30 - O plano.

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Victória jogou os papéis com força na mesa escura de madeira, como quem quer mostrar algo. As nove garotas assistiram a ruiva abrir algum papel dobrado que ocupava quase a mesa inteira. Ao lado, cadernos, canetões, canetas, e lápis estavam jogados de maneira não muito organizada.

Elas encaravam tudo aquilo com curiosidade, ficando na ponta dos pés e inclinando a cabeça, para verem se conseguiam enxergar os rabiscos que a cabelos de fogo fazia no papel.

- O que é isso?

- E por que estamos reunidas aqui?

- Isso é a planta do campo de futebol. - Victória disse dando espaço para que elas enxergassem. - Nós estamos reunidas aqui para planejar, ensaiar e treinar para ganharmos dos Caçadores.

- Eu não entendi porque esse jogo é tão importante. - Confessou uma das garotas.

- Olha, nós demos duro para formar esse time, treinamos muito para ganhar da Constelação, e nós fomos humilhadas por aquelas garotas que não tinham um pingo de empatia. E os Caçadores não estão nem aí por quanto batalhamos. A maioria deles são pessoas bem legais fora dos jogos, e muitos são meus amigos também, porém dentro daquela quadra, quando eles vestem aquela camisa, grande parte deles só pensa no jogo, na vitória, porque eles aprenderam assim, então são egoístas, competitivos, e excluem uns aos outros. Por isso é tão importante para mim esse jogo, para mostrar para eles que eles perderam todas as vezes que não passaram a bola para uma de nós. E para ter valido a pena toda a luta que tivemos feito durante esses meses. - Quando Victória terminou de dizer, sentiu os olhos molharem por uns segundos, abaixou a cabeça e passou a mão no rosto, não querendo que as garotas vissem que ela estava prestes a chorar.

Todas encararam Victória com felicidade e admiração. Não tinha pessoa melhor do que ela para ser a capitã das Guerreiras. Ela tinha no sangue esse jeito para liderança.

- Bom...Eu tenho um plano. Seguinte, os meninos têm mais experiencia, velocidade e habilidade que nós. Porém eles não têm uma coisa que nós temos, uma equipe. Eles estão em um time, porém são mais adversários do que qualquer outra coisa. E nós vamos usar isso ao nosso favor.

Ela apontou para a planta do local, bem na parte do meio campo.

- Eles são muito previsíveis. E estão convencidos que vão ganhar, por isso, confiem em mim quando digo que eles não fazer o cara ou coroa para verem quem começa com a bola. Eles vão deixar para nós começarmos. Por isso, o plano é assim, uma de nós vai estar aqui. - Ela apontou para a o papel. - E vai passar a bola propositalmente para o Tomás, que é um doce, porém convenhamos, é horrível no futebol. Desculpa, Raquel, falar mal do seu namorado, mas é a verdade.

- Ele não é meu namo-

- Os meninos vão rir do nosso "erro". - Victória interrompeu Raquel e fez aspas com os dedos quando disse erro. - O que vai nos dar tempo, pois Juliana vai estar perto do Tomás e pegar a bola dele e levar para frente. E como você é rápida, isso vai ajudar muito. O resto é um pouco incerto, existem algumas coisas que podem acontecer. Por exemplo, alguns dos garotos podem te cercar, nesse caso você precisará ser ágil, tira-la dali, ou passar a bola para trás, aonde eu pegarei, levarei para frente e passarei para você ou para a Ária, depende de qual estiver mais próxima ou de fácil acesso. Em outro caso, um dos cavalos, irá atrás de você, e irão apelar para a força, por isso não deixe eles chegarem muito perto, passe a bola para a Ana, que vai estar aqui. - Apontou para o papel novamente. - Que vai chutar para o gol. Tudo isso tem que ser muito rápido. Podemos perder a bola durante as jogadas. Então Raquel e Amanda, quem estiver no gol e quem estiver na defesa, deve se preocupar particularmente com os fominhas, Davi, Alex, Caio e Henzo. Eles não vão deixar nenhum outro avançar e fazer o gol, apenas eles. Portanto, vocês fiquem espertas quando eles se aproximarem. E o resto de nós vai tentar cercar eles ao máximo. E também fiquem de olho no André, ele não é fominha porém é muito bom, e tem muita facilidade em roubar a bola...

***


Seus pais brigavam no quarto, novamente, e Raquel decidiu por vestir sua jaqueta escura e sair dali. Estava cansada daquela gritaria, precisava respirar um pouco e relaxar.

Já passavam das oito horas da noite. As estrelas bonitas decoravam o céu, e vez ou outra Raquel as encarava, enquanto pedalava na sua bicicleta com calma, aproveitando do ar e dos aromas, principalmente do cheiro da dama da noite que floria todo o quarteirão.

Parou a bicicleta assim que avistou o moreno parado abaixo de um poste, com sua bicicleta escorada em um muro. Escorou a sua do lado da dele.

- Me desculpa te pedir para me encontrar aqui a essa hora. Sei que está tarde, mas eu não conseguia ficar no mesmo teto que eles.

- Está tranquilo, se precisar de alguma coisa, eu estou aqui. - Ele sorriu e ela se aproximou mais do corpo dele. Tomás perdeu o ar por alguns segundos, e seu olhar encarou os lábios de Raquel. A garota tomou a iniciativa e o beijou. O poste, acima deles, iluminava os dois como um holofote, destacando a cena dos dois adolescentes como uma cena de um filme.

A garota gostava da companhia do rapaz, de estar ao lado dele e de beijar seus lábios, mas apesar disso, os dois resolveram por não apressar as coisas, e nem rotular, no momento, o que eles tinham. A palavra relacionamento ainda causava muito medo em Raquel.

Os adolescentes se afastaram e olharam um no olho do outro, sorriam de maneira fofa e encantada como dois imaturos derretidos.

- Sabia que eu quase atropelei um gambá no caminho até aqui? - Tomás disse arrancando leves risadas da moça.

- Só você mesmo...

Ele sorriu.

- O que você acha do jogo no sábado?

- Ah, acho que talvez seja legal, mas não sei, sabe. Para as garotas é muito importante. - Respondeu Raquel.

- E para você não?

- É sim, só que, talvez eu esteja errada em pensar assim, mas, quando eu jogo, eu não ligo muito se vou ganhar ou perder. Eu faço o meu melhor, claro, porque nós somos um time, mas o que eu gosto mesmo, é a sensação que o jogo me dá, a sensação de correr e de perder o fôlego, de chutar a bola, ou de defender. De pegar a bola de alguém e passar para outro alguém. No fim, acho que o que mais importa é o percurso, e não o resultado.

- Eu não sei se já te disseram isso, Raquel, mas você é fofa.

- Eu não sou fofa, Tomás.

- Você é tão fofa, que o sol só nasce quando você acorda.

Raquel riu daquilo. Tomás sem dúvidas nenhuma era fofo, e a fazia se encantar por ele cada dia mais. Isso fazia com que ela tivesse vontade de ter aceitado aquele primeiro encontro muito antes, mas apreciava o percurso que fez com que ela estivesse com ele ali, debaixo de um poste, numa noite calma, conversando e se distraindo de todo o estresse.

Tomás era calmo, assim como ela. E a combinação dos dois, deixava em Raquel a sensação de puro conforto, aquele tipo de sensação de lar que Raquel nunca sentiu em relação a sua casa, mas sentia quando estava com o garoto. 

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