Seus pés começaram a ficar bambos e Natália deixou-se ceder ao chão. Tentava se manter acordada e respirar fundo. Mas não era fácil. Suava frio. Sentia-se tão incapaz e frágil. Sentia que não controlava nada, mas tudo a controlava. Sentia-se a marionete da própria vida, ligada a cordas que comandavam o desfecho da sua peça teatral.
Assim que os olhos de Patrícia viram Natália respirando ofegante no chão, com os olhos fixos nas suas mãos que tremiam incessantemente, a mulher correu às pressas para ampará-la. Colocou seus braços ao redor dos ombros da menina e a ajudou a se levantar.
- Natália, - Sua voz preocupada foi ouvida pela garota. - Venha, sente-se aqui. - Patrícia a guiou, devagar, para os bancos.
- Não... Eu... preciso... jogar. - A loira falava pausadamente e sua voz saía fraca. Sua visão estava embaçada e ela não tinha firmeza nos pés.
- Não. Natália. Você precisa respirar fundo e se sentar aí. Vou chamar um médico. - A garota se rendeu, e sentou-se. - Laís, você vai entrar no lugar da Juliana.
- Ela vai ficar bem? - Laís perguntou com os olhos lacrimejando, por mais que não conhecesse Nat tão bem, tinha já um grande apego e admiração a loira, e vê-la assim era de partir o coração.
- Vai, Laís! Eu... vou ficar bem... - Foi usando todas as forças que ainda lhe restava que Nat conseguiu dizer, e fazer com que Laís entrasse naquelas quadras, determinada a dar o seu melhor. - Eu vou ficar bem. - Disse para si mesma.
***
Os cabelos cacheados moviam-se para lá e para cá todas as vezes em que ele se levantava para torcer para o time de blusa vermelha. Ele sabia que era para torcer para Constelação, já que era o time de sua cidade, e sabia que Roberta havia treinado dia e noite, e ficaria certamente magoada por seu amigo não torcer para seu time. Mas ele não conseguia. Assim que identificou aquele jeitinho fofo, se mergulhou naquela torcida, que parecia muito mais animada e divertida do que a de Estrela.Ele viu quando Maria foi empurrada e caiu ao chão. E viu também, quando alguns médicos apareceram, no lugar que as reservas das garotas de Beija-Flor ficavam. Todo o clima animado da torcida parecia ter se transformado rapidamente numa onda de desentendimento e preocupação. As garotas que jogavam também pareciam ter ficado sem jeito e toda a alegria e euforia deu lugar para uma nuvem fina de ansiedade e medo.
Quando o primeiro tempo acabou, o rapaz negro de cabelos cacheados bem definidos já estava calado há um bom tempo. Vicente encarou o garoto, com um semblante levemente desconfiado. O garoto não era de Beija-Flor, não da escola Garcia ao menos. Então estranhou o fato dele estar torcendo fielmente para As Guerreiras.
- Ei, cara. Beleza? - Vicente se aproximou. O garoto levantou as sobrancelhas, um pouco surpreso e deu um meio sorriso, deixando-se distrair um pouco daquela tensão.
- E aí?
- Você é daqui?
- Sim, de Estrela desde que nasci.
- Eu sou Vicente. - O loiro estendeu a mão para o rapaz.
- Meu nome é Ezequiel.
***
Todas as nove garotas estavam envoltas de Natália, a fazendo companhia durante aqueles minutos de intervalo. Depois de algumas perguntas preocupadas, as garotas estavam apenas caladas naquele momento. As quatro amigas abraçavam Natália, que pareceu não se incomodar delas estarem todas suadas. As demais, estavam apenas ali, tentando passar para a garota, algum tipo de energia positiva e compreensão.Patrícia avisou para as garotas se levantarem e voltarem para a quadra. As que estavam de reserva, continuaram do lado da loira, lhe dando a sensação de conforto que fazia seu coração, aos poucos, bater mais calmo.
As garotas haviam trocado o lado da quadra e Constelação fez o primeiro movimento. Uma das garotas passou a bola para a menina que havia trombado em Ma Duda, que depois descobriram se chamar Olívia.
Olívia levou o objeto circular para frente, avançando. Victória não perdeu tempo e correu para cerca-la. Sentia raiva. Uma raiva que a impulsionou para tirar a bola da menina inconveniente e correr para o lado oposto.
Viu Ana Nicole entrando na quadra, trocando de lugar com Ária. Ana Nicole era boa e rápida, tinha muita experiência com o futebol e Victória não duvidava de sua capacidade. Quando viu que a garota estava preparada, a cabelos de fogo passou a bola para ela, que recebeu e deu um chute com o bico da chuteira em direção ao gol.
Tudo pareceu ficar em câmera lenta para todos. Alguns esperando com ansiedade o gol, e outros torcendo para que não passasse nem perto.
O grito animado e eufórico da torcida de Beija-Flor se fez estridente quando a bola entrou e bateu-se nas redes. GOOOOL!! Eles gritavam. O som caloroso era um pedaço de alegria no meio de tanto caos.
- Beija-Flor! Beija-Flor! Beija-Flor! - A torcida, de pé, gritava bem alto o nome da cidade.
As garotas se abraçavam e comemoravam, e Nicole até arriscou uma dancinha contente arrancando risadas de suas colegas, inclusive de Natália que assistia a tudo nos bancos.
Quando Victória cruzou os olhos com uma das jogadoras de Constelação, enquanto abraçava suas amigas, viu algo nos olhos dela que não sabia ao certo como descrever. Seus olhos pareciam tão profundos e carregados de um ódio que não parecia ser apenas por causa de um gol. Sentiu calafrios por todo seu corpo e o sorriso que antes a decorava, morreu no mesmo instante. Sentiu algo parecido com um mal pressentimento.
A bola voltou a rolar, e Victória resolveu se esquecer daquele olhar. Constelação parecia que não iria deixar aquilo barato e uma das garotas guiou a bola rapidamente, driblando todas que passavam por seu caminho.
Maria conseguiu tirar a bola da garota depois que ela foi cercada e passar para Laís, mas antes que encostasse nos pés da companheira, uma das jogadoras de Constelação chegou primeiro pegando a bola de volta para si.
A menina correu e chutou a bola fazendo um, até bonito, gol de letra.
E o placar era de 1x1.
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Garotas Também Jogam Bola ✔
Teen Fiction"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...