I09I - Confiança

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Tive que esperar alguns segundos para ter certeza que estava consciente e de olhos abertos. A escuridão se estendia a minha volta como um manto negro. Tateei as cegas encontrando um chão empoeirado e paredes úmidas de pedra, haviam ranhuras em alguns pontos, quatro grandes cortes se estendendo continuamente. Eram marcas de garras.

Estava em um calabouço ou algo do tipo, só não entendia o motivo. Minha garganta doía como o inferno, boa parte pela sede e outra parte por ter sido sufocada até entrar na inconsciência. Em algum lugar água gotejava, me arrastei em direção ao som, meus músculos doendo pela fadiga e fome.

Minha mão direita foi a primeira a encontrar a água. A goteira tinha formado uma pequena poça nas diferentes nivelações do chão. Lavei minhas mãos e o rosto na poça me deparando com um queixo limpo e em perfeito estado, no entanto, eu tinha certeza que a faca havia o cortado.

Levantei do chão com esforço, cada membro reclamando, então comecei a tatear as paredes até encontrar uma porta. Eu tive que checa-la, força-la e finalmente chuta-la para ter certeza que estava fechada, não havia maçaneta. Sentei escorada a porta sem mais opções. Era uma prisioneira e ainda que fosse definitivamente melhor do que ser comida, eu não conseguia manter o medo longe.

Não escutei os passos, mas consegui me mover a tempo de evitar a porta quando está foi aberta. Vi a tocha antes da mulher, o lado exterior estava tão escuro quanto minha cela. A mulher era alta, forte e estava nua. Tive que olhar para o chão. Sua risada ainda ecoava quando ela falou.

- Olá. – Sua voz causou um arrepio por meu corpo, não era uma voz agradável. Arrisquei um rápido olhar em sua direção, ela sorriu com dentes incrivelmente brancos reluzindo. – O mestre requisita sua presença ratinha, venha.

Não movi um músculo, eu não confiava em mim mesma para fazer, tudo nessa mulher me remetia a perigo. Uma mão de dedos finos e unhas pontudas envolveu meu braço, me afastei instantaneamente, seu toque parecia ter queimado minha pele mesmo sob as roupas. Ela me puxou, obrigando a mim e as minhas pernas a ficarem de pé.

- Vamos deixar as coisas claras, você me obedece e em troca não quebro seus braços. – Falou o desprezo encarnado. – São tão fracos que posso fazer por acidente, então fique quietinha e me siga, não gosto de tocar em coisas tão desprezíveis. – Dito isso ela me soltou com um empurrão e seguiu em frente.

O corredor se estendia ficando mais largo à medida que caminhávamos, haviam mais portas e eu decididamente resolvi que não queria saber o que havia por trás delas.

- O mestre a quem se refere é o Lobo? – Perguntei quando a curiosidade se tornou insuportável.

- Ah sim, vocês inferiores o chamam dessa maneira. – Ela não se virou para responder, a luz amarelada das chamas iluminavam seu cabelo escuro e sua pele parda.

- O que quer dizer com inferiores, o que ele é? – Perguntei e então me dei conta que ela também não podia ser normal. Havia algo em seus olhos escuros quando me encarou, algo que não podia ser humano. – O que você é?

Ela lentamente se virou em minha direção. Grande erro Aysha, grande erro.

- Somos o que os lobos são para as ovelhas, predadores. E você não passa de uma pequena e fraca ovelhinha para mim. Mais uma palavra humana e deixarei você conhecer nossa natureza mais cedo do que o planejado.

Assenti, mas ela já tinha se virado quando fiz.

Quando o chão mudou para uma espécie de pedra polida me dei conta que deveria ter decorado as bifurcações que tínhamos atravessado. Por fim passamos por um arco de pedra e então escadas surgiram até uma abertura muito brilhante para meus olhos. A mulher parou prendendo a tocha no inicio das escadas, depois seguiu para a luz.

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