A pequena criança colocou seu capacete roxo e subiu em sua bicicleta. Rodou o pedal e tentou manter-se equilibrada, mesmo que por apenas dois segundos.
Acabou indo de encontro ao chão, junto com sua bicicleta. Ainda assim, fez questão de se levantar, mesmo com seus braços e pernas ardendo pelos arranhados, e não chorou. Levantou a bicicleta e tentou mais uma vez, agora conseguindo se manter equilibrada por uns três segundos.
— Oi, você quer ajuda? – Uma garota de cabelos castanhos claros apareceu em sua frente. Deveria ter uns doze anos, sendo seis anos mais velha que a pequena Raquel.
— Não preciso. – A pequena disse levantando sua bicicleta de novo e arrumando seu capacete. Reconhecia a garota como sendo sua vizinha da frente. Via ela de vez em quando pelas ruas.
— Todo mundo precisa de ajuda de vez em quando. – A menina respondeu, com um sorriso gentil e acolhedor. Ela era bonita e tinha algumas sardinhas ao redor das bochechas, seu sorriso era largo e em seus dentes um bonito aparelho amarelo. – Onde estão seus pais?
Por um instante, Raquel voltou seu olhar para sua grande e bonita casa, do outro lado da rua, e sua feição entristeceu-se.
— Mamãe está quebrando copos na parede e papai está gritando com ela. Então eu vim aqui para fora. Não gosto de ficar lá quando eles estão assim.
— Ah, não fique tristinha não. – A menina respondeu passando a mão, delicadamente, nos fios negros da pequena. – Olha, eu vou te ajudar segurando sua bicicleta enquanto você vai pedalando. Prometo não te soltar.
— Sua mãe te deixa mentir desse jeito? – Raquel perguntou subindo em sua bicicleta. – Eu não caio nessa de que você não vai me soltar. Claro que vai. Você vai me segurar até que eu tenha equilíbrio e depois vai me soltar para que eu continue pedalando sozinha sem perceber. Eu vi isso nos filmes. Mas eu não me importo. Pode me soltar quando eu pegar o jeito.
A garota riu com a fala de Raquel e segurou a bicicleta dela.
— Você é espertinha, sabia?
— É, eu sei. – Ela respondeu rendendo mais risadas da vizinha.
***
Raquel não sabia o porquê daquelas memórias estarem invadindo sua mente naquele dia. Era sempre estranho para ela pensar sobre sua infância, porque sempre tinha um pingo de melancolia em cada imagem. Ainda assim, tinha que admitir que haviam pessoas que a ajudaram a dando um pedaço de felicidade, como Fran, a menina que a ajudou a andar de bicicleta. Depois daquele dia, as duas, vez ou outra, brincavam juntas na rua. Mas perderam o contato quando Fran e seus pais se mudaram dali.Raquel abriu a porta de sua casa vendo seus pais abraçados sentados na sala assistindo algum seriado qualquer. Naquelas raras ocasiões que os dois não estavam se matando, eles até pareciam um casal feliz.
A adolescente já estava indo para seu quarto quando ouviu os dois a chamarem.
— O que é? – Perguntou, lhe faltando animação.
— Nós estávamos esperando você chegar para podermos conversar.
— Conversar? – Raquel indagou, surpresa.
— É... Venha cá. – Kaique a chamou e a garota, hesitante, se aproximou, sentando-se em uma poltrona e ficando de frente para eles. Rebecca desligou a televisão e olhou no fundo dos olhos da garota. Raquel não conseguiu manter aquela aproximação e desviou o olhar, tentando buscar em sua memória a última vez que seus pais a olharam nos olhos daquele jeito.
![](https://img.wattpad.com/cover/218825496-288-k164801.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Garotas Também Jogam Bola ✔
Teen Fiction"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...