9 - Balas fini.

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- Esse aqui vai funcionar assim, alguém vai começar falando algo que nunca fez, se os outros já tiverem feito, vão comer essas balinhas finis aqui. - Disse Natália pegando uma embalagem das balinhas de gelatina e balançando-a de um lado para outro, para enfatizar. As garotas assentiram pegando uma fini cada uma. - Ah e só pra constar, não é pra ninguém julgar ninguém aqui, beleza? - Assentiram. - Então, eu começo. Eu nunca beijei um menino. - Victória e Ana comeram uma bala.

- Você nunca beijou ninguém não, Raquel? - Perguntou Ana.

- Não, tem algum problema com isso?

- Ei gente, sem confusão, por favor, e sem julgamentos. - Natália repreendeu-as. - Tua vez, Maria.

- Eu nunca zerei uma prova. - Raquel e Natália comeram uma fini.

- Minha vez. - Disse Ana. - Eu nunca aprendi a cozinhar mais que um ovo. - Todas comeram.

- Sério? - Perguntou Natália.

- Eu não gosto de cozinhar.

- Agora sou eu. - disse Victória. - Eu nunca me apaixonei. - Natália e Maria comeram. - Como assim você já se apaixonou e não contou para sua melhor amiga?! - Victória quase gritou se direcionando para Maria, indignada.

Maria apenas de ombros fazendo um sorriso amarelo.

- Você vai me contar quem é, né?

- Não...

- Ah, nem vem. Quero saber depois hein. Inclusive o cargo de melhor amiga da Victória está aberto novamente. - Dramatizou ela fazendo com que as garotas rissem e Maria apenas deu um tapa em seu ombro. - Agora é você, Raquel.

- Eu nunca ganhei um presente de papai Noel ou coelhinho da páscoa ou sei lá, alguma dessas coisas que as crianças ganhavam quando eram pequenas. - Todas comeram mais uma balinha e ficaram em silêncio. Algumas querendo bastante perguntar o porquê, mas desistindo logo em seguida por não terem certeza se Raquel responderia.

- Eu nunca mudei algo em mim fisicamente, ou tentei, por causa de opiniões alheias. - Disse Natália. Maria e Ana comeram.

- Eu nunca fugi de casa. - Maria disse.

Ana pegou mais uma bala de gelatina e comeu.

Já que não eram para julgar ninguém, preferiram ficar caladas.

- Sou eu de novo. - disse Ana depois de ter comido sua bala. - Eu nunca quis ser alguma pop star ou coisa do tipo. - Natália comeu uma bala.

- Eu era criança, tá? - Disse a loira sorrindo enquanto as meninas começavam a rir. - Tenho até um vídeo que fiz um dia cantando e dançando uma música da Lady Gaga. Meu Deus. Eu era uma maluquinha. - As garotas riram mais.

- Eu nunca fui uma pessoa calma. - Disse Victória. Todas as garotas comeram.

- Você já foi uma pessoa calma, Raquel? - indagou Ana Nicole.

- Não que seja da sua conta, mas em algum tempo atrás fui.

Um pouco mais de silêncio.

- Bom, minha vez. - Disse Raquel cortando aquele silêncio. - Eu nunca desabafei com alguém, desde que eu me lembre por gente.

- Isso é impossível.

- Nunca? - Indagou Natália e a garota de franjinha apenas assentiu. - E como você faz quando se sente sobrecarregada? Tipo, quando você explode de emoções?

- Eu medito.

- Mas você não sente falta de falar com alguém? - Perguntou Victória.

- Se eu responder essa pergunta eu estaria desabafando, e se eu desabafar eu vou ter que comer uma fini, então como eu sei que provavelmente todas vocês já desabafaram com alguém, comam logo suas gelatinas. - As garotas deram uma risada curta e em seguida comeram suas balas.

- Então quem comeu menos balas e, de acordo com o jogo venceu, foi a... - Natália fez uma pausa para dar um suspense. -... Raquel.

- Ah... Queria ter ganhado. - Maria fingiu decepção enquanto Raquel apenas sorria vitoriosa.

- Antes eu só queria falar mais uma. - disse Nat. - Eu nunca... Conheci garotas tão legais como vocês.

- AAAAAH. - Elas disseram em coro e abraçaram a loira, menos Raquel que preferiu não se intrometer naquela união ou seja lá o que aquilo fosse.

- Vem cá para o abraço também. - disse Natália a puxando e fazendo com que a garota adentrasse naquele abraço em conjunto.

***

Um pouco depois, as garotas comeram a famosa lasanha de panela da mãe de Natália, e uma por uma, foram indo embora.

Natália tirou os cadernos de cima de sua cama e deitou-se, encarando o teto, pensativa. Em um momento, a música A Song About Love, do Jake Bugg começou a tocar. Provavelmente era a mãe que ouvia enquanto dançava na cozinha.

Algum tempo atrás, Nat provavelmente riria daquilo e gravaria um vídeo da mãe dançando. Mas agora, aquela música só lhe dava um frio no estômago.

E então, sentiu uma dificuldade em respirar. O ar parecia que lhe faltava. Seus batimentos começaram a ficar desenfreados e parecia que a qualquer momento, seu coração sairia pela boca. Virou-se de costas para o teto e colocara a mão sobre o peito, como se aquilo pudesse a ajudar de alguma maneira. O coração batia cada vez mais rápido. Tentou respirar fundo e pegar o ar de volta, mas aquilo parecia cada vez mais difícil. Colocou as mãos no ouvido, como se para impedir que ouvisse algo, ou a si mesma.

A música continuava e Natália continuava a se contorcer na cama. Suas lágrimas desciam, sem nem ela perceber. O salgado delas invadia a boca.

A música parou, e o ar lhe voltou.

Aos poucos foi voltando ao normal, junto com seus batimentos. Respirou profundamente e depois de alguns minutos levantou-se da cama e pegou sua agenda vulgo diário vulgo tudo o que ela queria que fosse, e escreveu:

"Coisas para serem feitas:

1- Melhorar.

2- Excluir A Song About Love da playlist da mamãe."

Garotas Também Jogam Bola ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora