Esse capítulo é dedicado à todas as pessoas que passaram por abuso infantil, ou qualquer tipo de abuso e sobreviveram.
Vocês são seres humanos lindos, fortes e perfeitos. Sobreviveram a uma situação extremamente difícil, e eu estou muito feliz e orgulhosa que vocês sobreviveram a essa situação horrível.
Eu sinto muito por tudo o que vocês passaram, mas vocês são muito mais do que isso, e, mesmo que não leiam esse texto... Obrigada por estarem nesse mundo, ainda, mesmo depois do que vocês passaram.
*Edit: Data
Sábado de 2006
Ela tinha seis anos quando aconteceu a primeira vez.
Seu corpo era pequeno e atarracado, seus cabelos eram de um loiro escuro e comprido ― seu pai não gostava que o cortasse muito mais do que quatro dedos ― e seus olhos eram um pouco menos cinzentos do que aos 21. Ela era magra e tinha um rosto rechonchudo, com bochechas salientes e um nariz reto, mas pequeno ― muito parecido com o da mãe.
Seria aniversário de casamento de seus pais em pouco mais de uma semana, e seu pai resolvera levar sua mãe para uma viagem no exterior ― uma segunda lua de mel ― e eles a deixariam na casa de Paulo, irmão de Carlos, a uns quarteirões de distância. E a menina não poderia estar mais animada em passar a semana com o tio, e ela simplesmente adorava passar o dia inteiro naquela casa enorme, com uma piscina a sua disposição e brinquedos enormes que pudesse brincar no gramado. Coisas que ela não tinha em sua própria casa, afinal, seu pai não gostava que fizesse barulho nenhum dentro de casa enquanto ele mesmo estivesse em seu escritório trabalhando.
E tudo estava bem, até que, na segunda noite em que estavam juntos e sozinhos naquela enorme casa, um pesadelo a acordou no meio da noite.
― Princesa? ― ouviu-o ao seu lado, sentindo-o colocar uma mão em sua testa.
A menina pulou em direção ao homem, abraçando seu pescoço, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos. Era um monstro horrível, com olhos vermelhos que a pegava pelo pé, durante a noite, puxando-a para um buraco profundo, onde ela ficava presa.
― Eu não quero ficar lá, tio, não quero. ― dizia a menina aos prantos, apertando o pescoço do homem adulto.
― Está tudo bem, querida, quer dormir com o titio hoje? ― perguntou o médico, passando a mão enorme nas costas pequenas da criança, que assentiu severamente, com a cabeça enterrada na dobra do pescoço com o ombro do mais velho.
Ele a pegou no colo, com um dos travesseiros e um bichinho de pelúcia ― um coelho ― e a levou para seu quarto, onde a deitou na cama e lhe contou uma história até que ela dormisse, com a luz do banheiro aberta e a porta entreaberta. Ela sentiu sua respiração calmante em suas costas, e o corpo maior acalentando-a, abraçando-a, confortando-a de um pesadelo que tivera, e quando estava muito perto de entrar em sono profundo, sentiu a respiração quente em seu pescoço, então os lábios molhados, e os dentes.
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TDI - Transtorno Dissociativo de Identidade
RandomVocê já esteve em uma situação tão traumática, tão traumática, que não tinha capacidade de aguentar a carga emocional ou física que ela te dava? Uma situação tão ruim, tão ruim, que você achou que não iria sobreviver? Agora, imagine como seria fugir...