I31I - Poder

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Novamente voltei ao andar superior com o corpo em chamas. Isso não podia se tornar um hábito. Que infernos eu tinha feito, agindo daquela forma? Dando a entender que eu o desejava...

Me joguei sobre a cama encarando o teto. Eu o desejava? Tinha que admitir, ele era bonito, na verdade mais do que bonito, havia curado meus ferimentos e lutado pelos meus desafios, isso seria alguma forma de gentileza?

Sem aviso suas palavras voltaram a minha mente,...e você não vai querer que seja gentil. Abafei um grito de frustração com um dos travesseiros.

- Idiota! – Gritei. – Idiota convencido.

Mas isso não é tudo, minha mente auxiliou, ele também é o seu algoz, o terror de décadas da vila, a razão pela qual sua vida tinha se tornou muito difícil.

Suspirei, tinha razão, não podia me deixar levar por seus encantos ou os meus desejos, eu tinha um plano, o seguiria e depois me livraria disso tudo. Me livraria dele.

***

Batidas suaves soaram na porta tirando-me de um sonho desagradável que eu logo esqueci quando levantei.

- Quem é? - Perguntei com alguma hesitação, minhas botas estavam fora de alcance apoiadas na lateral da cama.

- Kay, trago comida.

Corri em direção à porta e tirei a cadeira que a mantinha no lugar. Eu devia uma serie de desculpas a Kay – pelas suas gentilezas às quais não agradeci, por não ter o defendido e principalmente, por ele ter se machucado – e teria as dito se no momento que abri a porta não tivesse visto Ângela atrás dele com uma das mãos em seu pescoço.

Ele tentou sussurrar um 'desculpe', imagino, pois antes que completasse Ângela o empurrou, fazendo com que sua cabeça se chocasse contra a porta, mandando-o assim para a inconsciência. Ela continuou o segurando enquanto falava.

- Oi de novo, ratinha.

Minha surpresa havia sido tão grande que mal consegui pragueja-la.

- Sua va...

- Shhhhi, diga alguma coisa e eu quebrarei o pescoço dele. – Ameaçou.

Eu me contive, amaldiçoando Ângela e seu sorriso horrendo em silêncio.

- Quero propor um acordo. – Disse, para meu assombro. Ela jogou Kay em direção ao chão e eu corri para segura-lo, sangue escorria do seu ombro, onde a segunda mão de Ângela tinha estado, haviam outros ferimentos, principalmente em seu rosto sardento.

O deitei no chão, tomando cuidado para não machuca-lo ainda mais, depois me virei para Ângela que havia entrado no quarto sem convite.

- Não vai escapar disso. – Falei, deixando minha voz soar ameaçadora. Se ao menos o Lobo tivesse devolvido minha faca, ou se minhas botas estivessem...

Ela riu um som baixo e amargo.

- Acha que me venceu, naquela luta? Nem em cem anos você seria capaz, peguei leve porque o Mestre insistiu, disse-me que não deveria quebra-la. Então eu obedeci. Mas veja só você, tão cheia de si, andando livremente, tendo suas feridas curadas como se fosse uma de nós, você não é, é uma humana desprezível e eu não permitirei que toque nele.

Tarde demais, uma voz no canto da minha mente cantarolou.

- Então você vai perder a luta. – Disse, para minha surpresa. – Ele não vai deixar com que a matem, tomou os desafios dos mais fortes rompendo nossas regras para protege-la, até mesmo a escondeu, no máximo você será exilada e poderá continuar com sua vida patética longe daqui. Não é o que deseja? – Disse convidativa, parada a minha frente.

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