I34I - Lar

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- Vocês sempre souberam. - Afirmei, incapaz de esconder o choque e o ódio em minha voz frente o Conselho reunido.

- Fomos obrigados a criar uma narrativa para justificar tal atrocidade.  - Tiron falou a contragosto.

- E não nós foi dada muita escolha. - Ethan falou, para minha surpresa. Eu não queria acreditar que ele fazia parte daquilo, como uma das poucas pessoas que eu tinha confiado ao longo da vida, saber que ele tinha contribuído com a mentira de um deus pagão sustentado por sacrifícios destruía o restante da minha confiança. 

Até agora nenhuma novidade, a caixinha sussurrou.

- Então também sabiam quem ele era. - Afirmei.

- Não, ele não se mostrou para nós, exigiu seus termos cinco décadas atrás, para nossos antecessores. O preço para ficarmos protegidos em boas terras, sem nós preocuparmos com a segurança. - Continuou. 

- O que é uma vida em comparação ao bem estar de centenas de outras? - Viremont divagou. 

- Se dá tão pouco valor a uma vida Viremont, posso tirar a sua. - Falei, vendo seu rosto inchar com a provocação depois encarei Tiron. - Valeu a pena? Ocultar isso das outras pessoas, condenar outras pela covardia? 

- Não ouvirei mais seus insultos, Aysha! - Tiron gritou, batendo o punho contra a mesa. Continuei firme na minha posição confortavelmente sentada em uma das cadeiras e com os pés sobre a mesa. - E você ainda não nos contou como conseguiu escapar. Enfrentaremos mais represálias pela sua fuga? Viremont está certo quanto ao preço que pagamos, quer que nossos patrulheiros lutem? Céus, não temos equipamento para isso. Quer ocupar pessoas que nunca pegaram em um arco e coloca-las de frente a um monstro? Tem palavras e soluções bonitas, mas desconhece o peso de liderar um povo. Sacrifícios são necessários, de todos. 

- Eu não escapei. - Menti. - Ele me deixou ir embora. Deu-me um cavalo e mandou com que eu partisse. Os sacrifícios temo dizer para suas mentes frágeis, não iram mais funcionar. O Tratado que fazia com que ficássemos protegidos no território dele está para acabar. Não demorará até que outras criaturas, piores do que Ogros ou Licans invadam aquela frágil barreira que vocês chamam de cerca. Decidam o que faram a partir disso, o aviso foi dado. 

 - Há muitas inconsistências em sua história Aysha. Para onde foi o cavalo? 

- O soltei na floresta, ele não havia me dito que o animal era meu, deve ter voltado para o dono.

- E porque, uma criatura que até então tinha se mantido obscura recolhendo seus sacrifícios, soltaria você?

- Meu temperamento assusta até os monstros, Tiron. - Brinquei. 

- Estou falando a sério, Aysha. Conte-nos a verdade. O que foi feito dos sacrifícios anteriores?

- Eu não sei, estava preocupada demais com  a minha segurança para perguntar. - Admiti. - Não deveriam ser vocês os detentores da verdade? 

- E por que voltou? -Ele ergueu as sobrancelhas. - Todos sabiam que seu desejo era deixar a vila.

- Não foi me dito que isto era uma inquisição. - Resmunguei. Levantando-me com a intenção de deixar da sala.

- Esta reunião não acabou. - Tiron falou, provocando minha frágil paciência.- Responda. Trouxe o perigo até nós? Não resta nenhuma gratidão em seu coração? 

- Que gratidão eu teria? Jogaram-me aos monstros, como caçadores prendendo coelhos para atrair lobos, só estamos tendo essa conversa porque eu não sou  a porra de um coelho. - Falei, mas o que eu era de verdade? Uma Dominante como o Lobo tinha proposto? Alguma outra coisa que ele tinha decidido ocultar para se beneficiar? 

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