O final de semana havia passado normalmente, tirando o fato de que agora Emma estava encucada pensando em uma forma de ajudar Norman a recuperar suas memórias perdidas.
A tese de Anna havia sido muito útil, e agora ela estava trabalhando em possibilidades de como liberar sentimentos fortes o bastante para tentar fazer o fantasma se lembrar de algo.
— Talvez se você me machucar? — ela sugeriu no domingo, logo após o almoço. — Você disse que ficou se sentindo culpado por não ter conseguido responder quando eu perguntei seu nome. E se você tentar me machucar? Isso pode te deixar culpado, não é?
— Emma, eu definitivamente não vou fazer isso. — Norman negou rapidamente, um tom determinado.
Emma fez um beicinho, cruzando os braços.
— Mas é para te ajudar! Eu não vou me importar se isso for te ajudar! — ela exclamou.
— Mas eu vou. — o albino retrucou. — Esqueça isso Emma, vamos pensar em outra coisa.
A menina bufou.
Ainda era estranho para ela saber que suas irmãs - e Don. - conseguiam ver Norman. Emma se pegava arregalando os olhos quando via uma das duas entrando em seu quarto e cumprimentam o fantasma, às vezes chegando até mesmo a papear com o mesmo.
— Como vocês fazem na hora de dormir? — Gilda perguntou certa vez, quando as três estavam reunidas no quarto de Anna apenas conversando antes de irem dormir. — Quer dizer, ele não dorme com você, ou dorme? — a esverdeada prontamente explicou, vendo a expressão confusa da irmã.
Emma riu, afastando uma mecha rebelde de cabelo do olho.
— Não, não. — ela negou. — Na verdade, fantasmas não dormem. O Norman sugeriu que durante a semana ele sairia do meu quarto às nove, horário em que geralmente eu durmo, e ficaria vaguiando pela cidade. Eu não concordei de primeira, mas agora estou mais acostumada.
— É muito gentil da parte de Norman te dar essa privacidade. — Anna comentou, colocando alguns fios de seu cabelo loiro agora solto, atrás da orelha.
Emma concordou, exibindo um sorrisinho alegre.
— Norman é muito gentil quando se trata dos outros. — ela disse. — Mas ele é tão negligente quando se trata de si próprio.
— Oh, de quem isso me lembra? — Gilda debochou, dando uma cotovelada em Emma, que riu inocentemente.
───※ ·❆· ※───
A segunda-feira havia enfim chegado, marcando o início da primavera e encerrando de vez as estações chuvosas.
Embora a estação tivesse mudado, o leve frio do inverno ainda permanecia lá, obrigando os cidadãos da cidade se agasalharem mesmo assim.
— Norman! — a ruiva chamou, uns minutos antes de descer e ir para escola. — Eu estou indo para a escola!
Ela o encontrou novamente na varanda, observando a paisagem dali: O gelo do inverno se dissipava, e as flores começavam a querer florescer. Era uma vista esplendorosa.
— Norman? — Emma chamou de novo, vendo que seu amigo não havia lhe dado nenhuma resposta. — Aconteceu algo?
O fantasma piscou, parecendo sair de um transe. Ele olhou para Emma, oferecendo-lhe um sorriso torto.
— Desculpe, Emma. — Norman murmurou, encolhendo os ombros. Ele fitou a ruiva de cima a baixo. — Vejo que está indo para a escola. Até mais tarde então!
— Até! — ela desejou de volta, já se afastando, embora a dúvida de o porquê Norman estar encarando a paisagem de sua varanda de forma tão séria ainda estivesse martelando em sua mente.
───※ ·❆· ※───
Eles resolverem voltar a tocar no assunto quando o intervalo chegou.
— E então, como ele está? — Don perguntou, colocando os braços atrás da cabeça e se deitando na grama. Gilda fez uma careta para isso.
— Como você acha que um fantasma estaria, Don? — Ray debochou. — Morto, obviamente.
Don ainda se deu ao trabalho de rir.
— Ele está bem, eu acho. — Emma respondeu, ignorando os dois. — Só parece meio distante desde que nosso plano de recuperar suas memórias falhou. — ela apertou a barra da saia do uniforme, parecendo pensativa e preocupada. — Precisamos pensar em outra coisa, e rápido.
Os outros quatro assentiram com a cabeça, olhares determinados em seus rostos.
— Mas o que podemos fazer? — Anna indagou, sentando-se com as pernas cruzadas, e colocando uma mão no queixo. — Não fazemos ideia de como fazer isso, só temos um pequeno palpite de como fazê-lo lembrar de algo específico.
— Eu sugeri que Norman me machucasse ou coisa do tipo. — Emma comentou. — Ele se sentiria culpado, não? Quem sabe assim algo clicasse em sua mente.
Ray bufou, encarando a melhor amiga e Gilda parecia horrorizada.
— Nós não vamos te usar como "isca" para fazer isso! — a menina negou, quase gritando.
— Ele nunca faria isso, você sabe. — Ray murmurou.
— Sim, eu sei, eu sei. — Emma resmungou, cruzando os braços. — Norman já me disse que não faria.
— Pelo menos ele é sensato. — Gilda acenou, em aprovação.
— Bom, voltamos à estaca zero então. — Don declarou, se levantando da grama e apoiando a cabeça no tronco da grande árvore que fazia sombra para eles. O garoto soltou um suspiro e fechou os olhos.
— E se Norman tiver reencarnado como um fantasma? — Ray comentou de repente, encarando os amigos. — Nós estamos com a ideia de que ele morreu nesse século, mas nada impede de ele ter reencarnado como um fantasma. — ele explicou rapidamente.
— Mas você mesmo disse que não seria possível alguém saber tanto da nossa tecnologia tendo morrido no século passado. — Emma retrucou, fazendo uma careta confusa.
— Vidas passadas então. — Ray apontou. — Estamos julgando que conhecemos o Norman nessa vida, mas e se tivermos conhecido ele antes disso?
— Eu não sabia que você acreditava nessa coisa de vidas passadas, Ray. — Don debochou, provocando o amigo.
— Nós estamos lidando com um fantasma e a coisa que mais te surpreende é o fato de que, possivelmente, nós tivemos uma vida antes dessa que estamos vivendo? — o menino de cabelo ébano contrapôs. — Sinceramente, isso é o de menos. Nós podemos muito bem termos conhecido ele em nossas vidas passadas, só que, por algum motivo, Norman reencarnou nessa vida como um fantasma.
— Isso só me confundiu ainda mais. — Gilda confessou, colocando as mãos na cabeça. — Só estamos ficando nos "e se...", não temos certeza de nada até agora. Temos que começar a agir.
— Mas como? — Emma suspirou, choramingando.
Os cinco amigos se entreolharam por instantes, antes de exclamarem todos juntos:
— Investigando o nosso passado!
— Se procurarmos por dicas de que conhecemos Norman nessa vida, podemos descartar a ideia de que o conhecemos em outra. — Ray balançou a cabeça, um sorrisinho nascendo em seus lábios.
— E assim podemos riscar uma dessas teorias. - Anna completou, feliz.
— Além de que podemos até conseguir ajudar Norman com as memórias dependendo do que acharmos. — Gilda finalizou, ajeitando os óculos.
Emma sorriu amplamente.
— Temos um plano então. Resta saber se Norman vai acatar com ele.
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Quem é você?
Fantasy"- V-VOCÊ É O QUÊ?! - a ruiva perguntou, ou melhor, gritou. - Um fantasma, pelo que tudo indica. - o menino repetiu, dando de ombros. Emma se perguntou momentaneamente como sua manhã supostamente normal havia se transformado em uma cena de um livr...