- Esse aqui vai funcionar assim, alguém vai começar falando algo que nunca fez, se os outros já tiverem feito, vão comer essas balinhas finis aqui. - Disse Natália pegando uma embalagem das balinhas de gelatina e balançando-a de um lado para outro, para enfatizar. As garotas assentiram pegando uma fini cada uma. - Ah e só pra constar, não é pra ninguém julgar ninguém aqui, beleza? - Assentiram. - Então, eu começo. Eu nunca beijei um menino. - Victória e Ana comeram uma bala.
- Você nunca beijou ninguém não, Raquel? - Perguntou Ana.
- Não, tem algum problema com isso?
- Ei gente, sem confusão, por favor, e sem julgamentos. - Natália repreendeu-as. - Tua vez, Maria.
- Eu nunca zerei uma prova. - Raquel e Natália comeram uma fini.
- Minha vez. - Disse Ana. - Eu nunca aprendi a cozinhar mais que um ovo. - Todas comeram.
- Sério? - Perguntou Natália.
- Eu não gosto de cozinhar.
- Agora sou eu. - disse Victória. - Eu nunca me apaixonei. - Natália e Maria comeram. - Como assim você já se apaixonou e não contou para sua melhor amiga?! - Victória quase gritou se direcionando para Maria, indignada.
Maria apenas de ombros fazendo um sorriso amarelo.
- Você vai me contar quem é, né?
- Não...
- Ah, nem vem. Quero saber depois hein. Inclusive o cargo de melhor amiga da Victória está aberto novamente. - Dramatizou ela fazendo com que as garotas rissem e Maria apenas deu um tapa em seu ombro. - Agora é você, Raquel.
- Eu nunca ganhei um presente de papai Noel ou coelhinho da páscoa ou sei lá, alguma dessas coisas que as crianças ganhavam quando eram pequenas. - Todas comeram mais uma balinha e ficaram em silêncio. Algumas querendo bastante perguntar o porquê, mas desistindo logo em seguida por não terem certeza se Raquel responderia.
- Eu nunca mudei algo em mim fisicamente, ou tentei, por causa de opiniões alheias. - Disse Natália. Maria e Ana comeram.
- Eu nunca fugi de casa. - Maria disse.
Ana pegou mais uma bala de gelatina e comeu.
Já que não eram para julgar ninguém, preferiram ficar caladas.
- Sou eu de novo. - disse Ana depois de ter comido sua bala. - Eu nunca quis ser alguma pop star ou coisa do tipo. - Natália comeu uma bala.
- Eu era criança, tá? - Disse a loira sorrindo enquanto as meninas começavam a rir. - Tenho até um vídeo que fiz um dia cantando e dançando uma música da Lady Gaga. Meu Deus. Eu era uma maluquinha. - As garotas riram mais.
- Eu nunca fui uma pessoa calma. - Disse Victória. Todas as garotas comeram.
- Você já foi uma pessoa calma, Raquel? - indagou Ana Nicole.
- Não que seja da sua conta, mas em algum tempo atrás fui.
Um pouco mais de silêncio.
- Bom, minha vez. - Disse Raquel cortando aquele silêncio. - Eu nunca desabafei com alguém, desde que eu me lembre por gente.
- Isso é impossível.
- Nunca? - Indagou Natália e a garota de franjinha apenas assentiu. - E como você faz quando se sente sobrecarregada? Tipo, quando você explode de emoções?
- Eu medito.
- Mas você não sente falta de falar com alguém? - Perguntou Victória.
- Se eu responder essa pergunta eu estaria desabafando, e se eu desabafar eu vou ter que comer uma fini, então como eu sei que provavelmente todas vocês já desabafaram com alguém, comam logo suas gelatinas. - As garotas deram uma risada curta e em seguida comeram suas balas.
- Então quem comeu menos balas e, de acordo com o jogo venceu, foi a... - Natália fez uma pausa para dar um suspense. -... Raquel.
- Ah... Queria ter ganhado. - Maria fingiu decepção enquanto Raquel apenas sorria vitoriosa.
- Antes eu só queria falar mais uma. - disse Nat. - Eu nunca... Conheci garotas tão legais como vocês.
- AAAAAH. - Elas disseram em coro e abraçaram a loira, menos Raquel que preferiu não se intrometer naquela união ou seja lá o que aquilo fosse.
- Vem cá para o abraço também. - disse Natália a puxando e fazendo com que a garota adentrasse naquele abraço em conjunto.
***
Um pouco depois, as garotas comeram a famosa lasanha de panela da mãe de Natália, e uma por uma, foram indo embora.
Natália tirou os cadernos de cima de sua cama e deitou-se, encarando o teto, pensativa. Em um momento, a música A Song About Love, do Jake Bugg começou a tocar. Provavelmente era a mãe que ouvia enquanto dançava na cozinha.
Algum tempo atrás, Nat provavelmente riria daquilo e gravaria um vídeo da mãe dançando. Mas agora, aquela música só lhe dava um frio no estômago.
E então, sentiu uma dificuldade em respirar. O ar parecia que lhe faltava. Seus batimentos começaram a ficar desenfreados e parecia que a qualquer momento, seu coração sairia pela boca. Virou-se de costas para o teto e colocara a mão sobre o peito, como se aquilo pudesse a ajudar de alguma maneira. O coração batia cada vez mais rápido. Tentou respirar fundo e pegar o ar de volta, mas aquilo parecia cada vez mais difícil. Colocou as mãos no ouvido, como se para impedir que ouvisse algo, ou a si mesma.
A música continuava e Natália continuava a se contorcer na cama. Suas lágrimas desciam, sem nem ela perceber. O salgado delas invadia a boca.
A música parou, e o ar lhe voltou.
Aos poucos foi voltando ao normal, junto com seus batimentos. Respirou profundamente e depois de alguns minutos levantou-se da cama e pegou sua agenda vulgo diário vulgo tudo o que ela queria que fosse, e escreveu:
"Coisas para serem feitas:
1- Melhorar.
2- Excluir A Song About Love da playlist da mamãe."
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Garotas Também Jogam Bola ✔
Roman pour Adolescents"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...