I41I - Defeitos pt.1

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Assim que a confirmação foi impressa em meus lábios, o olhei como nunca tinha me permitido olhar. Para o homem de rosto confiante e postura autoritária, para o seu algo a mais carregando a perfeita expressão de um caçador que havia abatido sua presa premiada e aguardava pacientemente a recompensa.

- Nada de arrependimentos? - Perguntou, trançando suavemente um dedo sobre os meus lábios. Balancei a cabeça, era inegável que eu estava rendida mesmo que algo em mim ainda desejasse quebrar sua expressão de contentamento em milhares de pedacinhos.

- Beije-me. - Ordenei, não para a minha surpresa, era o eu queria. E o que não queria era lhe dar o prazer de vencer, meu orgulho ou talvez algo mais imperioso ainda lembrava do seu joguete na carruagem. Eu seria capaz de dar-lhe uma chance, mas não me dobraria aos seus caprichos.

Um lento sorriso se formou no canto dos seus lábios até que ele inclinasse o rosto sobre o meu, fazendo com que sua respiração quente fosse parte de uma sedutora tortura.

- Mesmo que o inferno congele? - Perguntou, arqueando uma das sobrancelhas negras com ironia.

- Com todos os seus demônios. - Lembrei sorrindo.

Sem urgência ou demora seus dedos tocaram meu rosto carinhosamente, lábios macios e cálidos sobre os meus se juntaram ao toque, uma prova suficientemente boa de que eu poderia continuar sendo egoísta. Lentamente toquei seu rosto, dando-lhe abertura para que aprofundasse o beijo e assim ele fez, com tanto capricho que não consegui pensar em mais nada. Céus, se isso era errado eu sorriria à caminho do inferno.

- Temo... - Ele disse, ritmando seu fôlego. - Que apenas um beijo não será o suficiente. Continue fazendo isso e eu não serei capaz de larga-la nunca mais.

- Fazer o que? - Perguntei me inclinando para beija-lo novamente. - Beija-lo?

- Sorrir. - Disse e eu me dei conta que ainda sorria como uma idiota. - Quando você sorri seu rosto se torna a coisa mais bela que um homem pode desejar ver.

- E o que aconteceu com o meu rosto comum? - Perguntei, recuando ou ao menos tentando, a mão firme em minha cintura me manteve no lugar. - Lembro-me de que disse que compraríamos boas roupas para esconder a minha falta de beleza. - Murmurei, incapaz de esquecer suas palavras.

Como se ainda fosse possivel, ele chegou mais perto.

- A primeira vez que vi seu sorriso, foi quando sorriu na carruagem a caminho da Cidade do Leste, naquele momento me dei conta que havia sido um grande tolo por ter falado tamanha bobagem.

Ele segurou meu queixo, obrigando-me a ver seus olhos.

- A segunda vez que vi seu sorriso foi quando o dedicou a Kaydor no corredor da antiga casa. Fiquei tão furioso que decidi a punir por isso, não por ter o protegido, mas por ter sorrido para ele como nunca sorriria para mim. - Ele fez uma pausa, encarando meus olhos com alguma expectativa. - Mas então você sorriu, eu havia lhe arrancando um sorriso pelo medo e isso também me enfureceu. Então a provoquei e mesmo coberta pelo medo você não deixou de ser atrevida.

- Esse deve ser um dos meus grandes defeitos. - Confessei.

- Defeitos fazem parte de quem somos. Se não podemos amar alguém por seus defeitos, não é amor verdadeiro.

- Como pode ser tão seguro em falar essas coisas? - Questionei.

- Quando Licans amam escolhem um único companheiro ou companheira pelo resto de suas vidas.

- Os humanos também. - Falei, dando de ombros. - Casamentos são para sempre.

- Amor vai além de um mero casamento, amor não pode ser medido ou esquecido. - Proclamou.

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