17 - As Guerreiras.

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Ana Nicole não estava conversando muito com a mãe, desde tudo aquilo. Mesmo que, por alguns segundos, ainda pensasse que ela que era a errada. Que mal tinha a mãe namorar? Porém aquele pensamento durava apenas dois segundos, e logo, ela era a Ana de sempre. Que achava tudo uma injustiça.

Não tinha visto o... (Ela poderia chamar Pablo de padrasto agora?) namorado de sua mãe mais. Mas as vezes, tinha que aturar o nome dele ser mencionado enquanto comiam alguma coisa. O que dava em Ana Nicole total falta de apetite.

Agora, a garota teimosa fingia estar dormindo para não ter que falar com Sandra. Que grande dia aquele estava sendo.

Mais tarde, teve de encontrar com seu lindo grupo de trabalho. Que claramente era uma ironia o "lindo". Aquele grupo era o pior, de acordo com Nicole. Se resumia em pessoas que não faziam nada na sala de aula, e outra aluna que tinha faltado no dia da escolha do grupo, igual a alta.

Basicamente, teria de fazer tudo por conta própria.

***


Natália suspirou, contou até dez, algo que tinha aprendido com Vick, e bateu na porta, apreensiva.

A garota de cabelos castanhos abriu a porta, e assim que viu quem era, abriu a boca em surpresa. Fazia algum tempo que Amanda não via Natália por ali.

- Oi, Amanda. - Natália disse.

- Oi, Nat. Vem, entra! - A loira se surpreendeu com o modo que Amanda parecia, tão natural. Como se fossem os velhos tempos. Por um momento Natália hesitou e achou melhor desistir do que queria fazer e somente aproveitar da companhia da amiga. Porém sabia que não poderia adiar mais aquela conversa, portanto começou a dizer assim que as duas entraram no quarto de Amanda.

- Nós podemos conversar?

- Sim, Natália. Claro. O que quer falar?

- Eu quero pedir para você esquecer o que eu disse aquela vez. Eu não deveria ter dito, não ia mudar nada de qualquer forma... Nós podemos voltar ao que éramos antes?

- Ei, - Amanda começou, encostando a mão no pulso da loira, o que fez com que Natália se arrepiasse e quase se desviasse daquele toque. - Me desculpa, me desculpa se eu falei algo errado, ou se eu fiz algo errado com você. Me desculpa se eu me afastei de você, sei que andamos menos próximas ultimamente. É tudo minha culpa.

- Não, Amanda. A culpa foi minha de ter me apaixonado pela minha melhor amiga heterossexual.

Natália deu um sorriso sem graça, e Amanda deu um sorriso de compreensão.

A loira se lembrava bem de quando confessou seus sentimentos para a amiga. Se lembrava delas estarem sentadas sobre o sofá vermelho da casa de Amanda. Se lembrava de estarem envoltas em um cobertor azul, pois estava frio. Se lembrava de estarem tagarelando, e se lembrava de A Song About Love tocando de fundo como para dar mais drama à toda aquela novela mexicana.

- Enfim, eu só queria saber se podemos continuar como antes...

- Claro que sim, Natália. - Amanda sorriu, se levantou e deu um abraço apertado. - Não era isso que tínhamos dito quando éramos mais novas, amigas para a vida toda?

- É... Amigas para a vida toda.

***


Victória balançava as pernas para lá e para cá enquanto conversava com as amigas. O treino do dia havia terminado e agora estavam sentadas na praça, que era quase ao lado da escola, falando sobre coisas fúteis. Todas estavam com o uniforme vermelho da escola, shorts pretos e chuteiras nos pés.

Os respingos de suor ainda caíam sobre as testas molhadas. Os cabelos, mais pareciam encharcados, e o alívio era nítido quando o vento passava calmo sobre seus rostos.

- Ah lá! - Alguém gritou do outro lado da rua. - São as Maria-homem!

A cabeça de Victória levantou-se instantaneamente, e seus olhos cravaram como flechas na brasa nos dois meninos que estavam na calçada. Eles pareciam um pouco mais novos que ela, provavelmente eram do primeiro ano. Seus sorrisos debochados só serviam para alimentar o fogo que era Victória.

Não sentia raiva.

Sentia ódio.

Victória levantou tão depressa do banco quanto o Flash, mas antes que pudesse fazer algo, Maria lhe segurou o pulso.

- Deixa para lá.

- Ignora. - Foi a vez de Ana se pronunciar.

Ignorar? Victória não sabia ignorar. Ela largou a mão de Maria e caminhou em passos rápidos e ásperos em direção aos tais. Eles pararam como se para provar que não tinham medo da garota, cruzando os braços e estufando o peito.

- E lá vai nossa Guerreira. - Disse Raquel.

- É isso! - Ana Nicole exclamou sorridente.

- O quê?

Enquanto Ana Nicole falava algo para as garotas, Victória já estava atravessando a rua e chegando mais próxima dos rapazes. Ela sentia seus batimentos acelerados e suas mãos se fechando em punho e abrindo, e fechando... Sentia uma raiva tão grande a consumir que pensou por um segundo que desmaiaria ali mesmo, na rua.

Assim que Victória chegou próxima o bastante, as outras garotas correram em direção a amiga, com medo do que pudesse acontecer.

- Por que nos chamaram de Maria-homem? - Victória se aproximou de um dos garotos, aquele que havia gritado tal coisa. Havia se aproximado tão perto dele, que pôde sentir ele prender o ar. - Só por que jogamos futebol? - Victória gritava. - Pelo que eu saiba esse esporte não é unicamente masculino! E mesmo que sim, jogassemos um jogo masculino, ou vestíssemos roupas masculinas, o que não é o caso, O que você teria contra isso?!

- Você fala muito, não é? - Natália começou se direcionando também ao garoto. - Acha que é o maioral, mas não sabe nem o que respeito significa, ou sabe? - Os dois ainda continuavam calados, talvez sem saber ao certo o que dizer, ou fazer.

Raquel teve uma imensa vontade de dar um soco nos dois, mas vendo quanto Vick se afetava com aquilo, pensou que só iria piorar as coisas.

Os garotos deram alguns passos para trás, se afastando e foram embora dali.

Assim que perderam eles de vista, Ana Nicole caminhou para o lado de Victória e abraçou a garota, que parecia que iria quebrar alguma coisa a qualquer momento. De primeiro instante ela pensou que a ruiva a afastaria, empurraria, ou até mesmo a bateria, mas Vick apenas retribuiu o abraço mais forte enquanto derramava lágrimas. Não era fácil bancar a durona sempre, não era fácil ser humilhada sempre. Ela estava tão exausta.

- Olha, ruiva, pelo lado bom... - Elas se afastaram, mas Ana ainda continuava com sua mão no ombro da amiga. - Agora já temos um nome para o time. Pode nos chamar de "As Guerreiras"

•⚽•

Finalmente capítulo novo dessa graça! O que acharam? Me contem. É muito importante.

Nossas meninas tem nome para o time agora! As Guerreiras! E devo dizer que fazem jus ao nome ❤

Eu tenho só amor por essas personagens! Sou apaixonada por cada uma e sei lá, só queria expressar isso aqui!

Obrigada por ter lido! Amo vocês demais! E sou muito grata! Um grande beijo e nos vemos logo ;)

Garotas Também Jogam Bola ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora