Passei as instruções do que precisava para Vanessa, tomando cuidado para que Edmon não ouvisse, o que era em suma, quase impossível. Eu não queria ter que dividir minhas preocupações acerca da concepção junto a Edmon, mas ele não costumava largar um assunto até ficar satisfeito. Ele e Raymond eram totalmente diferentes nisso, apesar de serem parecidos na cor de seus cabelos e nos ângulos de seus rostos. Edmon era como um livro aberto capaz de narrar todo o seu conteúdo em voz alta caso você se recusasse a lê-lo.
Nos sentamos na mesa da varanda, o sol mais do que bem vindo no frio da cidade. O calor suave me fez pensar no que Raymond deveria estar fazendo e em como ele tinha sido amável a sair dizendo aquelas palavras. A emoção em meu peito desabrochava como a ultima flor de um inverno rigoroso, eu faria de tudo para protegê-la. E mesmo assim...
Laldean.
- Bem, eu sempre soube que minha presença era capaz de deixar as damas sem palavras, mas acredito que esse não seja o seu caso. - Edmon falou, ele segurava uma xícara no ar enquanto Guilia o servia.
Esquecendo quaisquer regras de etiqueta peguei uma tortinha de cereja coberta por creme açucarado e a mordi.
- Isso é ótimo. - Falei, sugando os últimos resquícios de creme nos meus dedos.
- Sinto que está me ignorando propositalmente, queridinha. Não quer mesmo desabafar? - Perguntou, sua expressão divertida dizia que ele sabia muito bem sobre o que eu tinha conversado com Vanessa. Malditos Licans e seus sentidos sobre humanos...
- Você me convidou para um café e eu não como a dias, me perdoe se não consigo satisfazer sua necessidade de socialização no momento. - Consegui dizer, mascarando minha inquietação, que raios de situação eu tinha me metido?
Ele riu, um som suave e longo.
- Não precisa ficar nervosa, não é segredo o que um casal feliz faz em um quarto. Apesar de ser atípico realizar isso em lugares tão desconfortáveis como um trono, mas tenho certeza que você deve ter encontrado uma forma de... - Começou.
- Céus - Gritei, incapaz de esconder a vermelhidão em meu rosto. - Você deve amar muito o som da sua própria voz.
- Culpado. - Ele sorriu, pousando sua xícara na mesa. - Mas deixe-me contar um segredinho. - Cochichou, se inclinando sobre a mesa em minha direção. - Nós...Licans...Podemos...
- Juro que se demorar mais um segundo vou joga-lo do terraço. - Proferi.
- Farejar o período fértil de nossas parceiras. - Terminou com um estalo de dedos. - E você não está no seu.
- Pensei que você havia dito parceiras. - Murmurei, apesar sentir uma imensa onda de alivio me percorrer.
- Quis ser educado.
Porque saber que cada Lican ao meu redor saberia do meu período fértil era perturbador.
- Obrigada. - Falei a contragosto, cortando uma fatia de bolo.
- Sempre é bom ser...
As palavras de Edmon foram interrompidas por uma série de barulhos vindos de fora do quarto. Passos pesados, placas de metal se chocando, uma voz rouca.
- Senhor Edmon! Senhora Mondavarius!
Cintia se moveu para abrir a porta, mas Edmon a deteve com um gesto de mão.
- Entre.
Ofegante um soldado de cabelos claros e cicatriz no rosto abriu a porta.
- O Mestre da Cidade foi raptado. - Disse, mas eu deveria ter ouvido errado.
Um estampido ecoou pelo quarto, minha cadeira indo de encontro ao chão. Antes que eu me desse conta estava segurando o soldado pelos ombros, vendo sua respiração ficar suspensa. Ele nos teme, ele não está mentindo.
- Repita o que falou. - Pedi. - Quero os detalhes.
- O Mestre da Cidade foi levado por uma delegação real, eles deixaram isso para trás.
O soldado vasculhou entre as placas de sua armadura, puxando um papel amassado com bordas decoradas e caligrafia elegante. O papel estava frio quando o toquei, como se a morte fosse sua mensageira.
"Cara Senhorita Nowak Mestra da Cidade do Norte,
Seus feitos surpreenderam a todos nas quatro Cidades Lunares, peço desculpas por ter tomado garantias tão abruptas, mas saiba que falo com o coração sincero que apenas estimo sua visita e que nenhum mal será feito ao seu noivo, além do que ele próprio provocar. Os portões de Serestia estarão abertos para você. Seja breve.
Por ordem do Lukoi, Drivand Haldegar."
- Não... - Sussurrei, deixando a carta cair no chão.
O Lukoi? O alvo final de Raymond? O líder supremo da Casa Lican. Isso não podia estar acontecendo, não agora, não tão de repente, não quando eu havia dito aquilo...
Raymond, tome cuidado...eu odiaria saber que você perdeu para um Lican fraco. Raymond, tome cuidado...eu odiaria saber que você perdeu para um Lican fraco. Raymond...
Uma dor atingiu meu coração, como a adaga deveria ter atingido o de Ulrik.
Ele tomou o que é nosso, ele deve pagar. Tomaremos tudo, sem misericórdia.
Mesmo que eu fosse uma Liones, mesmo que possuísse poder para coloca-los de joelhos, eles não hesitavam em me provocar, em me ferir, em tirar o que era meu!
- Isso é ruim. - Edmon falou, ele havia recuperado a carta do chão. - O Lukoi está ferindo o Tratado, tenho certeza que podemos apelar para...
- Que se dane o Tratado! - Falei, me virando para Edmon, sentindo cada gota do meu sangue ferver. - Vocês fizeram esse plano com suas regras, agora vou apresentar a minha: Todos que ficarem no meu caminho pagarão com sangue.
Não posso falhar, não como falhei com ele...
E nós não iremos.
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Vermelho
WerewolfEscolhida como o próximo sacrifício de sua vila, Aysha terá que lidar com a enigmática figura do Lobo e com os perigos depois do Limite, a divisão do seu mundo fechado com o vasto desconhecido. Dotada com uma misteriosa voz interior que a assombra d...