7. Um novo começo

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— O que aconteceu com vocês, menina? – Roger me perguntava um pouco apreensivo.

— Eu havia acabado de completar dez anos... Bem... Naquele início de ano, nós duas estávamos sendo despejadas... Acho que foi no final de fevereiro que acabamos tendo que passar na rua por alguns dias... Bem... O que posso dizer? Foi horrível... – sem perceber eu chorava timidamente. – Me lembro de estar frio em Curitiba. Era uma geada terrível... – olhava para meus próprios joelhos, com meus cabelos caindo à frente do meu rosto, levantei a mão esquerda para os tirar da minha visão, encarando o homem novamente. – Só lembro de ter desmaiado abraçada a ela no meio da noite. Quando acordei estava em uma cama desconhecida. Lembro de tentar me levantar, porém não conseguia. Eu estava tão fraca e com febre, que mal conseguia respirar direito.

— Mas...? Onde vocês estavam??

— Na casa do Anderson Himura. Pelo o que minha mãe disse, ela correu desesperada pedindo ajuda quando eu apaguei. Acho que nem preciso dizer que boa parte das pessoas a ignoraram por ela ser mendiga, né...? – suspirei pensativa, puxando em minha memória tudo o que eu sabia. – Parece que eu iria morrer nos braços dela, só que aquele homem apareceu e cedeu sua casa para a gente se abrigar. Até que minha febre melhorasse... Até hoje, eu não sei como o agradecer... Depois de um tempo, até me via o chamando de pai... – comecei a rir timidamente.

— Então vocês moraram com ele esse tempo todo?? – espantado. – Foi por isso que perdi o contato com ela... Eu ligava para o número da casa de vocês, mas há cinco anos, ele havia ficado mudo... Pensava que ela apenas havia cancelado a linha telefônica.

— Pensava, é? Pois pensou muito errado...

— Minha nossa... Se eu soubesse...

O Renato nessa hora comentou em um tom sério.

— Acha que acabou por aí? As duas ainda sofreram muito.

— O que quer dizer?? – o homem se espantava ainda mais.

Já eu me virei pro meu amigo.

— Não... Deixe que eu conto tudo, tá bem...?

— Contar...? Esse homem não deveria nem saber disso! – furioso.

— Renato?? – eu também fiquei nervosa, já ele virou o rosto.

Na hora fiquei brava, por que Ren estava com raiva? Então o homem voltou a perguntar.

— O que aconteceu com vocês, garota?

— Bem... – me voltei pro Roger para terminar a história. – Vivemos com o Anderson quase três anos... E... Não vou mentir que era legal... Minha mãe havia voltado a dar aulas, já ele me tratava como sua filha... Até adotei o nome que ele desejava para uma "filha"... – eu ria sem jeito. – Só que em uma noite, tudo mudou... Nós voltávamos de uma pizzaria em um domingo na parte da noite, até que fomos assaltados... – minhas lágrimas de repente caiam com intensidade ao lembrar. – Nós entregamos tudo, cara... Mesmo assim, aqueles filhos da puta atiraram... – aos poucos eu ia ficando com falta de ar, o Renato ao meu lado me segurava preocupado, mesmo assim sinalizava com a mão que estava tudo bem. – Ele não reagiu, não tinha por que atirarem... – de repente eu estava cabisbaixa.

— Como vocês ficaram depois disso? – Roger se levantou indo para perto de mim, se agachando na minha frente.

— O que você acha? Nós duas ficamos destruídas. No ano passado minha mãe se mudou para cá, porém aos poucos, ela ia se refortalecendo... – suspirava – Só que desde o dia que ela viu a letra de uma música da sua namorada, ela ficou meio bolada, no dia seguinte quando te encontrou me ameaçando então...

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