5. Lana Azevedo

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Dona Regiane e o Roger se encaravam, depois de alguns segundos, ele tirou tudo que ainda restava na minha mochila, jogando para mim vazia, a seguir falando com a minha mãe

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Dona Regiane e o Roger se encaravam, depois de alguns segundos, ele tirou tudo que ainda restava na minha mochila, jogando para mim vazia, a seguir falando com a minha mãe.

— Não imaginava que essa garota era aquela bebezinha...

— As coisas mudam, assim como você deveria ter mudado.

— O que deveria mudar, é o comportamento de sua filha! – ele começava a caminhar passando do lado da minha mãe, ambos ainda se entreolham por alguns segundos. – É bom saber que você está bem...

— Me poupe disso.

O homem foi embora, já ela se virou pra mim, aparentemente bem furiosa.

— Enquanto você Haruka! Vai vir comigo!!

Fomos para casa em silêncio, empurrava minha bicicleta sem a encarar, o que não poderia ser pior. Se fosse alguma besteira, provavelmente eu estaria levando algum sermão, porém quando algo é realmente grave, não tinha assunto entre nós duas.

Assim que chegamos em casa, ela me levou para o quarto dela, me mandou sentar na cama e em seguida começou a falar com alguns papeis nas mãos.

— Enquanto você dormia, eu revistei sua mochila! Separei essas cartas, pegue e leia!

Fiz o que minha mãe mandou, a seguir acabei me surpreendendo, aquelas até então ainda não tinha lido, pelo visto eram as últimas que não tinha dado tempo de eu ler naquela madrugada.

— Filha, essa mulher que escrevia as cartas e as músicas, era a noiva do Roger. Quando eu era mais nova, fui à vocalista da banda.

— Vocalista?? Você?? – meu espanto não foi para menos. – Cara! Nunca te vi cantando nessa vida! Como quer que eu acredite nisso??

— Muitas coisas aconteceram, Lana... – se sentou na minha frente. – Éramos um grupo de cinco pessoas. Quase todas às vezes eu fazia o vocal principal, vira e volta essa mulher fazia a segunda voz. Porém quando chegou 1996, a "Lana Azevedo" começou a se distanciar da banda para cuidar de sua mãe. Ou é o que imaginávamos...

Continuei lendo principalmente as cartas que eram de 1997, elas diziam muito que essa mulher, realmente precisava deixar a música de lado, para viver nos hospitais com a sua mãe, nas que eu li de madrugada, também já demonstrava muito aquilo, porém quando cheguei na última, a dona Regiane voltou a falar.

— Essa em específico eu nunca havia visto, pelo jeito foi um pouco antes dela morrer...

— Uma carta de morte? Tipo um testamento??

— Não filha, essa era apenas uma despedida.

Comecei a ler aquilo em voz alta, pelo o que lembro ela dizia mais ou menos o seguinte.

"...sei que talvez não seja uma boa hora para dizer... você finalmente conseguiu voltar a tocar e está feliz, para ser honesta, muito mais feliz do que antes."

Lembro de ter olhando para a minha mãe confusa, mas ela pediu para continuar.

"... eu não sei quando você vai ler isso, mas eu peço que me perdoe, principalmente por eu não ter te contado antes.. Estou morrendo e depressa, talvez eu só tenha mais alguns meses e não quero que você desista do seu maior sonho para cuidar de mim..."

— Como assim, estava morrendo?

— Só leia filha...

"...eu não ficaria feliz com isso, me entende? Por favor, eu te peço de todo o meu coração, viva, componha como se fosse para mim e te imploro, seja feliz.. Depois de tudo que você passou, o que a gente passou, acho que é o mínimo que você merece..

L x R..."

— Lana e Roger... – minha mãe terminava por mim. – No final, aquela idiota enganou a todos, não era a mãe dela que estava doente, mas sim ela própria. Logo quando tudo finalmente parecia melhorar, aquela tragédia foi acontecer...

— Então ela morreu da doença e o homem ficou traumatizado, é isso? – dava para perceber dona Regiane fazia de tudo para segurar o choro.

— Não, o que aconteceu foi muito pior... Aqueles dois, antes mesmo da banda, passaram pelo inferno para ficar juntos. Ninguém jamais imaginaria que a Lana estaria morrendo por causa de um tumor... Só que não foi isso que a matou.

— Então, foi o quê?

— Na escola, já escutou falar de uma cidade, que sofreu uma enorme rebelião há doze anos?

Pensei por um breve momento, mas depois me toquei e concordei.

— Sim, mas não na escola, escutei isso de alguns velhos aqui da cidade... Foi até aqui perto, não era?

— Deveria imaginar que a escola nunca falaria sobre isso... A Lana ao contrário da gente, morava naquela cidade. Nesse dia nós estávamos viajando se não me engano para Porto Alegre. Existia um canal local que promovia algumas competições musicais entre vários ritmos. E para a nossa felicidade, a "Intence" Show foi convidada.

— "Intence" Show? Então essa era a banda de vocês?? – espantada.

— Você já escutou, não foi? – suspirou.

— Bem... tenho umas duas fitas... Então... Aquela voz... Era você, mãe??

— Era...

Naquele momento eu levava um baita baque, a "Intence" Show (e sim, "Intence" com "c" mesmo) tocava um rock relativamente pesado, mas ao mesmo tempo as letras eram até meio melosas, algumas animadas e outras bem depressivas ou críticas. Jamais imaginaria que uma voz tão grossa "grave" da vocalista, poderia ser a minha mãe, que naquele meu tempo de adolescente, ela tinha um tom bem mais suave.

— A Lana foi encontrada morta um dia depois, o corpo dela estava todo queimado. Era algo terrível filha. Boa parte dos moradores da cidade tinham sido assassinados de várias maneiras brutais. Chegou a um ponto que a cidade ficou sem nenhuma condição para voltar a funcionar. Por fim foi abandonada e logo depois apagada do mapa... – então ela me encarou bem séria. – O Roger desde então perdeu toda a sua paixão pela música. A banda quebrou totalmente, ninguém mais conseguia tocar da mesma maneira. Quem dava vida e animação para nós desde o início era a própria Lana... Por mais que não sabia de fato tocar nada e muito menos cantar por muito tempo sem sofrer com a sua falta de ar. Ainda sim sabia compor como ninguém...

— Nossa... – eu estava sem palavras, via a minha mãe chorar ao falar daquilo. Logo tive que a abraçar e dar um tempo para ela respirar.

— Filha... Os dois estavam para se casar... Eles já haviam perdido um filho, mas mesmo assim, estavam felizes. Você não tem ideia do tanto que aquilo mexeu com o Roger... Desde então, ele mudou e se isolou. Ninguém mais conseguia vê-lo. Assim cada um foi para um lado. Eu aproveitei que tinha sido chamada para dar aula, então me firmei nisso e trabalhei para te criar... – ela parava de chorar e ficava olhando suas próprias mãos. – Mas só de pensar que ele chegou ao ponto de dizer que atiraria em uma criança... Isso não pode ser perdoado... O Roger que eu conhecia abominaria isso!!

— Calma mãe! Não sou mais criança, tá? Eu já sei me cuidar...

Sorria para ela tentando deixar minha mãezinha mais aliviada. O problema a seguir seria: O que fazer? De certa forma eu não demonstrei, mas estava com raiva. O modo que aquele homem a tratou, ainda mais ela sendo uma antiga companheira de banda. Quem ele pensava que era?

— Eu vou cuidar disso... – pensava indignada.

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