— Você tem certeza que quer fazer isso? — perguntou Pauline pela quinquagésima vez naquela mesma tarde.
Eu não estava na minha casa — aquela pequena e gelada, porém confortável, gruta onde eu ficava quase todo o tempo, e só conversava com Banguela, que era praticamente meu vizinho, e, às vezes, Sam, que apesar de todo mundo dizer quão perigoso era a enorme Floresta dos Pesadelos, às vezes aparecia na minha gruta e me fazia companhia, contando-me como estavam as coisas do lado de fora, como tudo tinha mudado.
Não. Eu estava na famigerada sala de comando, que eu quase nunca visitava, mas já fazia um bom tempo que eu queria voltar ali. Fora Sam quem me influenciara a estar naquele lugar, naquele momento. E, enquanto Pauline me perguntava se eu tinha certeza de que iria fazer aquilo, e Olívia olhava com admiração e fascínio para mim — talvez até um pouco de carinho — eu tentava permanecer firme em minha decisão.
Norte reuniu alguns alteres, em algum momento daquela semana — ou foi daquele mês? É tão difícil contar os dias na floresta — e decidiram que Olívia estava pronta para receber mais informações, que ela poderia lidar com outros traumas de seu passado. E estava tudo indo muito bem, até então.
Ela se aproximara muito de Daniel, e eles não pareciam se desgrudar — principalmente agora que ela conseguia acessar o Innerworld — e, inclusive agora, ele a abraçava pela cintura.
— Nick? — Daniel chamou minha atenção e eu pisquei algumas vezes para voltar ao presente.
— Sim?
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — perguntou Pauline novamente, e eu assenti, deixando um sorriso pequeno e sem mostrar os dentes aparecesse em meus lábios.
— Eu também preciso de terapia. — respondi, mordendo o lábio, olhando para Sam que sorria para mim, encorajando-me. — Eu também passei por um trauma.
— Você também merece a cura. — Sam sorriu para mim, tocando minhas costas de forma reconfortante.
— Eu estou muito orgulhosa de você, Nick. — Olívia falou, se afastando de Daniel e se aproximando de mim, apertando minhas mãos pequenas e frias. Eu olhei para elas, sentindo as mãos quentes sob o toque. Engoli o seco, e por algum tempo senti meu corpo se desfazer, minhas mãos passando pelas dela. — Ah... Desculpe.
— Não, eu peço desculpas é que... — pisquei algumas vezes, precisando respirar fundo para fazer com que meu corpo voltasse a se tornar sólido novamente. — Desculpa. Eu não gosto muito de... Toques.
— Tudo bem. — ela sorriu, gentil, e eu observei Daniel se aproximar, abraçando-a.
Franzi o cenho.
Está pronta? Ouvi Lorraine perguntar, e eu olhei em volta. Sam olhou para mim e indicou com a cabeça para que eu desse o passo a frente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...