Juu Nana

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Tive de trancar a porta do meu quarto para ter umas horas de paz nesta casa. A minha mãe não se calava um bocado com aquilo do Kirishima e eu estava a ponto de explodir com o meu quarto.

Para além de precisar estudar e fazer os trabalhos de casa, precisava de um tempo para refletir sobre o que vou fazer com esse sujeito que consegue ganhar o coração de qualquer pessoa, até da minha mãe. O mais cómico é que estou em dúvida se de facto ele roubou o meu também.

É por isso que mesmo depois de treinar, estudar, ler, jogar, comer e outras atividades ainda estou bastante confuso com tudo. Não me lembro da última vez que fiquei acordado até tão tarde apenas a olhar para o teto.

Chegou um momento que eu tive sede e fui para a cozinha buscar água, percebendo que não devia ter feito isso quando olhei de novo para aquela maldita foto. Peguei nela e observei como ele tinha o sorriso radiante e incrível ali, algo que eu não consegui ver muito nestes últimos dias porque eu não quis ver algo que até um cego conseguiria perceber.

Hoje senti-me como naqueles filmes onde no final mostram um monte de cenas que recorreram ao longo da vida do personagem principal. Lembrei-me que o primeiro detalhe que reparei nele foi o cabelo de ouriço e só comecei a aproximar-me dele pela compatibilidade das nossas individualidades. Mas mais para a frente fui acostumando-me com a presença dele e algo que me chamou ainda mais a minha atenção foi quando percebi que ele foi o único que em vez de apenas me pedir para acalmar, ele queria saber se estava tudo bem comigo e tentar animar-me com conversas sem sentido algum.

Lembro-me também que ele ouve sempre as minhas reclamações com toda a paciência do mundo, do resgate que ele junto com o Deku, Impressora, Iida e Pavê, no dinheiro que ele gastou mesmo sem saber se ele ia usar os óculos de facto e até mesmo daquele maldito baile que acabou por não correr assim tão bem e acabei por desfazer o terno na luta.

As noites de jogos que fazíamos com o Bakusquad ou até mesmo sozinhos e acabávamos por dormir encostados um no outro, os treinos onde eu via como o corpo dele era musculoso e másculo, a posição constrangedora que nós fizemos nas termas do acampamento para assustar o Mineta...

- Podes parar de sorrir agora para a foto Katsuki, precisas ir dormir.

Tomei um susto com a voz do meu pai e deixei cair a fotografia, tendo de me atirar para o chão para não partir o vidro da moldura.

- Tem calma Katsuki - o velho ainda tem a ousadia de rir da minha situação - Da maneira que estavas a olhar para isso parece que já não se falam à séculos.

- É mais ou menos o que parece que está a acontecer velhote - resmungo enquanto me levanto do chão e coloco a moldura no lugar dela.

- Vocês discutiram não foi? O que é que fizeste?

- Eu não fiz nada! - como é que ele se atreve? - aquele sentimentalista do caralho é que decidiu se apaixonar por mim e nunca me dizer nada!

Parece que eu disse a melhor piada do mundo pela reação risonha do homem à minha frente.

- Como é que alguém que tira tão boas notas na escola consegue ser assim tão lerdo - eu estava a começar a ficar com receio de ele acordar a velha com os risos - Bakugou eu e a tua mãe achávamos que estavas apenas a fazer-te de difícil!

- Eu só soube ontem e nem foi por ele! - contei tudo o que tinha acontecido, talvez um sentimentalista como o meu pai tenha algo de útil para me ajudar a lidar com outro sentimentalista.

- Estás a fazer uma tempestade num copo de água! É só chegar lá e falares o que sentes!

Ele fala como se fosse muito fácil falar algo que nem eu sei.

- Mas eu não faço ideia do que caralhos eu sinto, estou confuso!

Ele deu um suspiro e vi a expressão de impaciente que é bastante rara de ver nele.

- Fala isso para ele então! Lembra-te que apesar de tudo ele é o teu melhor amigo e deve ser a pessoa que conhece-te melhor, não tenhas medo de ser sincero com alguém como ele!

Sem coragem para lhe dizer algo mais, comecei a subir as escadas para ir ao meu quarto. Eu fiquei mais motivado com aquela conversa e tratei logo de pegar no meu telemóvel.

Quando encontrei o contacto desejado comecei a ligar para ele e nem quero saber das horas que são.

Não tive de esperar muito pois a chamada foi atendida ao terceiro toque, mas ele não falou nada. Tive até de olhar para o ecrã para ver se de facto ele tinha atendido.

- Eijiro?

...

- Hey estás a ouvir-me? - desta vez recebi apenas um suspiro como resposta - Eu sei que não é a melhor hora mas eu não posso esperar até segunda para resolver esta porra e...

- Tu não tens nada para resolver - sou interrompido por ele - quem tem de lidar com isto sou eu, não há nada que possas fazer, os sentimentos são teus!

- Eu não sei o que caralhos eu estou a sentir okay? Eu só não quero que a pessoa que eu mais gosto naquela desgraça de lugar fique assim comigo para sempre! - eu já sou uma merda a expressar-me com alguém frente a frente, imagina por chamada.

- Bakugou...

- Kirishima com quem estás a falar? - ouvi a voz de uma mulher que presumi ser a mãe dele.

- Desculpa se te acordei mãe! Tou a falar com um amigo, já vou dormir!

- Tudo bem, só não adormeças muito tarde, amanhã temos muitas coisas a fazer.

Ouvi um barulho de porta a bater e outro suspiro dele.

- Está tudo bem? - decidi verificar.

- Como se quisesses saber - ele responde com deboche.

- Eu importo-me contigo caralho! Eijiro des..desculpa se em algum momento eu falei algo que te magoou mas eu não sei se correspondo aquilo que tu sentes!

Talvez eu não tenha sido assim tão convincente no meu pedido de desculpas, até porque nem me lembro da última vez que essa palavra saiu da minha boca.

- Eu não sei o que te diga, está acontecer muita coisa e a última coisa que precisava era discutir mais uma vez contigo.

- Eu não quero discutir, eu só quero que tudo volte ao normal! És o meu melhor amigo porra... E o que está a contecer de "tanta coisa"?

- Amanhã eu e a minha mãe vamos finalmente sair desta casa e ir para a casa da minha avó por um tempo. - ele ficou um tempo em silêncio antes de dar a resposta, como se estivesse a decidir se contava ou não.

- Isso é muito bom! Então ela vai entrar finalmente em processo de divórcio?

- Sim! - mesmo não vendo a cara dele, aposto que ele sorriu ao falar isso - mas ainda tou chateado contigo!

Ele tentou disfarçar a sua empolgação e isso só me fez rir.

- Não rias Katsuki, é suposto estares sério!

- Katsuki? Que intimidade é essa? - provoquei só para garantir que ela já estava tranquilo.

- Cala a boca! Preciso de ir dormir, xau!

- Boa noite Eijiro - digo antes dele desligar na minha cara. Até parecia que os papéis tinham invertido hoje.

Pelo menos agora posso passar o resto do fim de semana tranquilo de que ele está bem e que vai manter distância daquele homem que mesmo nunca ter visto a cara, quero destruir.































Juro solenemente não ser normal !!!

Sumairu :) Onde histórias criam vida. Descubra agora