- Eu aqui! Passa pra mim! - Victória gritou pela milésima vez, mas novamente foi ignorada por Bruno, que resolveu passar a bola para o Davi. - Vai te catar. - murmurou.
O jogo finalizou com o apito da professora de educação física. Victória respirou fundo e passou a mão sobre a testa suada, que sinceramente não estava tão suada assim, já que mal jogou com nenhum de seus colegas de time passando a bola para ela.
A garota já havia desistido de tentar ir em busca da bola há um tempo, quando um dos garotos, que mais parecia um brutamonte, deu um empurrão nela e a fez cair. Tudo bem, ela tinha que confessar que havia um ou outro que, por vezes, passavam a bola para ela, como Vicente, ou Tomás, eles eram caras legais. Porém, Vicente nem sempre participava das aulas, e Tomás, bom, Tomás não era um dos melhores no futebol, e quase nunca tinha a chance com a bola também.
O time da escola Garcia, denominado Caçadores, (time esse que, nos campeonatos, consistia apenas por garotos) não poderia ser considerado um time nas visões de Victória. Os jogadores mais pareciam adversários do que companheiros. Eles eram divididos por ela da seguinte maneira:
Os fominhas: aqueles que não passavam a bola para ninguém, se faziam de melhores jogadores e sempre queriam ser aqueles que faziam o gol.
Os cavalos: esses eram os piores. Eles não olhavam pra você, passavam por qualquer um que estivesse no seu caminho e se alguém se machucava, colocavam a culpa nos outros ao invés deles mesmos.
Os bons-sem-destaque: esses o próprio nome diz, eles eram os melhores, mas quem os enxergavam? Praticamente ninguém, pois estavam muito entretidos com os covers do Neymar para darem créditos a esses.
E Os excluídos: que por algum motivo eram excluídos, seja por não serem tão bons, serem esquisitos, ou bom, serem mulheres. E Victória e Ana Nicole, outra garota que também gostava de jogar, se encaixavam nesse grupo.
Respirou fundo, contou até dez. Esses eram um dos exercícios que aprendera com sua psicóloga Carmen. Ajudava a acalmar. Enquanto, bem lentamente, caminhava para fora da quadra, viu sua amiga Maria Eduarda descer da arquibancada e se direcionar para ela com um sorriso que dizia "Você fez o melhor que pôde". Victória revirou os olhos.
- Não sei como ainda joga com eles. - A garota bochechuda disse depois de alguns segundos.
- Sinceramente, tem dias que nem eu sei. - Confessou, enquanto caminhava lado a lado com Ma Duda, apelido esse que ela dera para a amiga. - Mas, eu gosto de jogar, só queria que eles começassem a perceber minha existência dentro do jogo.
Victória entrou no banheiro feminino, acompanhada de Maria, e encarou o espelho enorme do local, ajustando o cabelo vermelho pintado e ondulado que estava preso em um rabo de cavalo. Quando o cabelo ainda estava com sua cor natural, um castanho escuro, ele costumava ter uns cachinhos nas pontas.
Abriu a torneira e molhou o rosto de pele escura, herdado de seus pais, que tinha tanto orgulho. Entrou na cabine do banheiro deixando Maria Eduarda com seu próprio reflexo no espelho. Maria tinha uma bochecha saliente, uma pele bronzeada, um cabelo castanho claro e ondulado, e seu corpo estava acima do peso. Nem sempre a garota gostava da imagem que via. Às vezes, nos dias melhores, até conseguia dar uma voltinha com um sorriso estampado no rosto na frente do espelho. Mas em outros, só evitava ao máximo seu reflexo.
Hoje, ela forçou um sorriso para si.
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A sala estava a mais barulhenta possível, já que era o horário da Alice. Pobre Alice. Victória pensava. Ela era o tipo de professora que não tinha controle nenhum sobre a sala de aula, apesar de saber ensinar muito bem. Às vezes a garota de cabelos de fogo, pensava em perguntar a ela por que ela tentou tal profissão. Victória com toda certeza nunca teria paciência suficiente para ver bolinhas de papel cuspidas serem arremessadas na direção de outros colegas. Deus que me livre.
Enquanto Vick tentava ao máximo prestar atenção na atividade, mesmo com toda barulheira, Maria Eduarda estava quieta, desenhando alguma coisa no papel. Ela não era de desenhar, nem sabia muito bem, mas tinha um trabalho em que os alunos iram expor desenhos simbólicos para a próxima semana, desenhos que poderiam ser interpretados de várias maneiras, mas que tinham algum significado para o autor, e ela estava treinando.
Quando finalmente chegou em casa e Victória sentiu a maciez da sua cama sob seu corpo ela deixou-se relaxar por alguns segundos. Mas logo se levantou. Seu pai havia acabado de finalizar o almoço e eles começaram a pegar os pratos e os enche-los. Era apenas feijão, arroz, bife acebolado e uma salada de alface, mas nossa! A comida de seu pai não tinha igual, poderia ser a comida mais simples do mundo, mas tinha um sabor tão bom quanto a mais chique. Diferente da mãe que não cozinhava nada, talvez no máximo fritar um ovo. Mas a ruiva tinha certeza que se a mãe assistisse um vídeo no YouTube, aprenderia.
Assim que a garota se serviu, se direcionou à sala, acompanhada de seus pais e se sentou no sofá preto. A família de Victória não tinha o costume de comer na Copa, igual muitos que ela conhecia. Mas sim na sala, o melhor lugar da casa na opinião dela.
A televisão estava ligada em algum canal de esportes, em que eles comentavam os últimos Jogos, placares, entre essas coisas.
- E o time de futebol feminino teve um grande destaque no último sábado...
A partir daí o apresentador começou a falar mais, porém o que Victória ouviu foi apenas "O time de futebol feminino".
Era isso! Victória tinha que criar um time feminino!
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Olá! O que acharam desse primeiro capítulo?
Sua opinião é muito importante para mim ❤
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Garotas Também Jogam Bola ✔
Genç Kurgu"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...