I19I - Ogro

8.1K 1K 209
                                    

Tive que soltar o cavalo, eu não podia me manter firme e segurar o animal ao mesmo tempo. O soltei, ele relinchou e correu para fora do meu campo de visão.

Subitamente o clima tinha mudado do radiante sol para nuvens pesadas outra vez e não era só isso. O ar ficou pesado e grosso como se não pudesse ser aspirado totalmente, como se algo maligno o tivesse contaminado ou talvez era somente meu pânico acendendo. Provavelmente a segunda opção.

Tínhamos entrado em uma formação muda cobrindo as costas uns dos outros. O som parecia vir de todos os lugares e ao mesmo tempo de nenhum, como um trovão, você o escuta retumbar, mas não pode apontar e dizer 'ele veio dali'.

Meu coração estava na garganta e eu podia sentir a circulação das veias sob a pele, o fervor do sangue. Estava bem ciente do barulho de nossos pés sobre as folhas secas, da brisa gélida assobiando em meus ouvidos, do suor descendo em minha testa.

Galhos mais pesados estalaram e então a criatura surgiu. A visão me roubou o fôlego e uma parte de sanidade também, minha memória não lhe fazia jus.

Era horrendo por falta de palavra melhor, encouraçado sem nenhum pelo, escuro e com dentes sobressaltastes tortos. O inicio de um grito morreu em minha garganta. Duas flechas bateram na criatura, ela continuou movimentando-se como se nada tivesse acontecido e de fato não tinha, as flechas caíram no chão como se tivessem acertado a uma rocha. Suas mãos quase tocavam o chão, eram longas e grossas fazendo os ombros serem curvados para baixo. A coisa juntou as mãos e as bateu no chão com um grito de guerra. A terra gemeu e eu tremi em minhas pernas para ficar em pé.

- Para ás árvores, já! – Garret gritou, não perdi tempo e o obedeci.

Eu deveria estar sendo lenta porque Jhulia passou por mim e Garret me empurrou, ele jogou o seu gancho e agarrou minha cintura nos levando para cima.

Jhulia estava empoleirada em um galho superior ao nosso, eu não tinha a visto subir, ela atirava flechas em direção a coisa no espaço de tempo de uma respiração. Garret armou seu arco também, mas nenhuma das flechas estava fazendo muito efeito, eles se chocavam contra a pele da coisa e caiam no chão.

Eu ainda segurava a minha faca que parecia bem inútil no momento e tinha muita certeza que não estava prestando mais atenção nas coisas, me sentia distante de alguma forma, como se estivesse tendo um sonho muito ruim e soubesse que era apenas um sonho.

Não era um sonho.

O ogro andou até a árvore que estávamos e a abraçou como um amante. A madeira rangeu tentando não ceder ao seu abraço de aço. Gritei, me agarrando ao tronco. Ouve um crack e então eu estava escorregando pela madeira. Agarrei um ganho e senti as lascas da madeira arranhando minha mão, a árvore estava inclinada para o lado, meus pés pendiam livremente no ar. Passei a faca para minha boca, segurando o cabo com os dentes e usei as duas mãos para subir no galho.

Consegui me equilibrar, olhei para a esquerda e vi que Jhulia tinha passado para outra árvore, ela ainda atirava, mas sua aljava estava quase vazia. Tentei localizar Garret e o encontrei inconsciente em um galho abaixo do meu. Seu corpo estava deslizando silenciosamente pelo galho, como o meu estava outrora.

Merda. Eu estava prestes a fazer uma grande burrice. Guardei a faca e desci para o galho inferior, me sentei nele e aos poucos fui me movendo até Garret, abaixo de nós a criatura fazia pequenos sons de insatisfação.

Agarrei primeiro sua capa depois seu braço, impedindo que seu corpo avançasse até a parte mais fina do galho e desabasse. Garret murmurou algo que parecia um palavrão tentando levantar a cabeça.

VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora