“É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais [...]
E eu que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer
Lembro das tardes que passamos juntos”
– Love In The Afternoon; Legião UrbanaEra dia doze de outubro quando o velório começou a acontecer.
Um dia que, até pouco tempo, seria incrível, havia se tornado terrível. Além de seus amigos mais próximos e seus familiares, o que incluía os avós e irmão de Peter, parentes de Brittany e amigos do colégio e da dança estavam presentes.
Em determinado momento, Olivia pegou um microfone para que pudesse falar algumas palavras em homenagem à amiga.
— Oi... Eu, eu não estou no meu melhor momento, mas vou tentar... Eu e Brittany nos conhecemos com uns nove anos no estúdio de dança, e desde então estivemos na mesma turma do ballet. Fomos à festivais juntas, fizemos oito espetáculos finais, e nos formamos juntas. Lembro que a escutei falando à professora de ballet da época que havia perdido a mãe, e eu não conseguia me imaginar sem minha mãe, ela sempre fora tudo. Sempre a achei extremamente forte por lidar com a morte da mãe tão nova. Em junho desse ano, eu perdi minha mãe. Meus pais, na verdade, e ela foi uma das pessoas que me ajudou a passar por aquilo, se não fosse por ela e por outras pessoas, talvez ela quem estivesse aqui fazendo uma homenagem à mim. Não sei se eu ter perdido pai e mãe ao mesmo tempo, não pela morte, mas por uma decisão deles, foi uma dor suficiente para tudo que senti. Ela era forte, desde criança. Dava seu máximo em tudo que fazia, seus arabesques* eram lindos, cada movimento que fazia era lindo. Foram poucos os momentos que a vi sem aquele sorriso no rosto, mesmo passando por trilhões de coisas ao mesmo tempo: provas, gravidez, câncer, — sua garganta formou um nó — formatura, dança, um término, apesar de tudo, ela sempre nos fazia sorrir. Brittany foi muito mais que uma amiga, ela era tudo que qualquer um podia pedir ao lado, uma pessoa incrível, grande parte graças ao que Robert e Mary a ensinaram. Mas ela sobreviveu à tudo que uma adolescência poderia trazer, exceto àquela merda de doença que a deixava cansada, com medo, por muitos dias... — Olivia soluçou e limpou algumas lágrimas — Desculpa, eu não... — entregou o microfone ao Padre que faria uma oração depois, e saiu.
— Eu vou lá, alguém vai atrás dela. — Louise falou e levantou com John no colo. Bryan seguiu o caminho que Fitz fizera segundos antes, procurando-a.
John estava com uma roupa preta e uma meia de bolotas, a que Brittany mais gostava dele. O garotinho estava quietinho, o clima não era bom, e ele não soltava a pelúcia de estrela, que um dia pertencera à mãe. Matthew estava abalado, e Louise não se importou de ficar com o garotinho. Brittany havia sido muito na vida de Matt, e ele não tinha culpa do que estava acontecendo.
— Eu... eu vou continuar a, ah, homenagem. — Louise falou, sorrindo bem fraco. — Provavelmente não sou a melhor pessoa para falar sobre Brittany, quem estudou com a gente sabe do que estou falando. Nos aproximamos em abril ou maio, quando fizemos a oração da formatura. Desde aquele dia, ela não me tratou de forma ruim, foram poucas as vezes que ela chegou a fazer isso, e eu sei o porquê. Ela era uma pessoa extremamente boa, educada, preocupada com as pessoas ao seu redor, inteligente, talentosa, linda. — suspirou. — Nesses meses que estivemos próximas, inclusive morando juntas no último mês, ela foi incrível, e me ajudou em muita coisa, assim como eu fiz à ela. Brittany não merecia perder a vida dessa forma, aquela garota era um anjo. Mesmo não sendo amigas antes, ela era tudo que qualquer pessoa pode querer ser. Sim, todos têm seus defeitos, e ela tinha os dela, mas suas qualidades iam acima de qualquer coisa. Inúmeras vezes a vi prestando atenção no que Melanie dizia; fazendo o que seu pai pedia; ajudando colegas que precisavam; defendendo Kate, Oli, Matt, Bryan, qualquer um; falando de sua avó com carinho; tratando John com todo o amor. — olhou o garotinho em seu colo, sorrindo — Espero que eu esteja passando pelo menos um pouco do que sentem por ela: Para a senhora Anne, Melanie, Robert e Mary, ela era a melhor neta, irmã, e primogênita que podiam pedir. Para Olivia, uma das melhores amizades que fez naquele estúdio. — olhou aonde Liv agora estava novamente sentada, e ela sorriu, concordando. — Para Nathan, uma das melhores partner* com quem dançou e dançará. Para quem estudou com ela, uma colega maravilhosa. Para a família, aquela que era querida por todos. Para Kate, Bryan, Peter e eu, uma das melhores amigas que poderíamos pensar em ter. Para John, a melhor mãe do mundo, e mesmo que ele não cresça com ela, contaremos tudo que ela foi um dia. — ajeitou o bebê em seu colo, para que ele não machucasse a barriga de seis meses. — E por fim, para Matt, a melhor amiga, parceira, namorada, futura esposa — ele riu entre as lágrimas — que Matt um dia pensou em ter; alguém que ele sempre podia contar e vice-versa, que esteve com ele sempre, foi Brittany quem deu um dos melhores presentes da vida dele: esse bebê aqui no meu colo, John, que é tão parecido com a mãe e com o pai, mesmo tão pequeno ainda.
A maioria ali tinha os olhos ou bochechas vermelhos pelo choro, e Louise derramou lágrimas também.
— Brittany faria dezoito anos hoje, e ela merece ser lembrada por todos os momentos bons, e por todos os dias que superou, mesmo achando que não conseguiria. Feliz aniversário, Brit, te amaremos eternamente, descanse em paz.
★
bom, não falta muito pra acabar...
*arabesque: do árabe 'arabesco'; que significa enfeite, enfeitado (?)
*partner: parceiro; seu 'par' no pas de deux39/41.
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Seis Últimos Meses
Teen FictionBrittany Folks, uma jovem bailarina, descobre uma doença no último ano do "high school". E agora? O que fazer? A adolescente terá que aproveitar a escola, os relacionamentos, o balé, e muito mais, antes que aquilo aconteça - se acontecer - em sua vi...