Quarta-feira, 17h20, 2027
Banguela! Leah gritou na minha mente, e eu rosnei. Quem ela pensava que era pra gritar desse jeito comigo? Continuei andando pelas ruas com aquele meu corpo pequeno e fraco.
Como os humanos conseguiam viver desse jeito? Eles eram tão fracos. Por isso precisavam ser defendidos o tempo todo, mas nesse corpo em que eu estava preso, eu não tinha a minha força, nem o meu fogo, nem a minha resistência... Como é que Leah gostava de dizer? Ah! Frustrante. É. Era extremamente frustrante que eu não conseguisse fazer tudo o que eu conseguia fazer dentro de nossa cabeça.
Nossa cabeça... Rolei os olhos. Leah tinha me ensinado isso também. Eu não vivia na minha cabeça, eu tinha que dividi-la com outros... Ugh. Humanos.
Você rolou os olhos para mim?
― Cala a boca. ― rosnei, em voz alta, assustando uma das criancinhas que estavam na minha frente. Ela olhou para trás, com os olhos arregalados e eu pisquei algumas vezes. Não era a minha intenção assustar aquela criança. ― Desculpe. ― murmurei ― Não era a minha intenção te assustar.
Ela franziu o cenho, fungando um pouco antes de se voltar para a mãe, novamente.
Essas crianças humanas se assustam muito fácil.
Talvez você não devesse ter falado tão alto? Nós já conversamos sobre isso, Banguela.
Rolei os olhos, novamente, dando mais um passo para seguir as pessoas na fila do Starbucks. Sim, Starbucks, porque se eu não podia voar, ou soltar fogo, ao menos poderia tomar café ― a melhor invenção humana, em minha humilde opinião. Tirei umas notas de dinheiro do bolso e pedi um Cold Brew Baunilha ao atendente. Ele sorriu para mim, perguntando o meu nome.
Dê o nome certo.
Eu não.
― Leah. ― respondi, em um tom baixo e levemente rouco (o tom mais próximo da minha voz dentro do Headspace que eu podia fazer quando eu estava no comando).
Ele sorriu e eu esperei no balcão pela minha bebida. O mesmo garoto que me atendeu chamou o nome de Leah, e peguei o copo com o café e devolvi o sorriso, sem mostrar os dentes, enquanto tomava um gole quente do café.
Ele estava dando em cima de mim? Perguntei a Leah, enquanto caminhava para fora da loja, atravessando a rua para ir ao prédio comercial onde Justine ― nossa terapeuta ― passei pela mulher gorducha e baixinha da portaria e ela sorriu, chamando-me por aquele nome que eu aprendi a reconhecer há alguns anos.
Com certeza. Respondeu Leah, e eu rolei os olhos enquanto ela ria. Tadinho, tão inofensivo quanto um inseto.
Comportem-se vocês dois, não faça eu me arrepender por ter deixado vocês saírem hoje.
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TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...