05 - O jogo da vida

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- Você vai querer participar do time? - Ana perguntou, surpresa demais com a situação.

- Foi o que falei. - Disse Raquel cruzando os braços.

Raquel era uma garota de estatura média, cabelos pretos lisos médios, com uma franjinha sobre a testa. Pele branca e olhos de um castanho claro. Ela era uma menina estranha, pensava Ana. Do tipo gótica dos vestidos floridos. Aquela com os batons escuros, piercings e blusas coloridas. Ninguém a entendia muito bem. Alguns pensavam que ela se vestia daquele jeito para chamar a atenção ou se destacar, mas às vezes Ana pensava que o que ela menos queria era se destacar. Ela era muito calada, na dela, não gostava de conversas fiadas, não conversava muito com ninguém. Às vezes fazia os deveres, às vezes não fazia. Era estranha. Então quando Raquel disse que gostaria de entrar no time, Ana não teve nem tempo de esconder sua surpresa.

- Mas por que não falou naquele dia na sala, quando perguntamos? - Ana indagou com sua teimosa curiosidade.

- Por que eu estou falando agora.

Ana resolveu não responder o último comentário.

- Seu nome vai estar na lista. - Foi o que disse apenas.

Raquel girou os calcanhares e foi embora, mais silenciosa do que quando entrou.

De qualquer maneira, pensou Ana, já eram sete.

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O sol já estava se pondo e Victória corria a todo vapor pelas ruas de Beija-Flor. Às vezes esbarrava em uma ou outra pessoa, ou derrubava alguma coisa no chão. Mas não parava, apenas corria em direção a loja do senhor Valdez. A mãe da menina, mais cedo havia pedido para que ela pegasse uma encomenda lá, mas havia se esquecido completamente, e a loja estaria quase fechando a esse horário.

Parou assim que viu a loja de muro laranja com os portões fechados.

- Merda! Merda! - Colocou a mão sobre a testa, e respirou fundo. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez. Inspira. Expira. Fechou os olhos. Inspira. Expira.

Virou-se voltando para casa, agora em passos lentos e preguiçosos, batendo os pés fortemente no chão. Como se aquilo fosse melhorar alguma coisa. Chutou uma pedrinha que estava no seu caminho com força.

Victória pensou em si mesma. Em como estava agindo de maneira irracional de novo. Estava deixando se levar pela raiva e pela frustração novamente. Então pegou o telefone.

- Oi, Carmen. - Cumprimentou ela assim que a mulher atendeu. - Tem como adiantarmos a consulta de segunda para amanhã? - Ela perguntou com a voz soando baixa.

- Claro, querida. Está tudo bem?

- Eu estou um pouco nervosa. - Contou Victória. Ela já havia desistido de mentir para a psicóloga há bastante tempo.

- É uma raiva comum ou não?

- Eu não sei... Eu... Eu contei até dez e respirei fundo. Acho que está melhorando, mas não tenho certeza. Precisava falar com você.

- Ah querida, - Carmen suspirou e disse em sua voz doce e atenciosa. - Continue respirando fundo, tudo bem?

- Obrigada... Nos vemos amanhã.

- Qualquer coisa, me ligue. Até amanhã, Victória.

Desligou. Era bom conversar com a psicóloga, sempre fazia ela se sentir mais leve, como se todo aquele peso, aos poucos, fosse cessando. Gostava de como Carmen era mais do que uma psicóloga para ela, era a pessoa em quem ela podia contar, mesmo sem ser no consultório. Então respirou fundo e continuou a caminhar.

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