I04I- Eu iria por você

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Chovia. Saberia mesmo que não escutasse o som da água se chocando contra o teto. Meu joelho ruim sempre doía quando chovia e ele estava doendo agora. Relutante me aninhei nas cobertas e tentei voltar a dormir, a chuva não me permitiria trabalhar de qualquer forma.

Despertei novamente com as batidas. A madeira estava fria e rangia conforme eu caminhava descalça até a porta, não me ocupei de procurar pelas botas, pelo som insistente das batidas era algo urgente. Removi a barra que prendia a porta e a abri.

Kiros olhava para mim encharcado da cabeça aos pés com surpresa genuína em seus olhos claros.

- Graças aos deuses! – Exclamou, dando um passo para entrar, como seu eu fosse permitir depois de tudo. Estendi uma mão o impedindo, não que fosse uma desalmada deixando uma pessoa na chuva, mas era apenas Kiros e ele não parecia tremer tanto.

- Que maldições quer Kiros? – Perguntei ainda segurando a porta. – Imagino que não está aqui para um pedido de desculpas. – O vento frio empurrava meu cabelo ondulado e escuro para longe do meu rosto. Kiros apenas me esquadrinhou com os olhos, como sempre fazia.

Percebi que não estava confortável sob seu olhar, estava vestida em uma blusa larga que chegava até meus joelhos, era uma blusa masculina de mangas longas. Roupas masculinas ainda de serem mais cômodas eram mais baratas, tudo que uma garota independente pode sonhar. As gotículas de água que chegavam junto com o vento estavam molhando a blusa, um calafrio percorreu meu corpo.

- O que quer? – Perguntei novamente, com raiva na voz. Ele piscou saindo de um estupor que só ele deveria saber qual era. O nariz tinha sido posto no lugar, mas ainda mantinha uma coloração avermelhada. Olhei para meu trabalho com gosto. Ele passou a mão pelos cabelos. Mesmo molhados a coloração avermelhada permanecia, só que mais escura, da cor de sangue seco. Desagradável.

- Graças a Deus. – Repetiu balançando a cabeça. – Pensei que tinha sido você, pensei que tinha sido você Aysha. – Ele repetia mais para ele do que para mim.

- Pensou que eu o que? – Estreitei os olhos. – O que está acontecendo Kiros? – Quando chamei seu nome ele olhou para mim.

- Uma Elegível conseguiu passar pelo Limite. – Disse finalmente.

Segurei a porta com força, eu queria cruzar os braços, mas era impossível segurar a porta e cruzar os braços ao mesmo tempo. Por seus olhos sabia que não era tudo, percebi que estava com medo de perguntar o restante.

- E? – Pronunciei, um tremor percorreu meus lábios.

- Uma patrulha saiu atrás dela. Estão todos mortos.

Engoli em seco de repente bem ciente do quão molhada estava. Me afastei o dando passagem para entrar, ele não hesitou. As botas encharcadas faziam barulho enquanto se movia.

- Como assim? – Minha voz não passou de um sussurro. Fechei a porta, escorando-me contra ela.

- O Lobo matou a todos Aysha. Viremont quer antecipar o sacrifício para essa noite. Tem medo que tenhamos o afrontado.

- O afrontado? Isso é loucura! E ainda mais o Lobo não ataca antes do anoitecer. Tem certeza do que aconteceu Kiros? Quem mais saiu para checar os corpos? - Eu não podia acreditar, na verdade não queria, quatro palavras dançavam em minha cabeça.

- Romes escutou os gritos. Ninguém voltou faz vinte minutos e ninguém tem coragem de sair para checar se há sobreviventes.

- Espere. Você falou em antecipar o sacrifício? Viremont não pode fazer isso, pode? – Eu ainda registrava os acontecimentos.

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