I46I - As Casas Antigas

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Não há muito tempo atrás, antes do Tratado e da Grande Guerra haviam Sete Casas Antigas.

Diplomáticos e jocosos, os Asatru reinavam em suas cidades prateadas, construídas além das nuvens.

Precisos e cautelosos, os Artemis reinavam sobre as árvores das florestas, protegendo e sendo protegidos por elas.

Desdenhosos e manipuladores, os Esimus reinavam com volúpia em seu submundo de carne, sombras e fogo.

Invejosos e desleais, os Humanos reinavam sempre os arredores, incapazes de construírem algo somente seu.

Insaciáveis e irracionais, os Ogros reinavam sobre o caos, pilhando e destruindo aonde fossem.

Ferozes e orgulhosos, os Licans reinavam sobre seus iguais, com garras e dentes.

Prepotentes e impiedosos, os Liones tentaram reinar sobre os demais, mas sua derrota era iminente.


A sala do trono do Mestre da Cidade do Norte facilmente se encaixaria como a coisa mais impressionante que eu já havia visto. Tão vasta e alta que poderia abrigar gigantes. A luz do amanhecer se infiltrando pelas grandes janelas quadriculares com molduras de ferro trabalhado fazia o piso polido brilhar, como a superfície de um lago. As paredes de pedra negra eram gravadas com entalhes de batalhas, homens se transformando em lobos, lobos se transformando em homens, homens e lobos golpeando, mordendo e partindo seus adversários com garras e dentes. E então havia o trono no centro de tudo, construido com a mesma pedra negra das paredes, entalhado com o formato de um lobo. Seus dentes a mostra projetando-se acima do encosto.

 Era mais confortavel do que parecia.

- Nunca tive duvidas de que o poder combinava com você. - Disse Raymond, com um sorriso mínimo nos lábios. Esta sendo cauteloso, Mestre da Cidade do Norte.

Apoiei meu queixo em uma das mãos, deixando claro que relaxava em seu novo trono.

- Estava pensando o mesmo. - Falei, parte de mim se assustou com a imponência que minha voz soou, a outra parte apenas se deliciou. - Prometeu que não ia mais manter segredos entre nós. - Falei, referindo-me ao fato de que ele sempre soube quem eu era, ou melhor, o que eu era.

- Não é um segredo quando as duas partes sabem. - Defendeu-se.

- Eu não sabia o que era um Liones até você me contar. - Falei entre dentes. - Teria sido útil deixar as coisas claras.

Ele suspirou, um suspiro cansado, recordei-me que não havíamos dormido desde o baile. Raymond ainda usava o mesmo conjunto social, apesar de ter se livrado da primeira peça, ficando apenas com a camisa branca, suas calças escuras e os sapatos polidos. Havia manchas marrom claras em suas mangas, sangue seco. Eu tinha substituído meu belo vestido verde por um conjunto de roupas mais confortáveis.

Ele se abaixou, segurando uma de minhas mãos, enquanto se apoiava em um joelho. Seus dedos faziam círculos e formas no dorso da minha mão. Um toque cálido em contraste com o trono frio.

- Nomes tem poder, querida Aysha. - Seus dedos se fecharam sobre minha mão e ele se levantou fazendo com que eu seguisse seu movimento por instinto. Havia uma dureza em seus olhos, algo além do cansaço. - Agora mesmo enquanto conversamos, a noticia de que uma Liones vive percorre as Quatro Cidades e talvez além delas, não tenho dúvidas de que outros Mestres tramam sobre o que fazer, sobre o que podem ganhar com isso.

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