34 - O passe de bola.

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Bateu na porta de madeira suavemente e a abriu, adentrando a sala de aula. A mão esquerda segurava com delicadeza a folha de papel, desejando não a amassar.

- Oi, Maria! Achei que já tivesse ido. - Disse Sabrina ao ver sua aluna entrar na sala. A mulher arrumava suas coisas na mesa, se preparando para ir embora. Maria encarou o corredor por um segundo, vendo seus colegas de turma saírem às pressas da escola.

- Ah, não. É que aconteceu que eu nunca te entreguei aquele trabalho, dos desenhos simbólicos, Professora. Então eu fiz outro.

- É esse? - Perguntou apontando para o papel que Ma Duda segurava nas mãos.

- É sim. - Ma Duda assentiu. Colocou o papel dobrado em cima da mesa da professora e segurou a alça da mochila. - Está aí. Eu já vou indo. Só queria entregar mesmo. Tchau, Sabrina! - A adolescente acenou e então caminhou em direção a porta.

- Até mais, querida. - Despediu-se a mulher com um sorriso acolhedor.

Sabrina encostou as mãos no papel e o segurou. Deixou sua bolsa, já arrumada sobre sua mesa e abriu a folha. O desenho era colorido e delicado, carregado de cores vivas e fortes. A primeira coisa que a professora notou na arte eram os desenhos de potes de vidros abertos, que deles saíam cores. Essas cores se juntavam e formavam, no fim do desenho, um lindo arco-íris.

O engraçado para Sabrina, era que aquele arco-íris não continha sete cores, mas na verdade, apenas cinco, e elas não eram necessariamente as cores reais que se tem no arco-íris. As cinco cores eram, na ordem que apareciam nos potes, vermelho, laranja, azul, rosa, que não se tem no arco-íris, e amarelo.

A professora não sabia o que aquilo significava para Ma Duda, mas não tinha dúvidas de que o desenho carregava um significado muito especial e bonito para ela, que transmitiu aquilo em seus traços de maneira tão espetacular, que deixou na mulher, a sensação de seu coração se aquecer.

***


As dez meninas caminharam em direção ao portão grande de ferro da escola, e entraram, para mais um treino. Conversavam entre si com animação e alegria, até chegarem na quadra e a verem lotada de meninas. Estranharam aquilo, se perguntando se Patrícia tinha mudado o dia do treino e não a avisaram.

- Que tanto de gente é essa? - Perguntou Thalita jogando sua mochila em um canto e caminhando em direção a professora.

- Elas viram vocês ganharem dos Caçadores e se animaram para participar. Elas são do time agora. São Guerreiras. - Pronunciou a professora.

Victória não conseguiu se conter e acabou soltando um grito de felicidade. Tinham mais de quinze garotas ali, garotas de vários jeitos e idades. Garotas que se sentiram inspiradas com as dez Guerreiras. Victória sentiu-se realizada. Sentiu que havia cumprido seu papel de dar exemplo. Sentiu-se animada.

Cada batalha, cada dificuldade e luta até conseguirem as dez jogadoras, cada treino, tudo aquilo havia valido a pena. Ela queria um time, mas ganhou amigas, irmãs! Seu sorriso abriu-se de orelha a orelha.

Maria sorriu também, e deixou seus olhos derramarem algumas lágrimas. Quem diria que, participar de um time, iria a proporcionar tantas felicidades.

Raquel sorriu, e Ana podia jurar que viu os olhos da garota brilharem por algum tempo. Ela olhou para cima e disse bem baixinho um "obrigada", agradecendo por tudo que as fizeram chegar até ali.

Ana abraçou Natália de lado, e deixou-se soltar uma risada curta e baixa de felicidade misturada com surpresa e pensou nos primos, e nos dias que ela jogava futebol com eles e ralava o joelho.

Natália escorou sua cabeça no ombro de Ana e prometeu a si mesma que tentaria sempre fazer algo novo.

- Sejam bem vindas! - Disse Victória por fim com entusiasmo.

