9 anos antes...
— Ela não vai fazer isso. Ela é fraca demais pra isso.
The story never ends, ends
— Liv? — uma mão apertou a minha, e a voz feminina falou perto de mim. — Liv, você está bem?
Uma luz forte ofuscava a minha visão, e eu tive que piscar algumas vezes pra focar e ver quem estava falando comigo. Quero dizer... Meu nome não era Liv, mas... De qualquer forma, a pessoa estava apertando a minha mão, então acho que ela está falando comigo.
Sim, é com você. Uma voz masculina falou em minha cabeça, e eu tive que piscar mais algumas vezes.
— Liv, está tudo bem? — a voz feminina fora da minha cabeça falou e eu franzi o cenho, procurando algo familiar em seus traços delicados. — Hey.
— Quem... — tossi algumas vezes, por causa da garganta seca. Essa era a minha voz? — Água...
— Ah, aqui. Não tome muita. — falou a menina de cabelos loiros quase platinados, colocando um copo plástico com um canudo dobrável perto dos meus lábios. — Eu fiquei muito preocupada com você, sabe? Você ficou tanto tempo desacordada, eu achei que tinha morrido. Eles tiveram que fazer uma cirurgia. — ela falava enquanto eu bebia um gole de água, então ela afastou o copo de mim e pegou minha mão com as suas. Ela era até bonita. — Eu sinto muito por tudo o que eu fiz você passar, eu não sabia que você se sentia dessa forma e... Se eu soubesse eu... Eu teria feito tudo diferente, eu juro, Liv.
— Desculpe, mas... — franzi o cenho novamente. — Quem é você?
A menina arregalou os olhos, alarmada, porém ainda um pouco aliviada, mas tinha algo estranho na forma que ela conseguiu esconder isso tão rapidamente.
— Você... Você não se lembra de mim? — ela perguntou e piscou algumas vezes, mostrando seus cílios longos e castanhos. — Eu sou Heather. Heather James! Sua amiga! — franzi o cenho suavemente, olhando para nossas mãos unidas, sentindo o calor emanar de suas palmas. Se ela dizia ser minha amiga, por que eu sentia tanta hostilidade em relação a ela? — Você realmente não se lembra de mim? — meneei a cabeça lentamente, ainda desconfiada. — Eu... Eu vou chamar o médico.
Pisquei algumas vezes, observando-a sair do quarto extremamente claro de hospital e eu franzi o cenho, olhando para minhas mãos. Minhas unhas sempre foram tão pequenas? E quando eu as pintei daquela cor?
Desci meus olhos por meus braços, vendo duas bandagens brancas, enfaixando do meu braço ao cotovelo, e arregalei os olhos. Como eu tinha feito aquilo?
— O que diabos...? — também podia sentir uma bandagem em meu pescoço, e uma sob a roupa hospitalar, que eu usava, e uma dor subia pelo meu abdômen.
— Olívia! Que bom que você acordou. — disse um homem de jaleco branco e olhos castanhos e gentis. Ele era jovem e bonito, e usava óculos. — Sou o doutor Kile Wallace, o médico que fez a sua cirurgia. Como você está?
Ele falava de uma forma gentil, enquanto pegava uma lanterna e lançava a luz em direção aos meus olhos, cegando-me mais do que as luzes do quartos.
— Eu acho que estou um pouco confusa? — falei, franzindo o cenho e piscando algumas vezes quando aquele homem tirou aquela lanterninha do meu rosto.
— Você se lembra de algo que aconteceu nas últimas 48 horas? — ele perguntou e eu meneei a cabeça.
— Você acha que é alguma coisa séria, doutor? — aquela menina perguntou novamente e eu olhei para ela. — Vai demorar muito para ela se lembrar de tudo?
— Não sei prever, precisamos fazer alguns testes para saber... — o homem mordeu o lábio e me olhou, com uma expressão séria, porém gentil. — Tudo bem se eu fizer algumas perguntas?
— Se eu conseguir respondê-las... — falei, dando de ombros, e ele sorriu.
A menina se sentou ao meu lado, segurando a minha mão da mesma forma que ela segurava quando eu acordei.
— Quantos anos você tem? — ele perguntou.
16. Respondeu aquela voz masculina na minha cabeça, e eu franzi o cenho.
— 16? — o médico ergueu uma sobrancelha, mas pareceu relevar o tom de pergunta em minha voz.
— Você quebrou o braço alguma vez?
Duas vezes. O braço direito.
— Duas vezes. O braço direito. — falei piscando algumas vezes.
— Você se lembra como quebrou o braço?
— Eu não... Desculpa eu... — olhei para a menina que sorriu suavemente para mim, apertando minha mão como se me encorajasse a continuar.
— Tudo bem. Tudo bem. — ele anotou alguma coisa na folha na prancheta em sua mão. — Quais são os nomes dos seus pais?
Os nomes surgiram em letras garrafais em um tom neon na minha mente e eu franzi o cenho, fechando os olhos com força por causa da dor de cabeça.
— Lúcia... E Carlos. — falei, com certa dificuldade e abri os olhos, olhando para a imagem suavemente embaçada do médico. — Doutor, acho que eu estou maluca.
— Por que você acha isso? — o homem tirou os olhos da prancheta onde ele anotava qualquer coisa e ajeitou os óculos na ponte do nariz.
— Porque nenhuma dessas lembranças são minhas. — ele ergueu ambas as sobrancelhas, assumindo uma expressão pensativa — E eu to escutando uma voz na minha cabeça. E eu tenho certeza de que não é a minha.
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TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...