26 - Juntas na quadra, juntas na vida.

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- Ô Maria, brinca com a gente? - José perguntou, juntando as mãos em gesto de súplica para sua irmã.

Era o aniversário de cinco aninhos do garoto. E para comemorar, seus pais haviam realizado uma pequena festa em sua casa. Balões decoravam o local, deixando tudo mais colorido. Doces e salgados eram servidos nas mesas. E os gritos das crianças correndo para lá e para cá era a música da festa.

- Vocês querem brincar do quê? - Perguntou Ma Duda olhando cada um daqueles olhinhos esbugalhados das pequenas crianças.

- Esconde-Esconde. - Respondeu Alice, uma das priminhas pequenas de Maria e José.

- Então esconde-esconde será. - Virou-se para a parede, fechou os olhos e começou a contar até vinte, de uma maneira exageradamente devagar.

Assim que terminou, abriu os olhos e olhou em volta. As crianças não escondiam muito bem, então Maria fazia hora e fingia não as ver.

- Onde será que está o José? - A garota perguntou em voz alta, com a entonação dramática de contadores de histórias, mesmo sabendo que o pirralho se escondia debaixo da mesa. O garotinho soltou uma risadinha fofa e sincera. Maria poderia ouvir aquele som do menino por horas de tão bonito que era. Ela abaixou-se, encarando o pequenino.

- Você está aí! - Ela fingiu uma cara surpresa. - Te peguei!

O garoto sorriu, se levantou e abraçou Maria, deixando-se dar grandes risos alegres. Depois, foi "ajudando" Ma Duda a encontrar os outros pirralhos, que se escondiam atrás de cortinas, embaixo de móveis, e atrás de portas.

***


- Sabe o que eu estava lembrando hoje? - Ana Nicole perguntou com um leve ar de suspense.

- O quê? - Perguntou Maria.

- Raquel, - Ana a chamou. - Me lembro bem de ter visto o Tomás conversando com você lá em Estrela.

- É! Eu me lembro também! - Victória elevou a voz. - Já estão nas paqueras? - Perguntou dando leves cotoveladas na menina.

Raquel cruzou os braços e suspirou. Natália, que assistia a tudo calada, já sabia que aqueles gestos significavam que Raquel não queria falar sobre o assunto.

- O que foi que ele te falou? - Ana não podia negar, estava curiosa.

Raquel descruzou os braços e desviou o olhar, encarando uma das enormes estantes de livros. Elas não iriam desistir tão fácil daquela conversa, então respirou profundamente e disse:

- Ele me chamou para tomar um sorvete.

As garotas não disfarçaram o sorriso grande de animação por Raquel.

- E o que você disse?

- Não.

Os sorrisos murcharam no mesmo instante.

- Coitado do Tomás... - Vick lamentou. - Ele gosta de você, Raquel. Por que disse não?

- Porque... - Ela suspirou. - ... eu não quero um relacionamento, é isso. Eu não quero estar com alguém e depois viver que nem meus pais, eles brigam o tempo todo. Eles quebram as coisas. Eles estão tão ocupados nesse maldito relacionamento que nem se lembram que tiveram uma filha. Eu não tive pais, tive pessoas que me deram o que eu precisava para a minha sobrevivência, não para minha educação. Eles não brincaram comigo de boneca ou me ensinaram a jogar futebol. Eu só aprendi agora, porque eu mesma me incentivei a fazer. Meus pais não têm uma conversa longa comigo há muito tempo. Nunca conversaram sobre notas ruins ou drogas...Eu só não quero ser como eles.

Quando Raquel terminou, sentiu os ombros relaxarem por um tempo. Como se aquela carga que sentisse sobre suas costas durante tanto tempo tivesse ido embora.

- Raquel, eu sinto muito. - Maria disse apertando a mão da amiga. - Mas ir num encontro com o Tomás não significa estar em um relacionamento. E mesmo se um dia você estiver, nunca será como seus pais.

- Olha, o que você acha do Tomás? - Ana perguntou.

- Ele é legal.

- Como assim legal?

- Eu não sei, ele é bem diferente de mim, como vocês são. Tem todo aquele jeito meio desastrado. Mas ele não é chato como os outros.

- Olha, Raquelzinha. - Raquel fez uma careta. - O quê? Eu só estava tentado achar um apelido para você! - Ana Nicole disse dando uma curta risada, mas fazendo uma expressão séria em seguida. - Raquel, não importa se você vai no encontro com o Tomás ou não, o que importa é que você tem que saber que não é como seus pais. Você não vai cometer os mesmos erros que eles se não quiser. Você é você.

Raquel deu um sorriso para elas.

- Eu fui muito rude com ele, não fui?

- Foi. - Elas disseram em coro.

- Eu vou concertar isso.

As garotas ficaram em silêncio, por alguns segundos, só aproveitando da companhia umas das outras. Natália mexia nas mãos inquietas. A mente vagando por um lugar qualquer. As garotas tinham que admitir que estavam preocupadas com a loira. Depois do Jogo, Natália andava muito calada, o que era novidade.

- Eu quero fazer terapia. - Natália disse por fim, cortando aquele silêncio, como se adivinhasse que suas amigas estavam pensando nela.

As garotas ficaram caladas por um tempo, surpresas e sem saber ao certo o que dizer.

- Isso é ótimo, Nat.

- Você poderia me mandar o número da sua psicóloga, Vick?

- Claro! Ela é incrível.

Victória sorriu. Poderia não ser observadora que nem Natália, mas era boa em dar valor as coisas mais simples, que poucos notavam. Victória admirava cada uma de suas amigas. Admirava Raquel por sempre se importar com as pessoas, como quando Maria saiu das salas às pressas e aos choros, e Raquel, junto das outras, foi consolar Ma Duda. Admirava Ana por sua determinação, e pelo carinho que lhe mostrava, pelos abraços que a garota a dava quando ela se sentia indefesa. Admirava Maria por sempre estar ao seu lado e por ter participado do time, mesmo não gostando de esportes, só para apoia-la. E admirava Natália por sua coragem, que fez com que ela realizasse várias coisas, como agora, que teve coragem e sabedoria para entender que precisava buscar ajuda.

- Por que não fazemos nós todas? - Raquel sugeriu. Desde que havia se aberto com Nat no ônibus, havia ganhado essa vontade de conversar mais e se abrir mais. Um psicólogo não seria uma má ideia. - Acho que, no fundo, todas nós precisamos...

- Concordo. - Disse Maria com sua voz baixa e leve. - Vai fazer bem para a gente, e nós vamos fazer isso juntas.

- Também topo. - Ana disse abrindo um sorriso bonito.

- Ana não está teimando? Vai chover. - Raquel brincou.

- Eu posso falar sobre isso, não é? E tentar ser uma pessoa um pouquinho menos teimosa. - Ela sorriu. - Estamos nessa juntas, Natália. E vamos sempre estar.  

Eu amo uma amizade ❤

Oii gente! Queria pedir desculpas, era para eu ter postado o capítulo ontem, mas cabeça de vento que eu sou, acabei esquecendo.

Enfim, espero que gostem e me contem o que estão achando!

Estamos chegando na reta final de GTJB, faltam menos de 10 caps. Meu coração vai doer quando acabar aaa

Obrigada por ler. Um beijo e nos vemos semana que vem 🦋❤

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