Ray se sentou no tapete felpudo do quarto ao lado de Emma, deixando sua mochila jogada no pé da porta. A menina puxou o caderninho preto das mãos de Ray e o abriu, colocando-o no tapete. Norman estava do outro lado da ruiva, seus olhos percorrendo o conteúdo do caderno.
Houve silêncio durante um tempo, Emma e Norman pareciam conversar com olhares. Ray estava confuso e um pouco irritado.
— Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui? — ele finalmente perguntou, olhando impaciente para os dois.
— Oh, desculpe! — Emma chiou, parecendo se dar conta de algo. — Então, Ray está do nosso lado agora?
O citado piscou os olhos, muito confuso.
— Você só se deu conta disso agora, sua idiota? — Ray zombou, batendo com o punho no topo da cabeça da ruiva.
— Urgh! — ela reclamou, massageando o local atingindo. — É só que você é muito difícil de acreditar nas coisas, Ray.
O moreno resmungou em resposta.
— Nós dividimos a pesquisa em tópicos. — o fantasma começou, já não enrolando mais. Emma levantou um dedo e começou a falar.
— Primeiro: Por que Norman está aqui? Por que os fantasmas ficam presos na Terra? Nós formamos três teorias até então. — ela continuou, apontando para um anotação em verde no caderno. — Um; Para assombrar alguém ou algum lugar. A alma do fantasma não pode superar a sede de vingança e acabou ficando presa aqui. Sua alma só vai se libertar quando ele atingir seu objetivo ou superar a vontade de vingança.
— Dois; Pendência a se pagar. A alma do fantasma não vai se libertar enquanto ele não acabar com essa pendência que ele teve em vida. — Norman explicou, também apontando para uma anotação em azul no centro da folha do caderno.
— E três; Atos ruins feitos em vida. A alma do fantasma ficou presa no mundo dos vivos por causa de suas ações, ele provavelmente só vai ser liberto quando arrumar isso, ou então vai ficar preso para sempre. — Emma por fim finalizou, indicando a última anotação em laranja.
Ray parou por alguns minutos, assimilando todas as informações apresentadas.
— A ligação. — ele simplesmente murmurou, olhando para Emma com os olhos semicerrados. — Você me ligou naquele dia por isso.
A ruiva cantarolou, desviando o olhar meio envergonhada.
— Sim, eu queria saber sua opinião. — ela concordou. — Mas você foi muitíssimo educado comigo e desligou na minha cara. — a menina ironizou, cruzando os braços.
— Eram cinco da manhã! — Ray retrucou, dando ênfase no 'cinco'. — Que tipo de pessoa acorda às cinco da manhã para falar sobre fantasmas e suas peculiaridades?
Ela e Ray continuaram a pequena discussão, só sendo interrompidos pela risada meio abafada de Norman.
— Do que você está rindo? — o moreno perguntou, ainda estranhando o fato de estar conversando com um fantasma. Emma gritou, puxando uma mecha do cabelo de Ray. — Me erra Emma, parece que tem problema!
— E-eu não sei. — Norman gaguejou, enxugando algumas lágrimas que escorreram pelo canto dos olhos, seu sorriso diminuindo um pouco. — É só que... Eu nunca me senti tão "vivo" como agora. É como se eu tivesse esperado minha existência inteira por isso.
Ray e Emma pararam, seus olhos analisando a figura do fantasma.
— Continuem com a explicação. — Ray pediu, por que como ele iria contar a Norman que ele - e possivelmente Emma. - também sentiu o mesmo? Como se todas as coisas tivessem voltado ao seu curso normal com a cena de minutos atrás.
Emma pigarreou, antes de puxar o caderno para mais perto deles.
— Nós descartamos a primeira teoria. — ela continuou, como se nada tivesse acontecido. — Norman com certeza não veio aqui para assombrar alguém ou local. Esse 'alguém' teria que ser eu, afinal eu sou a única que posso vê-lo. bem você também pode ver agora. — ela tagarelou a última parte. — E esse 'local' teria que ser minha casa, porque ele apareceu justamente aqui. Mas não faz sentido, porque Norman não se mostrou vingativo e nem nada do tipo, ao contrário, ele é uma ótima companhia! — Emma falou, arrancando um rubor do menino fantasma com a última frase. Ray estreitou os olhos.
— Então só nos sobra duas teorias. — ele murmurou, olhando para as anotações na folha.
— Não exatamente. — Norman admitiu, dando de ombros. — Na verdade, Emma acha que-
— Que a teoria três também está errada! — a ruiva o interrompeu, levantando uma mão em entusiasmo. — Quer dizer, olhe bem para o Norman, — ela apontou para o garoto, que não sabia como reagir. — ele não é capaz de fazer mal para uma mosca, quem dirá ter realizado atos ruins em sua vida antes da morte. — dessa vez a menina se aproximou mais e apertou as bochechas do fantasma, que fez um barulho surpreso. — Além de que ele é muito gentil para fazer algo com alguém.
— Você se esquece do fato de que ele acabou de me manipular para fazer parte desse seu esquema. — Ray interveio, zombando.
— Detalhes, Ray. Pequenos detalhes. — ela fez pouco caso, voltando para o lugar e riscando a teoria um e três. — E com isso em mente, só nos resta a teoria dois. — Emma disse, enquanto circulava a anotação com uma caneta vermelha brilhante.
Ray parou um pouco, relendo a anotação.
— Pendência a pagar, então. — ele declarou por fim. — Para isso precisamos saber quem era você em vida.
Emma lhe apresentou um sorriso nervoso e Norman se remexeu no lugar.
— Você acaba de adiantar o tópico dois: — Emma contou, levantado dois dedos. — Quem Norman era em vida?
Vendo a confusão na expressão de Ray, o fantasma resolveu agir.
— Eu não me lembro de nada. — o albino disse, espantando Ray com sua sinceridade. — Antes de aparecer na varanda de Emma, a única coisa que eu lembro é de um lugar totalmente branco. A coisa relativamente diferente lá, era eu. Eu não me lembro do meu sobrenome, nem se eu tinha uma família, nem onde eu morava.
Ray absorveu a informação, tentando evitar sua estranha tristeza por Norman. Depois de um tempo, ele levantou os olhos e encarou o fantasma com um sorrisinho de "eu-tive-uma-ideia-muito-boba-mas-que-parece-muito-certa".
— Já tentou procurar seu nome no Google?
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Quem é você?
Fantasy"- V-VOCÊ É O QUÊ?! - a ruiva perguntou, ou melhor, gritou. - Um fantasma, pelo que tudo indica. - o menino repetiu, dando de ombros. Emma se perguntou momentaneamente como sua manhã supostamente normal havia se transformado em uma cena de um livr...