As conversas fiadas e as risadas estavam muito mais altas do que o habitual. O balbuciar de palavras parecia muito mais agudo, e incômodo, para quem estava tentando se concentrar no trabalho importante da aula.
Victória sentiu seu coração bater mais forte. Um pingo de suor desceu sobre a testa e as pernas balançavam incessantemente sob a mesa. Sentia-se no limite. As quatro garotas viram quando a cabelos de fogo se levantou e caminhou agitada para o fundo da sala.
O som do baque das mãos de Victória contra a mesa dos dois rapazes foi audível por todos, fazendo a atenção deles se desviar do trabalho para encara-la, menos o professor, que fingiu não escutar. Os dois garotos a fitaram tentando decifrar o que se passava na cabeça da tal menina.
- Calem a merda da boca de vocês! Estão nos desconcentrando! - O cenho dela estava franzido enquanto pronunciava as palavras revoltas, dominada de uma raiva que sozinha, não conseguiria explicar. Os lábios se comprimiam horizontalmente e as mãos se fechavam em punho.
As risadas sarcásticas dos rapazes pareciam um soco no estômago para ela. Victória só conseguia fixar seus olhos neles, incrédula. Sentia o sangue lhe subir à cabeça.
Antes que a garota perdesse a linha e fizesse algo de qual se arrependeria depois, Raquel apareceu, conduzindo-a de volta para sua carteira. Não disse nada para a ruiva. Mas voltou-se para os garotos e os encarou bem nos olhos com superioridade. Não precisou dizer nada. Eles ficaram o restante da aula calados.
E Vick ficou o restante da aula se culpando mentalmente por ter não conseguido controlar seus impulsos, de novo.
***
Natália caminhava calmamente pelas ruas rotineiras da cidade enquanto observava tudo ao seu redor. Viu os pássaros azuis voando em círculos, viu alguns garotos andarem de bicicleta, viu algumas meninas conversando, viu Diana roendo as unhas. Era uma paisagem que de certa forma, já estava acostumada. Mas nunca se cansava.
O dia parecia bonito, as nuvens espalhadas no céu faziam figuras únicas. A brisa bonita, balançava calmamente os fios loiros da menina. Ela ouvia alguma coisa pelo fone de ouvido, que funcionava apenas um lado, enquanto continuava sua caminhada.
Alguns garotos um pouco mais velhos que ela, conversavam de maneira animada na calçada, deviam ter um pouco mais dos dezoito anos. Quando passou por eles, Natália quis que os dois fones estivessem funcionando no talo, para não ter ouvido o assobio que aqueles garotos deram.
Não era um assobio normal, era um assobio repulsivo e carregado de malícia, como se dissesse "Que bundão você tem".
Natália não olhou para trás, seguiu em frente carregada de uma vergonha que não era de seu feitio. Sentia-se desconfortável a cada passo, imaginando se eles ainda a encaravam.
Teve o instinto de pegar sua blusa de frio, que carregava na mão, e a prender na cintura, como se aquilo a fizesse sentir melhor. Não fez.
Andava tentando tirar tais nojentos pensamentos da cabeça, porém falhando miseravelmente. Talvez eu não devesse ter passado ali. Pensou ela, mas logo se culpou por ter pensado aquilo. Não era culpa dela! Não mesmo! Não iria deixar de passar no seu local preferido, e usar seus shorts rosas por causa de repulsivos. Por medo. Não, não mesmo. Não iria se submeter aquilo.
Ainda assim, pensou ela que talvez, era melhor andar do outro lado da calçada da próxima vez, caso eles estiverem lá novamente. Mas estaria eu rendendo para o medo novamente? E ficou nesse dilema até chegar na casa de Victória.
Os garotos já estavam reunidos ali, prontos para realizar o trabalho. Já Ana, seu reunia em outro grupo, por ter faltado.
- Oi! - Cumprimentou Vick quando abriu a porta de sua casa para Natália.
- Olá!
- Não repara a bagunça.
A casa de Victória era pequena, porém muito harmoniosa. Várias plantas decoravam todo o local, o que dava um cheiro único e gostoso naquela casa. Na sala, um tapete simples marrom estava sob sofás cinzas. Uma televisão média estava desligada sobre uma cômoda e estantes com livros também decoravam o local. No tapete, os colegas estavam sentados, juntos com vários papeis, cartolinas, tesouras e um notebook, que Natália suspeitava ser de Victória.
Natália se juntou aos companheiros de trabalho.
- Então Nat, nós pensamos em usar algumas imagens também para ilustrar o cartaz, e ainda precisamos gravar o vídeo.
- Alguém sabe editar um vídeo? - Perguntou Tomás olhando para cada uma.
- Eu sei. - Raquel afirmou e todos olharam para ela. - Vocês podem parar. - Ela repreendeu. - Ficam me olhando como se eu fosse de outra planeta, eu até queria, mas Deus me fez humana então eu tenho que me contentar.
- Desculpa, Raquel. - Desculpou-se Nat. - Você editaria o vídeo para nós? - Raquel concordou minimamente com a cabeça, rendendo sorrisos dos colegas. Especialmente de Tomás, o que não passou despercebido por Victória
***
Os primeiros a irem, depois que finalizaram o trabalho, foram Tomás e Maria Eduarda, que não poderiam chegar tarde em casa. Victória não perdeu tempo e disse:- Acho que alguém está a fim da Raquel, hein. - Riu maliciosamente. Raquel e Natália franziram o cenho, em desentendimento. - Vocês não perceberam? - Elas negaram. - O Tomás! Só faltava ele babar para Raquel.
Raquel rapidamente balançou a cabeça em negativa, de forma exagerada.
- Nada a ver. Ele não está a fim de mim.
- Eu shippo. - Afirmou Natália.
- Ah, porque você não fala com ele, Raquel. - Victória insistiu.
- Eu não estou a fim dele, por que eu falaria?
Victória riu e jogou uma almofada em Raquel, que só se mantinha indiferente em relação aquele assunto.
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Garotas Também Jogam Bola ✔
Roman pour Adolescents"Em uma cidade com nome de pássaro existia cinco garotas, cinco nomes, cinco vidas não tão fáceis quanto gostariam, cinco histórias paralelas que se cruzaram de uma forma inusitada e futebolística demais. Cada uma tinha seu motivo para estar no time...