não quero essa mulher na minha casa. Aqui ela não entra. E na minha filha ela não encosta nem um dedo, quanto mais ser madrinha. Isso eu não aceito. --ele diz bravo e sai pela porta me deixando sozinha.


A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora