Sexta-feira de 2010
O meu dia começou quando eu cheguei na escola.
Quero dizer: eu não estava exatamente no meu corpo, mas estava tudo bem, ao menos eu tinha esses amigos com quem eu podia lanchar todos os dias, além de que eu podia conversar com Heather... Ah, Heather, a menina mais bonita da minha sala. E, bom, ela era melhor amiga de Olívia, então eu pensei: Ah, então tudo bem se eu conversar com ela só um pouquinho, não é mesmo?
E, sim, eu conseguia fingir bem ser a Olívia — poderia ganhar um Oscar por atuação — como todos os outros, e ninguém percebia que eu era... Bom. Eu. E isso era tão legal! Era como se eu fosse um espião, e depois eu tinha que falar todas as informações para o resto da equipe.
Era uma sexta-feira — o melhor dia da semana, sabe por quê? Porque, além de eu ter aula de guitarra — e eu arraso muito na guitarra... Bom, não tanto quanto Daniel, mas eu ainda sou muito bom — toda quarta e sexta às 9h, no dia seguinte eu não tinha aula! Um sábado! O dia nacional de ir andar de skate na pracinha na esquina de casa E tomar banho de banheira!
A mãe disse, enquanto passava aquele creme no meu cabelo — um cabelo comprido e chato de arrumar:
— Você tem direito a duas sextas-feiras no mês na banheira.
— Por que só duas? — eu perguntei, virando-me em sua direção e ela arrumou a direção da minha cabeça pela décima vez naqueles dez minutos com um suspiro.
— Porque a banheira gasta muita água, e você fica muito tempo. — ela pegou um pente cor de rosa e começou a passar no meu cabelo, puxando alguns fios que estavam mais embaraçados enquanto eu reclamava — Sabe que a empresa de seu pai não está em seus melhores dias. Ele está tendo muito trabalho para manter as finanças de lá. O mínimo que podemos fazer pra ajudar é economizando aqui em casa.
— Mas por que a empresa do pai está com problemas? — perguntei, virando-me novamente, e a mulher de cabelos castanhos me olhou com um olhar severo e eu virei a cabeça novamente para frente enquanto ela voltava a puxar os fios compridos.
— Isso não te interessa, Liv. Isso é coisa do seu pai, e não devemos nos intrometer. — falou depois de alguns instantes em silêncio.
E eu entendi.
Aquele era o ponto final daquela conversa. Eu só teria duas sextas-feiras no mês em que eu poderia aproveitar a banheira de hidromassagem dos meus pais. E estava tudo bem!
De qualquer forma, era uma dessas esperadas sextas-feiras — marcadas por mim cuidadosamente num calendário em cima da minha escrivaninha — e tudo corria perfeitamente bem: eu tinha ido à aula de guitarra pela manhã; apareci em algumas aulas pela tarde — eu falei que nas sextas nós também temos aula de Educação Física? É simplesmente o melhor dia de todos! — e brinquei com os meus amigos — e Heather — no recreio.
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TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...