Para Maria, ainda era novo e estranho ir na farmácia e não subir na balança, não chorar por dias a fio porque havia engordado mais um quilo, não sentir vergonha da imagem refletida no espelho e conseguir novamente postar uma foto em qualquer rede social que fosse.
Era novo, estranho, mas bom. Ela estava mais feliz e em paz consigo mesma do que nunca antes havia estado. Sabia quem era e amava cada curva do seu corpo, cada espinha do seu rosto e cada detalhe de si mesma.
Ainda não era fácil ir nas lojas e ver alguns olhares caírem como brasa sobre si. Não era fácil ouvir que ali não tinha a sua numeração de roupa, mas mesmo com sua timidez evidente, ela conseguia ter forças para levantar seu queixo e exibir a confiança que por muitos anos havia sido guardada em um pote trancada a sete chaves.
Quando sua mãe havia a chamado para fazer compras, ela, diferente das outras vezes, havia aceitado tal convite.
Agora estava no centro de Beija-Flor, onde grandes lojas com preços em conta eram como uma festa para a população.
Ma Duda olhava alguns vestidos e blusas que gostara enquanto ouvia o barulho das risadas doces de José que corria alegre pela loja. Kiara olhava algumas peças de roupas, mas sempre mantendo-se atenta ao filho.
A adolescente estava prestes a ir ao provador quando sentiu alguém cutucar suas costas.
— Oi... Você é a Ma Duda, certo?
A menina se virou e viu duas garotas loiras paradas em sua frente. Concordou minimamente com a cabeça, não reconhecendo tais meninas.
— Nós vimos o gol que você fez nos Caçadores lá no campo! Foi muito bom! Você joga muito! – Ma Duda abriu um sorriso tímido e feliz ao ouvir as garotas falarem aquilo com tamanha animação.
— O-obrigada... – Foi o que conseguiu dizer.
— Acabamos de receber nossas camisas d'As Guerreiras, e queríamos saber se você poderia autografa-las? – A outra garota perguntou apontando para as camisas que estavam vestindo.
Maria abriu a boca, surpresa. Era aquilo mesmo que tinha escutado? Sentiu suas bochechas queimarem e algo dentro de si se agitar.
— Claro. – Ela respondeu com um sorriso e a garota a entregou uma caneta, ficando de costas para que Maria pudesse assinar.
Maria assinou as duas camisas, exibindo por todo tempo um leve sorrisinho. Seu rosto corava a cada instante e ela se segurou para que não chorasse de alegria ali mesmo.
— Estamos muito felizes de podermos fazer parte do time também. – A garota confessou sorrindo. – Você e as outras meninas são um exemplo para todas nós.
— Vocês duas vão me fazer chorar. – Ma Duda afirmou sentindo-se grata e alegre por toda aquela situação. – Posso abraçar vocês duas?
— Claro! – Uma delas disse abrindo os braços e abraçando Ma Duda. Logo, a outra fez o mesmo.
Para Maria, era bonito ver como um simples time, havia virado em tão pouco tempo, uma bela irmandade.
***
Garfield roçou em seus pés, tentando chamar a atenção da dona. Foi preciso ele fazer aquilo três vezes para que a menina o pegasse e o colocasse no colo. José, que andava pulando, se aproximou e passou a mão com delicadeza nos pelos do bichano.— Maria, vamos brincar! – O garoto pediu com os olhos de jabuticaba brilhando.
— Na verdade, eu tenho uma ideia melhor. – A garota contou se levantando e deixando Garfield dorminhoco no sofá. – Pegue suas chuteiras, José. Porque nós vamos jogar bola.
— Eba!! – O garoto exclamou batendo palmas e pulando de alegria. Correu animado para seu quarto e Ma Duda para o seu.
Não deu dois minutos e José já estava parado no batente da porta de Maria. Chutava o chão, como se para fazer com que a irmã olhasse para seus pés e visse as lindinhas chuteiras que meses antes, Kiara havia comprado para ele.
— Já estou indo. – Ma Duda disse enquanto calçava o último pé.
— Maria. Onde que a gente vai jogar? – O garotinho perguntou.
— Lá no campo. A Victória está lá e me chamou para jogar.
— Se a Vick fosse um alien do Ben 10, ela seria o Chama. – Ma Duda começou a rir ao ouvir a comparação inesperada do menino.
— Acho que você está assistindo muito Ben 10. – Ela disse entre risadas, se levantando e bagunçando os cabelos do irmão. – Mas é. Ela com certeza seria o Chama. – Ele riu. – Agora vamos.
***
Victória estava sentada na grama verde do campo, segurando a bola de futebol quando Maria chegou.José apressou seus passos e correu na direção da ruiva, abrindo os braços magrelos e os envolvendo em um abraço apertado em Vick. Ela riu e retribuiu o carinho. Maria se aproximou e ela levantou-se para cumprimentar a amiga.
O céu acima delas estava nublado e uma brisa fresquinha passava, bagunçando os cabelos delas. O campo amplo, e quase vazio dava uma sensação boa, e Ma Duda pôde sentir uma nostalgia a bater forte em seu peito, ao lembrar-se do lindo jogo com os Caçadores.
— Você não vai acreditar o que me aconteceu hoje. – Maria afirmou.
Victória jogou a bola no chão, colocou o pé direito sobre ela e levantou a cabeça para encarar sua amiga.
— Me conta.
— Eu autografei duas camisas de duas garotas que irão jogar com a gente ano que vem.
— Que daora! – Victória exclamou com um sorriso de orelha a orelha. – Está famosa.
— Eu não estou famosa.
— Ela está famosa, não está, José? – Victória perguntou para o garotinho que sorriu com a brincadeira.
— Maria está famosa! – Ele cantarolou.
— Chega, vocês dois. Não vamos jogar? – Maria indagou roubando a bola do pé de Victória.
— Ei. – A ruiva resmungou.
— Maria é melhor que a Vick! – José continuou a falar cantando, arrancando risadas das garotas.
— Isso é mentira. – Victória reclamou, mas no rosto, abria um sorriso.
— Amo meu irmãozinho. – Maria abraçou o garoto, envolvendo seus braços e tirando os seus pequenos pés do chão. – E como sua irmã, eu digo que ele nunca mente.
Os três riram e continuaram assim por um bom tempo. Jogando e se divertindo com as pérolas do pequeno José. Victória poderia não ser do mesmo sangue que Maria, mas ela não tinha dúvidas de que ela era sua família também.
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Garotas Também Jogam Bola ✔
Novela Juvenil"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...