***

Vicente caminhou até a porta de sua casa ao ouvir o som da campainha.

- Oi, Ana. - Sorriu ao ver a alta parada do lado de fora.

- Eu te acho um baita gato.

- O quê?! - O garoto pareceu confuso, achando que tinha escutado errado.

- Eu te acho um gato. - Ela repetiu, com tanta naturalidade que parecia estranho. - E acho isso desde que eu te conheci, mas isso foi ficando mais forte com o tempo, eu só não conseguia admitir. E você sabe como eu sou, orgulhosa e teimosa. Foi muito difícil para eu ter coragem de falar isso agora, mas eu estou tentando deixar meu orgulho de lado e fazer algumas coisas que eu teria feito caso não fosse isso. Então, é. Eu acho que você é um garoto muito bonito.

Vicente deixou-se exibir um sorriso charmoso ao ouvir Ana. Gostava de como sua amiga era imprevisível e admirava como ela tinha amadurecido ao passar dos anos. Tinha conhecido Nicole dois anos antes, quando ela tinha acabado de se mudar para Beija-Flor, logo a alta tinha se enturmado com as pessoas e com ele. Desde então eles eram amigos, companheiros, confidentes. Trocavam brincadeiras, implicâncias, segredos e conversas. Vicente gostava do som da voz de Ana.

- Você está se declarando para mim? - Ele perguntou com um sorriso divertido no rosto.

- Não! Você está doido, Vicente?! - A voz de Ana se embolou e seu tom ficou um pouco mais alto, o que motivou o garoto a dar uma bela risada. - Aí você está querendo demais. - Ela riu também.

Os dois trocaram olhares encantados e cúmplices, e sorrisos bobos, em silêncio, um para outro por algum tempo, até Vicente abrir mais a porta e olhar para ela.

- Você quer entrar?

- Claro. - Ela disse formando um meio sorriso e caminhando em direção a porta.

- E só para constar... - Disse Vicente dando espaço para que a alta entrasse em sua casa. - Eu te acho uma baita gata, Ana.

***


- Se vocês pudessem ter um poder, qual seria? - Perguntou Natália enquanto caminhava lado a lado com suas amigas.

- Voar! - Disse Maria. - Imagina o quão bom deve ser.

- Teletransporte, sem dúvidas. - Foi a vez de Raquel. - Quando o papo estiver chato com alguém, é plim, e eu estou em Roma. - As garotas riram.

- Super velocidade. - Ana respondeu.

- Eu acho que eu gostaria de controlar algum elemento, sabe. - Respondeu Victória. - Tipo o fogo, ou o ar. Mas nem sei para que eles serviriam fora de uma batalha, só acho legal.

- Eu gostaria de ter telecinese. - Natália disse. - Sabe quando o controle está muito longe, e você não quer ter que sair do sofá? - Ela riu. - Tipo isso.

As garotas continuaram caminhando e conversando sobre assuntos aleatórios. O sol iluminava aquele dia com vigor, as folhas das árvores eram verdinhas e davam nelas uma plena sensação de paz, enquanto andavam vagarosamente por Beija-Flor.

Pensaram sobre como aquele ano tinha sido para elas, carregado de emoções conturbadas e controvérsias, um misto de alegria e tristeza, desespero e animação. Mas num futuro, quando fossem falar sobre esse ano, não lembrariam das coisas ruins, e o chamariam de "o ano que nos tornamos amigas".

Quando passaram na calçada, do lado do campo bonito de futebol, ouviram alguém as chamarem.

- Ei, garotas! Querem se juntar a nós? - Perguntou um dos rapazes que jogava o futebol com seus amigos.

As garotas sorriram com o convite do colega e aceitaram, entrando no campo, para jogarem junto deles. Agora, finalmente recebendo passes, e se divertindo. Era boa a sensação deles querendo que elas fizessem parte do jogo também.

Enfim, tinham conquistado seu espaço.  

•⚽•

Enfim, concluí essa história ;)

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