28 - Perspectiva.

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Olhou o vestido mais uma vez. Ele era de um azul marinho, com flores rosas estampando as mangas. A saia era levemente rodada com algumas rendinhas de mesma cor. Segurou-o, o tecido era macio. Ficou alguns minutos encarando a vestimenta até decidir por fim, experimenta-la.

Ficou com os olhos fechados, de frente para o espelho por um tempo, com o vestido já em seu corpo. Estava com medo que qual seria a imagem refletida quando olhasse.

Respirou fundo. Abriu os olhos.

A boca da garota se abriu, e tão logo fez um sorriso. Fazia muito tempo que Maria não se via com um vestido, e por algum motivo, dessa vez, tinha gostado muito do resultado. As mãos seguraram a saia do vestido e a balançou. O sorriso no rosto dela se alargou e ela até deu uma voltinha de frente ao espelho.

Tinha que admitir que não ficava feliz olhando sua imagem assim, há um bom tempo. E tinha sentido muita falta desse sentimento.

***


A aula estava chata. Tediosamente chata. Fabíola tagarelava sobre a matéria sem nenhuma animação. Natália não estava entendendo nada. E sentia aos poucos seu ritmo cardíaco aumentar. As mãos tamborilavam sobre a mesa, e os pés se moviam de um lado para o outro.

O tic tac do relógio era como o som de fundo de uma aula muito desinteressante. Cansada e levemente ansiosa, Natália já estava cheia daquilo.

- Professora. - A loira levantou a mão direita que segurava a sua caneta bic azul. - Posso ir ao banheiro?

- Pode, Natália.

Sendo a maravilhosa estudante que era, ela não iria ao banheiro. E sim ficaria andando, como se tivesse todo o tempo do mundo, pelos corredores largos de Garcia.

Preguiçosamente, Nat andou até o refeitório. Aonde viu mechas azuis se balançarem de um lado para o outro. Ária estava sentada no banco enquanto bebia devagar a água em sua garrafinha.

- Ei, tudo bem? - Nat perguntou, sentando-se ao lado dela.

- Tudo sim. Matando aula apenas, e você?

- O mesmo. Qual professor?

- Giovanni. Já teve aula com ele?

- Não, mas ouvi dizer que ele não explica a matéria muito bem.

- E é verdade. - Ária assentiu. - E você? Com qual professor estava tendo aula?

- A Fabíola. - Natália respondeu e pôde ouvir um "ixi" de Ária. - Ela é um tédio.

- Tenho que concordar.

A loira ouviu o barulho de passos se aproximando e virou a cabeça para trás rapidamente, com medo de ser a diretora e levar uma advertência. Com sorte, era apenas a tia da cantina.

- Você quer ver um lugar? - Perguntou a loira, de repente.

- Claro. - A garota respondeu um pouco animada e se levantou. Nat fez o mesmo.

Ária viu quando a colega caminhou e conversou brevemente com a Dona Lia, uma das cozinheiras da escola. Assim que a conversa parecia terminada, Natália acenou para que Ária viesse em sua direção.

As duas entraram na cozinha, mas passaram por ela rapidamente entrando em uma porta pequena, no fim do local. A menina de cabelos pretos e mechas azuis, nunca havia entrado em tal lugar, nem sabia de sua existência.

O verde dominava aquele cenário, e já não mais existia um teto sobre elas. As plantas, as folhas. O cheiro delas invadiu as narinas da moça, e Ária até respirou mais fundo, absorvendo mais daqueles aromas naturais.

- Aqui é a horta da escola. Tem quase de tudo, tomate, couve, alface, enfim. As vezes elas me deixam dar uma olhada por aqui e ajudar a colher. É bem legal, mas por favor, não conte a diretora. - Nat e Ária andavam cuidadosamente pela horta. - De qualquer modo, não é isso que te quero mostrar. E sim, isso.

Nat balançou as mãos, em um gestual, para dar ênfase no lugar. Era quase como um "tcharam" só que sem dizer.

As árvores e as flores. Era quase como se estivessem em um outro ambiente, e não na escola. Tudo era tão lindo e delicado. Ária podia jurar que até conseguia escutar o canto dos pássaros ali. Rosas floriam o local, existiam várias delas, brancas, vermelhas, amarelas. Mais para frente havia um muro, separando a escola da rua. Ária se culpava por nunca ter conhecido aquele lugar antes.

- Aqui é muito bonito.

- É sim. Esse é como eu gosto de dizer, o jardim escondido da escola. Dali de cima... - Nat apontou para uma árvore. - Dá para ver a rua. - Ária sorriu. - Sente-se. - A garota pediu se referindo ao banco de madeira do local.

As duas se sentaram, lado a lado e observaram aquele pedacinho de natureza tão magnifico.

- Eles usam esse lugar para cultivar algumas plantas para o arranjo da escola. Ano passado, nós fizemos um piquenique aqui. Mas você ainda não estudava aqui, não é? - Nat disse e Ária assentiu.

Uns minutos de silêncio acompanharam as duas. Um silêncio calmo e nada desconfortável. Nat achava bom estar compartilhando algo que achava tão especial, com outro alguém.

- O que você pensa sobre a vida? - Ária perguntou depois daquela calmaria. Olhava para Nat, com uma curiosidade evidente.

- É uma pergunta difícil. - Nat admitiu. - Eu penso que a vida é um presente. Um presente bom, sabe, não um presente tipo meia de natal. - Ária riu. - E acho que devemos aproveitar e viver, com calma e paciência. Mas fazendo umas loucuras legais de vez em quando.

- Loucuras são boas.

- Loucuras são necessárias.

- Posso fazer uma loucura? - Ária perguntou.

- Claro que pode.

Ária se aproximou, devagar, do rosto de Nat, que continha um sorriso bonito e delicado, e beijou os lábios macios da loira, que retribuiu com desejo, colocando as mãos entre seus fios negros.

Segurou a cintura de Natália a puxando mais para perto. Sentiu o gosto da bala de morango que já não permanecia na boca da loira. As mãos de Ária continuaram a dançar pela cintura da garota, enquanto Natália brincava com os fios da menina e a puxava cada vez mais para perto.

A conexão que sentiam faziam com que quisessem mais e mais, e foi difícil para ambas se afastarem, mas quando fizeram, abriram um sorriso uma para a outra e encostaram suas testas. Combinando mentalmente que repetiriam a dose muitas outras vezes.  

•⚽•

Olá gente linda que eu amo.
Como vocês estão?

O que acharam do capítulo? Sua opinião é muito importante.

Eu gostei bastante de escreve-lo, confesso. Até o momento qual seu shipp favorito do livro?

Ah, e Ma Duda tá começando a valorizar seu corpo. E isso é algo muito importante. Se você tem problemas de baixa autoestima, assim como a Maria, saiba que você é linda/o, do jeitinho que você é. E não, não tô falando isso da boca para fora não. Mas é um percurso, você não vai ver as coisas de maneira diferente de um dia para o outro, leva um tiquinho de tempo. Então converse com alguém que confie, busque ajuda terapeuta, tudo é um percurso. Qualquer coisa, tô sempre aqui se vc quiser jogar uma conversa fora ;)

Enfim, falei demais ksksk nos vemos semana que vem! Beijão 💜

Garotas Também Jogam Bola ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora