32 - As Guerreiras e os Caçadores.

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- O que vamos fazer?! O Tomás não vai jogar de início.

- Acalmem-se. - Disse Victória passando as mãos no cabelo e andando de um lado para o outro, como se pensasse em alguma coisa. - Imprevistos acontecem... Vamos... passar a bola para o Isaque, ao invés do Tomás. Ele também não é bom no futebol. - Disse por fim tentando demonstrar o máximo de confiança possível, mesmo que sua voz tenha saído um pouco desequilibrada.

- Eu estou com medo. - Confessou Ma Duda.

- Todas estamos. - Ana Nicole disse.

- É só fazermos o que já sabemos, jogarmos. Nós somos um time, e vamos conseguir. - Elas se abraçaram, unindo suas forças e energias. Iriam dar o melhor que tinham.

***

Nove horas em ponto.

As Guerreiras e os Caçadores se aproximaram, cada um em seu lado do campo. Olharam uns nos olhos dos outros firmando aquele desafio.

- Então...Vamos tirar no cara ou coroa para ver quem começa? - Perguntou um dos rapazes olhando seus companheiros.

- Victória, você não disse que não iria ter cara ou coroa? - Indagou Thalita em sussurros para Victória. Tinha medo de tudo ir por água abaixo.

- Esperem, garotas. - Nat respondeu no lugar da ruiva, já prevendo o que viria a seguir. - Esperem...

- Que nada, cara! Vamos deixar que as madames façam as honras de começarem, afinal, vai ser o único momento que elas vão ter a chance de encostarem na bola. - Disse Bruno, convencido.

Victória abriu um largo sorriso carregado de satisfação ao ouvir as palavras do garoto. Odiava o jeito orgulhoso de Bruno, mas pelo menos, aquilo tinha servido para alguma coisa.

Um dos Caçadores pegou a bola e a posicionou no meio campo para As Guerreiras, naquele falso ato de cavalheirismo. Cada um caminhou para a sua posição, preparados. Todas as dez Guerreiras estavam em campo, mas nem todos os Caçadores estavam, já que o time masculino de futebol de Garcia era composto por mais de trinta garotos. Sendo assim, muitos estavam sentados nos bancos.

Ana Nicole começou o jogo passando a bola para Natália que passou a bola para Maria, um pouco atrás dela. Ma Duda correu alguns passos para frente e chutou a bola, que parou, propositalmente, nos pés de Isaque. O garoto ficou um pouco surpreso e sem saber o que fazer, enquanto seus colegas de time riam das adversárias.

- Elas não sabem nem passar a bola! - Bruno riu, mas antes que pudesse continuar seus ataques de deboche, Juliana, que se encontrava atrás de Isaque, roubou a bola do garoto com a maior facilidade e correu para frente.

Pela primeira vez, os Caçadores se viam ameaçados. Juliana era muito rápida e passava por eles os driblando com garra. Os gritos da torcida diziam "Olé!" todas as vezes que Juliana fazia um drible.

Mas eles não iriam deixar aquilo assim. Três dos Caçadores caminharam na direção da menina, e Juliana se viu encurralada.

Sorte dela que ela estava preparada caso aquilo ocorresse. Não olhou para trás, apenas chutou a bola, sabia que Victória estava ali. Assim como ensaiaram, Victória pegou a bola e correu com a maior velocidade que tinha para frente, a ruiva não era tão rápida quanto Juliana, mas fez o melhor que conseguiu. Fez o passe para Ária que chutou para o gol com o bico da chuteira.

Os Caçadores eram bons. E o goleiro também. Ele conseguiu pegar a bola no ar e impedir que As Guerreiras marcassem um ponto.

Mesmo que tenham conseguido impedir aquelas garotas, ainda se sentiam incomodados, e o arrepio percorreu seus corpos. Em menos de cinco minutos de jogo elas haviam avançado e tentado fazer um gol. Tinham que fazer algo para reverter aquela situação.

O goleiro mandou a bola para um dos garotos, que tomou posse do objeto e apressou seus passos. Laís correu na direção dele, na tentativa de o cercar. Laís era boa em roubar a bola dos adversários, talvez a melhor em fazer isso naquele time, o problema estava em quem ela estava querendo roubar a bola.

- Não, Laís! - Victória tentou gritar para a garota, mas ela não tinha escutado, não com a barulheira que as pessoas nas arquibancadas faziam.

Quando a moça conseguiu encostar no objeto esférico, o garoto que se chamava Vinícius, chutou a canela de Laís. O ato tinha sido tão bruto que fez com que a garota caísse ao chão, com as mãos em volta da região machucada.

O que Victória estava tentando avisar para ela, era que Vinícius fazia parte do grupo mental de Victória denominado os cavalos. Ele trombava, passava por cima de você, chutava sua canela, tudo apenas para conseguir estar em posse da bola. As nove garotas caminharam em direção a Laís, que continuava no chão, ajudaram ela a se levantar, mas perceberam que a cada passo, ela fazia uma careta de dor.

- Meninas, me desculpem, mas eu não consigo. - Disse Laís aos prantos.

- Está tudo bem. - Victória assegurou guiando-a para os bancos. Depois que deixou a garota sentada, descansando, Victória correu em direção a Vinícius. - Seu babaca, idiota! Você não viu que machucou ela?!

- Ei, ei, ei. Foi sem querer.

- Ah, claro! - Victória disse com ironia. - Isso foi falta. - Gritou ela para os garotos com uma raiva nada discreta em sua voz.

- Não foi não. - Negou Bruno, entrando no meio.

- Então é assim que vocês fazem? Beleza, mas se machucarem mais alguma de nós, eu juro que acabo com o time de vocês.

Vinícius chutou a bola para um dos seus companheiros de time enquanto as garotas faziam o que tinham planejado, cercavam os fominhas. O garoto que pegou a bola corria na direção do campo adversário. Assim que Davi viu que o menino se aproximava muito, ele, que estava já mais perto do gol, o gritou:

- Gabriel! Passa a bola! - Davi levantou os braços para o alto e o balançou, como se para dar ênfase ao que falava.

- Não dá! Tem duas pessoas te cercando! - Gabriel gritou, tentando se manter atento enquanto continuava a correr.

- Passa a merda da bola! - Davi gritou, agora ainda mais irritado.

Raquel aproveitou da distração dos dois garotos que discutiam e correu, não perdendo a oportunidade de tirar a bola de Gabriel. O menino só foi perceber o ocorrido dois segundos depois, e Raquel já se encontrava mais a frente, correndo com toda a sua velocidade. Driblou dois garotos no caminho até chegar perto o bastante, passou a bola para Ma Duda que chutou a bola na rede.

Maria pulou e abraçou Raquel ao ver a bola encostar nas redes e fazer o tão sonhado gol. Dos olhos castanhos dela, saíam lágrimas e mais lágrimas de felicidade. Sentia-se tão feliz e radiante! Era o primeiro gol que Maria tinha feito fora dos treinos, e ainda mais nos Caçadores.

Seu coração parecia que iria explodir a qualquer segundo, seu sorriso iluminava todo aquele campo, e seu rosto se aconchegava nos cabelos pretos de Raquel.

Todas as meninas se abraçaram e pularam juntas, comemorando aquele primeiro gol. Victória criou ali na hora, uma rápida coreografia e elas tentaram imitar seus passos enquanto sorriam animadas.

Na arquibancada, as pessoas gritavam e balançavam os braços, o que era só mais um incentivo para aquelas dez Guerreiras.  

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