Jorge e Charlie são pessoas extremamente legais.
São os tipos de pessoas que não se importam exatamente se você está tocando sua guitarra no volume mais alto — e talvez (com alguma certeza) perturbando os vizinhos — ou se você pula na cama até cansar. Ou se você correr pelo quintal com o Budy — o Husky siberiano que havíamos adotado há algum tempo — e rolar na grama, e depois entrar na casa e sentar no sofá e...
Tá, exagerei um pouquinho. Charlie se importa um pouco se eu rolar na grama com Budy e sentar no sofá sem tomar banho antes, mas, de qualquer forma, eu gosto... Bom... Da pessoa que... Eu nunca me lembro como devo chamar.
Charlie está sempre diferente, e nunca sei se ele é um menino ou uma menina ou...
De qualquer forma, eles chegaram em casa horas depois.
Eu já tinha saído do estúdio onde guardávamos os instrumentos e estava na sala, jogado no sofá de tecido branco, assistindo Pica-Pau na enorme televisão pendurada na parede.
— Chegamos! — falou Jorge, depois de passar pela porta.
Pude ouvir Budy latir e patinar pelo porcelanato, correndo em direção aos recém-chegados. E eu levantei do sofá em um pulo, correndo e patinando pelo porcelanato por causa das meias de unicórnios — Colline queria vestir essas meias hoje, depois de colorirmos um desenho que Julian nos ajudou a desenhar, e eu não me importava: também gostava de unicórnios — e pulei para abraçar Jorge com braços e pernas — eu adorava fazer isso.
— Papai! — gritei, apertando-o em um abraço apertado, enquanto ele me pegava no colo, rindo.
— E é por essas e outras que eu adoro quando eles ficam em casa. — ouvi-o murmurar para Charlie, que estava trancando a porta e deixando os sapatos em um sapateiro que tínhamos no hall de entrada. Charlie riu. — E aí, pequeno, como está?
— Eu to bem. — disse, soltando-o e colocando os dois pés no chão para abraçar Charlie também, afinal, el... Enfim. Os dois haviam me adotado quando começaram a namorar com a Lorraine. Eu achei isso tão legal! — Nós fizemos muitas coisas legais hoje. E a Colline que escolheu nossas meias!
Como se você não quisesse vestí-las.
Cala a boca, Flynn!
— E o que vocês fizeram? — Charlie perguntou, dando um beijo no topo da minha cabeça.
— A gente falou com a Justine, e eu toquei uma música para ela, sabe, aquela que o Flynn tava me ensinando no outro dia? — falei, enquanto caminhávamos em direção a cozinha, e Jorge deixava a maleta na mesa de jantar. — E depois eu toquei guitarra sozinho. Acho que Flynn foi resolver alguma coisa com a Sam. Eles brigaram de novo, acredita? Agora ela não quer voltar pra cidade! Quer ficar no acampamento o tempo todo! — sentei em uma das banquetas do balcão que separava a mesa menor de madeira quando íamos comer só nós três. — Então eu acho que o Flynn foi resolver alguma coisa com ela, pra ver se ela volta pra cidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
AcakVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...