Urano

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Todos estavam armados e em posição, como nas antigas guerras, com os estandartes erguidos com o símbolo de Escarion duas fileiras atrás dele. Ao seu lado, estava a Imperatriz, com sua postura ereta e expressão fria enquanto caminhava graciosamente até os portões de Wildknight. Todos em Marillion se escondiam em suas casas diante da presença de todos os soldados escarianos que ali se estendiam até o final da estrada principal.

Os portões do palácio se abriram e os escarianos chegaram em um pátio de entrada com os pisos encravados com pedras brancas e o salgueiro de bronze de Denver. De sua sacada gloriosa, estava o rei em seu esplendor e no ápice de seu orgulho, acima deles, observando sua rival de cima. Até perceber o que ela carregava. Em um embrulho de mantos pretos havia um bebê com a mesma tonalidade de pele da mãe, o cabelo preto espetado para cima e o rosto rechonchudo adormecido.

O rei não hesitou em mandar seus guardas apontarem suas armas para a criança e sua mãe, que sequer piscava. Pontos vermelhos a cobriram até ela e o menino ficarem inteiramente cobertos pela cor.

- Miriam. - Urano chamou, ela parecia não ouvir. - Miriam?

A Imperatriz olhou de soslaio para ele e revirou os olhos em profunda indiferença, voltando a encarar o ex-marido em desafio. Urano ouviu o som de dezenas de armas serem engatilhadas, ele não tolerou isso, se ela quisesse lutar que lutasse, ele sempre estaria ao seu lado, mas aquela criança não estava nem acordada. Não tinha noção de nada.

- Miriam, me dê o bebê. - Ele se vira para olhá-la de frente e estende os braços, ela apenas ajeita o pequeno nos braços dela e inspira fundo.

O general ouviu o rei de Denver dizer algo, mas não ligou. Ele estava prestes a matar um bebê e nem Miriam se importava com isso. Urano tinha que fazer algo a respeito, aquele menino não tinha nada a ver com a ganância do pai ou o desejo de vingança da mãe, não tinha culpa pelos erros deles. Sequer tinha um nome, pelo que ele mesmo sabia.

- Miriam. O bebê! - Ele diz mais alto antes de ouvir os disparos.

Alguém bate na porta, o tirando de seu sonho. Urano Febe se levanta esfregando os olhos e rasteja os pés em direção a porta. Odiava ser acordado, mas também não gostava dessas lembranças que via durante o sono.
Um rapaz de pele azul giz de cera com a cabeça raspada estava em sua porta, antes que possa dizer algo, ele leva um cascudo da Senhora Candace, a governanta da casa, e se encolhe.

- Eu disse que ele estava dormindo, moleque! - Ela esbraveja. Quem apenas a visse diria que era uma senhora adorável e de temperamento fácil, com seu cabelo grisalho, rosto enrugado e suas roupas sempre de lã. Mas Urano cresceu com ela ali, e sabe que a senhora Candace não tolera visitante abusado.

O general afasta a governanta do pobre coitado colocando um braço em volta de seus ombros e puxando gentilmente.

- Tudo bem, senhora Candace. - Ele diz com uma risada fraca. - Deixe que eu falo com ele.

Ela rosna para o rapaz e sai a passos rápidos, o jovem suspira aliviado. Urano vê pelo seu uniforme azul marinho com linhas brancas na manga que ele era da Guarda da Imperatriz, ou trabalhava na força particular dela. Os dois são diferentes, um luta em nome dela quando ela não pode ir, e a outra fica perto dela a protegendo. O primeiro, Urano seleciona. O segundo, ele não faz ideia de onde surgiram.

- O que foi? - O general pergunta.

O rapaz limpa a garganta e endireita a postura, colocando as mãos para trás.

- Senhor, sou o soldado Thomas Jeffrey, venho em nome da Imperatriz Miriam. - Ele responde com a voz formal. - Ela está chamando o senhor para comparecer ao Palácio Rubro. Agora mesmo.

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