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Aproximei-me do riacho novamente, abaixando-me à margem e lavando o rosto com a água gelada do riacho e respirei fundo e pisquei algumas vezes, ainda tentando processar tudo o que acontecera naquela estranha sala de jantar

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Aproximei-me do riacho novamente, abaixando-me à margem e lavando o rosto com a água gelada do riacho e respirei fundo e pisquei algumas vezes, ainda tentando processar tudo o que acontecera naquela estranha sala de jantar.

Havia nove anos que eu existia. Eu cresci junto com o corpo até os 21 anos, que foi quando eu parei de envelhecer, e ainda posso transitar em um espaço de idades — entre os 18 e 21 — e eu sei que divido uma função com a Olívia, de cuidar do corpo e das atividades diárias do corpo. Por isso eu não tenho acesso a muita coisa do Headspace, e dos traumas que criaram a maior parte dos alteres, pelo menos até Pauline, Daniel e Norte considerarem que eu sou capaz de lidar com aquela informação.

Eu não sou o tipo de pessoa que ignora a hierarquia, e mesmo sabendo que o sistema é muito democrático e que cada função é importante para o funcionamento, eu sabia que tinha coisas que eu não deveria saber,e quando eu conversei com Justine eu fiquei com essa pergunta em minha cabeça e fui até Pauline para saber se eu podia perguntar sobre o que tinha acontecido para Jade, mas eu não sabia que era...

Senti pelos curtos e macios roçarem meu braço, e olhei para o lado vendo uma pequena raposa, focinhando o meu braço com aquele nariz comprido, estreito e molhado. Ela me olhou com seus olhos azuis ciano e eu acariciei seu pelo.

Alguns de nós precisamos de alteres animais para nos confortar e dar algum tipo de suporte emocional. A voz de Acqua soou em minha cabeça e eu pisquei algumas vezes, passando os dedos pelos pêlos suaves e relativamente curtos da raposa.

Ela se mexeu, subindo em meu colo e se aconchegando sobre as minhas coxas.

— Ruby. — era como se o nome tivesse surgido entre os meus lábios, e a raposa se mexeu ainda mais confortável sob a minha palma.

Sorri fracamente, acariciando seu pelo macio.

— Você está bem? — perguntou Sam, sentando-se ao meu lado.

Segurei Ruby em meu colo e me ajeitei o suficiente para conseguir colocar meus pés dentro d'água, então olhei para a menina de cabelos encaracolados e olhos azuis e sorri fracamente.

— Jade nos falou o que aconteceu. — falou a menina, de forma doce e ela sorriu, triste. — Ela passou por muita coisa para que nós não sofrêssemos.

— Mas foi tão ruim assim? — perguntei, olhando para a água cristalina que engolfava nossos pés.

— Aquele dia... — Sam suspirou, fechando os olhos. — Era a minha vez de ir para a escola. Quero dizer, nós fomos acordados pelo pai da Olívia nos xingando de tudo o que se tinha direito, então eu estava ali para apaziguar as coisas. E quando nós chegamos na escola... A primeira coisa que eu vi foram os vídeos... — flashes de lembranças surgiram em minha mente, e mais lágrimas surgiram em meus olhos. — Jade sempre lidou com a escola melhor do que eu, no Ensino Médio, desde o primeiro ano...

— Fizeram bullying conosco desde o primeiro ano do Ensino Médio? — perguntei, horrorizada.

— Sim. — Sam sorriu triste, olhando para mim com aqueles dois olhos gentis. — E Heather nem sempre foi a cabeça disso tudo. Tinha uma menina antes.

— Heather era nossa amiga, não? — perguntei — Eu lembro de algo assim.

— Quando a Olívia era criança, sim, mas... — ela olhou para a água cristalina. — As pessoas crescem e mudam.

Olhei para a raposa em meu colo, deitada e tão bem acomodada e acariciei seu pelo entre as orelhas. Suspirei.

— A Jade não tem culpa por ter se apaixonado pelo Ash. A Olívia também gostou do cara... — Sam suspirou — A Jade não tem culpa pelo que Ash fez com a Leah, mas a Jade sente tanta culpa... Ela sente culpa por muita coisa... E culpa é um sentimento perigoso para quem tem depressão. E tudo o que ela passou? — ela respirou fundo e se levantou. Ela caminhou até as minhas costas e colocou ambas as mãos em meus ombros. — Jade é uma das alteres mais fortes entre nós todos. — ela sussurrou perto do meu ouvido.

Então bateu uma vez em meus ombros, e depois voltou para a floresta e a campina, fazendo o caminho de volta para o Acampamento.

Ela não vai fazer isso. Ela é fraca demais. — ouvi a voz de Heather dizer em minha cabeça.

Lágrimas escorreram pelos meus olhos e eu apertei um pouco mais — mais não tão forte — a raposa-vermelha que estava em meu colo.

— Se sentindo mal? — ouvi Acqua dizer, e me olhou com um olhar cético.

— Você sabia de tudo?

— Não tudo, mas sei que a Jade passou por muita coisa lá fora. O suficiente para não querer se aproximar mais do prédio do comando. — ela falou e colocou ambos os braços sobre a margem gramada, apoiando a cabeça pelas mãos. — Ela tem tanto medo de tudo se repetir que fica o mais longe possível, para não correr o risco de ser chamada por nenhum gatilho, e mesmo assim acaba acontecendo.

Respirei fundo, olhando para Ruby, que me olhou de volta com seus olhos azuis ciano. Brilhantes e inteligentes, como se estivessem querendo me dizer alguma coisa.

— Ela parece uma boa raposa. — ela falou, indicando Ruby com a cabeça. — Você vai aguentar, Lola. Só precisa ser um pouco mais compreensiva em relação à Jade.

Ela piscou com um olho e sorriu de lado, voltando a mergulhar no riacho.

Ela piscou com um olho e sorriu de lado, voltando a mergulhar no riacho

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