Você já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver?
Agora, imagine como seria fugir...
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Sentada, com os pés dentro do riacho onde Acqua costuma nadar, eu e Jade estávamos lado a lado.
Nós estávamos em um longo silêncio, desconfortável, depois de pedir para que pudéssemos conversar um pouco, mas me faltou a coragem para começar a falar aquilo que eu queria falar.
— Você... Fez a terapia? — perguntou ela, e eu assenti. — E... Como foi?
— Foi... Bom. — falei, dando de ombros. — Eu falei sobre... Sobre o que aconteceu, e sobre a floresta.
— O que você falou sobre a Floresta dos Pesadelos? — ela perguntou, e eu me virei para ela, e ela estava olhando para mim.
— Não falei muito. — olhei para baixo, para as pedras na água límpida do riacho, onde a sereia de cabelos loiros e ondulados e uma cauda pesada de mais um metro morava. — Só que a Floresta dos Pesadelos não é um lugar agradável, e que eu fiquei presa lá por algum tempo até você conseguir me tirar de lá.
— Por que você falou de lá?
— Foi o primeiro lugar que eu conheci aqui, e nada foi pior do que ficar todo aquele tempo lá, revivendo toda a dor, o frio, o medo... — mordi o lábio, mexendo um pouco os meus pés dentro da água gelada. Fiquei alguns minutos olhando para as pedras cheias de limo. — Você... — respirei fundo, fechando os olhos e apertando a grama sob minhas palmas. — Como você entrou lá? — um silêncio pesado pairou sobre nós e eu abri os olhos, virando-me para encará-la. — Eu sei que tem outros fantasmas lá. Animais selvagens.
— Eu sei. — ouvi Jade sussurrar, e ela suspirou, e a observei mexer os pés dentro da água. — Teve esse dia, certo? Eu tinha brigado com a Clarisse por alguma bobagem, e ela disse que... — ela engoliu o seco, e eu franzi o cenho. — Ela disse que eu estragava tudo que eu tocava. Que era completamente irresponsável quando estava no comando e que... De qualquer forma, ela estava certa. — pisquei algumas vezes e vi uma lágrima escorrer de seu olho. — Mas ninguém estava lá, ninguém foi me ajudar quando tudo aquilo começou. Ela não estava no meu lugar quando Heather veio me perseguir na escola. — ela limpou a lágrima com raiva com as costas da mão, e demorou um pouco para retornar a falar. — De qualquer forma, eu estava muito chateada, e Alpha se aproximou de mim. — ela mordeu o lábio, e como se tivesse sido chamado, o lobo apareceu entre as árvores.
Era um lindo lobo branco, com olhos azuis brilhantes, tão grande que poderia facilmente atingir o meu tamanho, se eu estivesse de pé — eu era realmente baixinha — e seu pelo parecia ainda mais macio que o de Furry. Arregalei os olhos, vendo-o se aproximar, encarando-me, como se estivesse me analisando: decidindo se eu era uma ameaça ou não à Jade.
Eu o cumprimentei com um leve aceno de cabeça, e ele pareceu se contentar em me ignorar, aproximando-se de Jade e se deitando ao seu lado, olhando para as águas claras do riacho, as orelhas movendo-se atentas a qualquer movimento a nossa volta.
