Regras.

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Antes de ir tomar banho, ela e seu novo amigo fantasma definiram regras.

— Eu vou te ajudar. — ela declarou, depois de alguns minutos de conversa.

— Eh? — o fantasma balbuciou, encarando a ruiva.

— Você está aqui por algum motivo, não é? — ela explicou, colocando uma mão no queixo. — Você não apareceria simplesmente aqui na minha varanda do nada, tem que ter algum motivo. Eu vou te ajudar a encontrar esse motivo!

O menino balançou a cabeça em negação.

— Emma, você não precisa fazer isso. — ele disse, não escondendo uma pequena pitada de culpa no tom de voz.

Em resposta, ele recebeu um olhar determinado vindo da menina.

— Não! — ela negou. — Nós somos amigos agora, e eu vou te ajudar nisso!

Por um momento, Norman não teve o que falar. Ele simplesmente ficou ali, encarando as orbes verdes da menina, aqueles olhos verdes que estavam banhados de determinação e bondade.

Norman suspirou, esboçando um sorrisinho, antes de balançar novamente a cabeça, dessa vez assentindo.

— Certo. — ele concordou, o que arrancou uma comemoração contida por parte de Emma. — Mas vamos estipular regras.

— Regras? — Emma perguntou, inclinando a cabeça para o lado.

— Sim.  — ele concordou, ambos agora frente a frente. — Emma, esta ainda é a sua casa, seu quarto. Eu não posso ficar transitando por aí. Você precisa da sua privacidade. — o albino começou, explicando. — A que horas você vai dormir?

Emma pareceu pensar um pouco.

— Acho que realmente depende do dia. — ela começou. — Em dias da semana eu geralmente vou para cama às nove horas. Agora, nos finais de semana eu não tenho exatamente um horário definido. — a menina completou.

— Bem, então antes das nove, eu vou para varanda e te deixo no quarto. — Norman disse, fazendo Emma piscar, confusa.

— Por quê? — ela indagou.

Agora Norman parecia envergonhado.

— N-não é normal ter alguém no mesmo quarto que o seu enquanto você está dormindo. — o menino gaguejou. — Por isso eu vou sair antes de você dormir, posso ficar na varanda ou vagando pela cidade.

— Mas você tem que dormir! — ela interrompeu seus pensamentos, sua voz de repente preocupada. — Quer dizer, fantasmas dormem, não é? Ou não? — sua voz mudou para um tom confuso.

Norman não pode deixar de rir, achando a confusão dela adorável.

— Eu não sei. — ele deu de ombros, no fundo irritado por não saber o que responder. — Acho que vou ter que descobrir isso hoje, hein. — ele riu, tentando aliviar as preocupações da menina ruiva.

Não deu muito certo.

— Okay, mas se você sentir vontade de dormir, não hesite em voltar para cá! — Emma exigiu, recebendo um aceno de concordância.

— E você tem escola também, não? — Norman comentou, virando o rosto para a noite por minutos, antes de voltar com os olhos para Emma. — Deve acordar cedo.

Emma balançou a cabeça, soltando um suspiro.

— Podemos começar com a pesquisa depois que eu voltar da escola. — a menina sugeriu, encarando o chão.

— Certo.

Eles ficaram alguns minutos assim, apenas na presença um do outro, a luz do luar iluminando a varanda.

Isso até Emma de repente pular no lugar, se levantando num salto.

— Eu tenho que tomar banho! — ela gritou, quase caindo.

Norman riu mais uma vez, sua risada por algum motivo, aquecendo o corpo de Emma.

Ela não disse mais nada, e apenas tropeçou para dentro do quarto.

───※ ·❆· ※───

— Norman? — Emma chamou, assim que entrou no quarto. Ela pendurou a toalha na cadeira da escrivaninha, e calçou suas pantufas fofas, andando até a varanda, ignorando o vento gelado da noite.

No fim, Emma acabou demorando demais conversando com Norman, porque quando ela saiu do quarto, Yuugo já tinha chegado, e o jantar já estava pronto.

Ela nem teve tempo de cogitar na ideia de subir para o quarto depois do banho, porque Phil apareceu no corredor, já puxando Emma pela mão até a sala de jantar.

— Norman? — ela chamou de novo, abrindo a porta da varanda.

Emma não pode deixar de se sentir decepcionada ao olhar ao redor e constatar que seu mais novo amigo fantasma não estava mais lá.

Por algum motivo, ela cruzou os braços e fez um beicinho, anotando mentalmente de dar uma bronca amanhã de manhã no menino, por ele ir embora sem lhe desejar uma "boa noite".

A ruiva bocejou, dando-se por vencida de que não veria mais o albino naquela noite.

Ela fechou a porta da varanda, puxando as cortinas para que na manhã seguinte não fosse acordada com a luz do sol.

Ela subiu na cama, se enfiando nos cobertores e respirando fundo, encarou o teto.

Os acontecimentos daquela manhã estragaram sua definição de "manhãs normais", com certeza. Mas sabe de uma coisa? Ela não estava incomodada.

Virando de lado, ela se aconchegou melhor na cama, já começando a sentir os olhos pesando. Ela teria que se acostumar com o seu novo normal, e estava estranhamente bem com aquilo.

Finalmente ela fechou os olhos, se entregando de vez ao sono.

Emma não viu a figura de Norman parada do outro lado da janela, encarando seu corpo adormecido. Um sorriso gentil adornado suas feições.

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