— Julian! — ouvi Sam gritar meu nome e eu tive que fechar os olhos por alguns instantes, respirando profundamente. — Você estava na terapia?
Respirei fundo mais uma vez, abrindo os olhos e vendo a menina de cabelos cacheados e curtos, com sardas espalhadas no nariz e nas bochechas parada a minha frente. Ela sorria para mim, um sorriso doce e excessivamente animado, e quase saltitava no lugar com as mãos juntas na frente de seu corpo diminuto. Um sorriso fraco, sem mostrar os dentes, apareceu em meus lábios e eu deixei meu corpo relaxar um pouco.
— Sim. — respondi.
— E como é que foi? Você conseguiu resolver os problemas com o nosso menino Loki? — perguntou, ainda mais animada, seus olhos brilhando com a animação.
— Até você, Sam? — perguntei, e ela deu de ombros.
— Ele está tentando melhorar, e fazer parte do sistema. — disse a menina, colocando as mãos em meus ombros. — Você deveria dar uma chance a ele, Julian. — ela sorriu e passou os braços em volta do meu pescoço, ficando na ponta dos pés para me apertar em um abraço. — Qualquer coisa, você sempre pode pedir pra Clarisse dar uma surra nele. — ouvi-a sussurrar em meu ouvido e senti seus lábios em minha bochecha.
Respirei fundo e meneei a cabeça suavemente, com um sorriso breve nos lábios, enquanto ela voltava a fincar os dois pés no chão, dando um de seus sorriso mais radiantes, que conseguiam animar quase qualquer pessoa, e acenando animadamente, enquanto saltitava e entrava na portaria de Norte, com um "Oi!" tão animado que pude ouvir do lado de fora das portas de vidro que cercavam a sala.
Ser amigo dele? Até parece. Pensei comigo mesmo, enquanto voltava a caminhar pela rua de paralelepípedos. Coloquei as mãos no bolso frontal, juntando meus dedos e entrelaçando-os sob o tecido macio, e fui para a minha casa — uma pequena construção de tijolos e telhas vermelhas, de dois andares, cercados por um muro baixo com um portão preto de grades metálicas.
Passei pelo portão, fazendo uma careta para o rangido alto que ele sempre fazia quando o abríamos, e caminhei para dentro de casa, passando pela cozinha e escutando o som de conversas e de um desenho irritante que Colline gostava de assistir. As duas vozes conhecidas pararam de falar assim que eu me aproximei da sala, vendo Daniel sentado ao lado do único ser que eu não queria que estivesse ali.
― O que você está fazendo aqui? ― perguntei à Loki, que estava sentado no meu sofá ao lado do meu irmão.
― Eu o convidei pra entrar, por quê? Você tem alguma coisa contra? ― perguntou Daniel, erguendo uma sobrancelha.
Eu pisquei algumas vezes.
Você só pode estar brincando comigo. Pensei, deixando minha boca se entreabrir enquanto os encarava.
Foi Colline quem me chamou a atenção, quando eu senti seus bracinhos apertando minha cintura. Eu olhei para baixo, piscando para sair do meu torpor, encarando o topo de sua cabeça, seus cabelos castanhos e lisos.
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TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...