•Nem tudo é pra ser difícil•

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G A B R I E L A

— Ele é tão inteligente pra idade dele, confesso que é estranho. Daria oito anos sem dúvida! — Falei bebendo o café que tava no meu copo.

— Kauê é esperto. O melhor aluno da sala. — Ela falou se arrumando na cadeira do refeitório.

— Eu ainda não entendi muito, como a mãe dele morreu? — Perguntei a minha maior curiosidade até agora.

— Faz um ano. A Graziella morreu de feminicídio, Gabi.

Cobri a boca com a mão. Que horror!

— Ela casou com o pai do Kauê, e no começo diziam que era o relacionamento perfeito. Até ela engravidar, ele ficou violento. Batia nela ainda gestante. A Graziella tentou pedir ajuda todo esse tempo, mas todas as denúncias eram arquivadas e no final ela apanhava o dobro. Ela separou por um tempo do Yuri. Mas a dependência emocional depois de anos sofrendo tortura psicológica, fizeram ela desculpar ele e acreditar que ia ser perfeito. E não foi! A última vez que ela desculpou acabou sendo assassinada na frente do filho. — A diretora parecia emocionada a contar a história. E eu estava me desaguando em lágrimas. — Kauê era pequeno demais pra entender, essa é a sorte!

— Meu Deus... Eu não sei nem o que dizer! — Falei enxugando as lágrimas que desciam copiosamente.

— Eu te entendo. Todos os dias chegam casos do tipo. Sempre dói. — Ela disse tocando o meu ombro.

— Ele não tem nenhum outro parente? — Eu perguntei suspirando.

— A mãe era do interior, os únicos vivos são os avós e não querem o neto. — Ela falou e eu senti uma pontada no coração.

— E o desgraçado do cara? — Perguntei matando resto do café no meu colo.

— Preso. Mas a gente sabe que não vai cumprir a pena totalmente. — Ela falou sentida.

— Eu tô com ódio, sabe Sheilla? — Desabafei sobre a situação. — Eu tô com ódio pela Graziella. Eu tô com muita raiva mesmo. — Deixei as lágrimas voltarem. — Não tenho ideia de quem era, mas isso dói como se fosse alguma parente. — Fui sincera.

— Eu também tenho todos os dias.

Sheilla me puxou pra um abraço. Ficamos ali por um bom tempo.

...

— Acho que é isso carinha. Foi maneiro demais ser sua amiga. — Falei abraçando o neném deitado na cama.

— Tia Gabi, a senhora vai me ver de novo? — Ele perguntou esperançoso e eu assenti sorrindo.

— Prometo que eu volto aqui pra Feira de Santana sempre que eu puder, sempre! E eu tô com o telefone da tia Sheilla. Quando quiser falar com a tia, pede pra ela ok?

Ele assentiu sorrindo.

— Brigado tia. — Ele me abraçou de novo.

Deixei uma lágrima cair.

— Agora você tem meu sanguinho. Aonde você for a tia vai estar junto ok? — Acariciei os cabelinhos dele.

perdição | L7NNONOnde histórias criam vida. Descubra agora