34. Ainda existiam esperanças.

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— Lana. Pode me acompanhar até o mercado hoje?

Depois de cuidar do Ren, eu tinha almoçado, o pai dele iria ficar cuidando de tudo, enquanto eu iria com a dona Iraci.

— Sem problema. – sorria sem jeito.

Fomos a um mercado que tinha na avenida principal da cidade. Ele era bem grande, e se não me engano, ficava bem de frente de uma loja de variedades e presentes.

— Então, você já lançou o novo álbum? Queria ter o CD.

— Uhum, mas esse álbum meio que ficou só no virtual mesmo. Fora que as vendas em CDs estão cada vez mais baixas. Tá todo mundo migrando para esse formato.

Eu vira e volta, sempre saía com a minha sogra para lá. No fim das contas, era quase que como uma segunda mãe.

— Lana... – ela estava com um tom de preocupação. – Eu agradeço de coração tudo o que você faz pelo meu filho... Mas não acha que...

Logo a interrompi.

— Que eu deveria tentar viajar mais, e seguir com a minha vida? – dava um sorriso triste para ela. – Sinto muito, mas não...

— Lana... Como ficará sua carreira? Mesmo com seu tio apoiando, não será o suficiente. Sophia, Ralph e o Iran também vingaram com a Fúria da Noite. Se você ficar parada, somente cuidando do Renato... Não quero que você continue sofrendo minha filha... Eu...

— Eu sofreria muito mais se abandonasse o Renato... – cortava ela novamente, mesmo ficando deprimida em conversar sobre aquilo. Ainda sim eu sabia que no fundo, ela só queria o meu bem. – Daria tudo o que eu tenho para o Ren acordar... Na realidade... Quem deveria estar acamada é eu, não ele...

— Não diga isso minha menina... – ela se segurava para não chorar.

— Dona Iraci... – a abraçava sem jeito.

— Só não quero que você continue sofrendo... Você ainda é tão nova Lana...

Fizemos o resto das compras, depois voltamos de carro para a casa dela. Ajudei ela com tudo, mas depois me despedi para ir visitar a minha mãe.

A caminhada até a minha antiga casa era meio longuinha. Como tinha deixado à moto na casa da minha mãe, foi o jeito.

— Só queria saber... Será que ele ainda vai retornar depois de tudo...?

Me segurava para não chorar no meio da rua. Mas realmente a dona Iraci tinha razão. Eu realmente estava perdendo muito tempo. Mas como poderia deixar quem eu amava na mão? Minha esperança era que ele acordasse.

Eu queria viver da música e consegui. Mas... Faltava ele...

— Não deveria perder as esperanças. – escutei uma voz ao meu lado. Me virei e era uma mulher mais ou menos da minha idade. Ela tinha cabelos louros bem vivos e os olhos azuis como a cor do céu. Pele bem branquinha, além de uma pequena cicatriz no braço direito.

— Esperança eu tenho... Mas o meu problema não depende de mim...

— Eu sei... – ela sorria para mim. Aquele sorriso era familiar. Não sei como explicar, mas sentia algo caloroso. Algo próximo de mim. – Vi você saindo da casa da Iraci, não é? E do filho dela, o Renato, não?

Me espantei.

— Sim! Você a conhece??

— Mais ou menos. Meio que as conheço por sua causa.

— Quê? – fiquei de repente confusa. – O que quer dizer?

— Nada, nada. Tenho que ir... Mas não se preocupe. Vai acabar tudo bem. E logo, Lana.

Ela deu as costas para mim, seguindo para a direção contrária. Fiquei me perguntando de onde ela me conhecia.

— Ei!! Qual o seu nome?? – tive que gritar, pois ela já estava longe. Mas o pior, foi que ela pareceu não me escutar. – Quem era ela...?

Bem pensativa ia chegando em casa. Minha mãe estava bem animada comigo. Fiquei um bom "pedaço" com ela. Depois subi para o meu quarto. Ainda na parte da noite, iríamos na casa do tio Roger, que também tinha voltado para a cidade.

— Acho que vou dormir um pouquinho...

Mesmo já tendo a minha própria casa, aquele quarto sempre foi tão aconchegante. Ele não havia mudado muito desde a minha adolescência. Ainda mais depois que me mudei, minha mãe deixou tudo da mesma maneira.

Existiam muitas histórias e momentos ali. Muitos desses com meu amigo. O que me deixava triste por lembrar, mas feliz por nunca esquece-los.

— Só queria que você acordasse...

Quando menos esperei tinha pegado no sono. Mas não durou muito, logo já acordava escutando minha mãe subindo as escadas gritando.

— LANA!!! LANA!!!

Me acordei assustada, me sentando na cama beba de sono.

— Mãe? O que foi...?

— Filha!! A Iraci!!! Ela acabou de ligar!!! O Renato!!! Aconteceu algo com ele!!!

Vendo o olhar dela de desespero, não a deixei nem sequer terminar de dizer. Desci rapidamente, peguei a chave da moto. Minha mãe veio comigo, então fomos o mais rápido possível na casa dele.

Quando chegamos, já nos deparamos com uma ambulância, batemos na porta desesperadas e quem abriu foi à prima do Ren, que estava com os olhos inchados de lágrimas.

— Não, não, não! Ele tem que estar bem!!! – pensava comigo mesma.

Enfim tínhamos chegado no quarto, que estava cheio de familiares e amigos, fora mais três médicos.

— Deixa eu passar!! Ren!!! – me debatia entre as pessoas para vê-lo.

Logo todos abriram caminho para mim. E o que me deparei encheu meus olhos de lágrimas. O Renato estava sendo examinado pelos médicos.

Mas ele estava acordado...

Eu não acreditava, ele estava realmente acordado. Fiquei travada o encarando. E quando ele virou o rosto pra mim, me olhando de cima a baixo por uns cinco segundos. A seguir, com a voz mais grave do que tinha antigamente.

— Você... você... É a... – ele também estava em choque. Será que havia me reconhecido? Afinal, meu visual estava bem diferente. Cabelos mais curtos tingidos com um azul claro na franja. Um corpo um pouco mais definido e um pouquinho só mais alta. Será que... – Lana...?

Não quis nem saber. Corri até a cama, o abraçando chorando, ele automaticamente me acolheu em seus braços. Dava para escutar o choro dele ao me apertar. E era um aperto bem forte, o que era para ser impossível. O corpo dele estava bem debilitado devido o tempo acamado. Como ele havia se recuperado daquela maneira??

— Ren, Ren, Ren!!! Eu não acredito! Eu senti tanto a sua falta!!

— Lana... – mesmo estando nitidamente confuso, ele me abraçou como nunca antes.

E bem no fundo. Na minha mente, uma voz feminina ecoava. Essa que eu já havia escutado naquele mesmo dia.

Jamais perca a esperança Lana...

— O... O quê? – olhei para os lados, procurando da onde vinha, mas não encontrava. Logo mais a escutei novamente, com um tom triste e acolhedor.

Não pude proteger quem eu amava no passado. Mas protegerei no mínimo a minha família que ainda está aqui...

Sua vida ainda só está começando Lana...

Nunca desista...

E seja feliz...

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