Na segunda seguinte, a última no mês de maio, Brittany resolveu ir ao estúdio de dança para que pudesse ensaiar suas partes no encerramento.
Era incrível como apenas teclas de piano podiam acalmá-la como nada mais era capaz. Bastava o primeiro toque no instrumento, o primeiro acorde do violino, e sua mente se distanciava do mundo real.
Isso não acontecia apenas com Brittany, mas qualquer bailarino que goste do que faz, se sente assim, é inevitável; há certas sensações que causam um sorriso involuntário apenas pela sua importância.
Lá em dois mil e dez, quando entrou na sua primeira aula, não sabia que gostaria tanto daquela dança; até então era uma forma de se exercitar, e toda menina já fez uma aula de balé na vida, provavelmente...
Logo conheceu Olivia, de quem não gostou no início, mas acabaram se aproximando em três ou quatro meses.
O primeiro espetáculo que participou, em dezembro, estaria em sua memória eternamente. A primeira vez em um palco, sendo uma bailarina, com todas aquelas pessoas assistindo, era um sonho para aquelas crianças ali pela primeira vez...
Quando Mary, sua mãe, faleceu, Brittany acabou melhorando o desempenho no balé. Não porque a mãe a impedia, mas porque ficava mais tempo na dança, afim de se distrair de todo o turbilhão que veio. Ela tinha doze anos, perdeu a mãe e ao mesmo tempo teve uma irmã, não foi fácil, e o único momento em que se distraia era na dança. Naquela época, menina usava a maior parte do tempo livre se alongando, ensaiando.
Era difícil acreditar que era seu último ano por ali, mesmo que pudesse seguir carreira, não seria o mesmo depois de formada.
As sensações seriam as mesmas, isso não mudaria nunca. É algo insignificante para os outros, mas que tem um significado aos olhos de bailarinos.
Provavelmente, uma das melhores sensações, é escutar a terceira campainha*. A primeira, traz a sensação que está chegando o momento, na segunda é mais próximo ainda e o som vai diminuindo, mas é na terceira que a magia começa a acontecer em cima do palco. Ver que mais um espetáculo está começando, e que as pessoas estão lá para ver os bailarinos – o que inclui te ver – é incrível.
Mas a emoção não está só nos momentos de palco, está na primeira prova do figurino, quando percebe-se que o momento está próximo; no ensaio geral, com todo mundo do espetáculo reunido e apoiando uns aos outros para que dê tudo certo; na oração com todos os bailarinos e coreógrafos, ou apenas com as pessoas que dançarão com você, pouco antes do público entrar...
Merda!*
No camarim e na coxia, esperando sua vez de dançar enquanto passam milhares de coisas pela cabeça. Os agradecimentos ao fim do espetáculo, com todos os bailarinos em palco, o público aplaudindo de pé, o coração e a respiração dos bailarinos acelerados ainda, depois da emoção; ver que todas aquelas pessoas prestigiaram seu momento, e dedicaram uma, duas horas do dia para assistir...
Nos ensaios, subir na primeira ponta; acertar um passo, seja um plié, ou um grand jeté; ter a oportunidade de dançar um solo ou um pas de deux.
E além das coisas boas, as dores trazem uma sensação incrível apesar do incômodo; é como se seu esforço estivesse valendo a pena, e no final tudo ficaria melhor. Bolhas, calos, dores nos pés e nas pernas, são comuns, e que atire a primeira pedra o bailarino que nunca teve nada do tipo...
Explicar e fazer alguém de fora entender é quase impossível, principalmente quando tem a tentativa de explicar usando os termos 'corretos' em francês, italiano, e a pessoa não entender, então ter que explicar de outra forma!
As correções típicas que todo professor já falou e todo dançarino já escutou..
E não só os bailarinos têm todo esse esforço, as famílias acabam passando por uma parte disso.
Levando e buscando nos ensaios, chegando horas mais cedo do que o espetáculo é previsto para iniciar, arcando com uma parte dos custos, que não são poucos nem baratos...
Ao final, Brittany, Olivia, e qualquer outro bailarino, têm a mesma sensação, é um dever cumprido; horas de dedicação onde valem a pena cada minuto.
Aos formandos, a última apresentação vem ainda com a retrospectiva que se passa em subir pela última vez no palco como alguém sem formação. Lembranças dos oito anos, em média, que passaram crescendo cada vez mais na dança.
Alguns já se formando com bolsas de estudos para companhias, cursos de verão, e oportunidades; outros que têm a dança como um hobby, e acabou.
A dança era um refúgio, um lugar onde erram, acertam, caem e levantam, dão voltas, saltos, e não perde sua magia. Se todos pudessem viver na dança, nem que por um ano só, veriam uma nova forma de deixar os problemas de lado...
★
ficou curtinho, mals :)
"Merda!" tem um significado importante nos espetáculos
*campainha: ou 'Pancadas de Molière'**como tem várias coisas da dança, deixem nos comentários oq querem explicação!
Feliz Páscoa!!
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Seis Últimos Meses
Teen FictionBrittany Folks, uma jovem bailarina, descobre uma doença no último ano do "high school". E agora? O que fazer? A adolescente terá que aproveitar a escola, os relacionamentos, o balé, e muito mais, antes que aquilo aconteça - se acontecer - em sua vi...