I10I - Compulsão

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- No momento, quero apenas que me deixe ver seu rosto, afinal não posso deixar com que minha noiva fique com o rosto ferido.

- Não serei sua noiva. – Falei de modo imediato.

Seu belo rosto não enganaria. Uma vez meu pai tinha me contado uma historia sobre demônios que usavam rostos bonitos para fazer acordos com jovens mulheres por suas almas. Deus pagão ou demônio ele não teria minha alma ou a mim.

- Sua vontade não é necessária. – Disse. – E não dificulte as coisas para mim, já é ruim o bastante que tenha essa aparência mediana, ficar com uma cicatriz seria inadmissível.

Ele estendeu uma mão. E tão repentinamente havia um gosto ruim e conhecido em minha boca. O mesmo gosto que senti a encara-lo em sua forma monstruosa de lobo na floresta. Tive uma compulsão por aceitar sua mão, era uma mão firme e segura. Uma mão que me faria caricias e não traria dor. Podia confiar em sua mão, pensei, estendendo a minha, podia confiar nele...

Meus dedos pararam a centímetros de toca-lo. Pude ver alguma surpresa se acender em seus olhos.

Eu nunca confiaria nele, não confiaria no monstro que arruinou minha vida antes mesmo de me tornar seu sacrifício. Aquela verdade rugida do meu interior me acertou e cortou totalmente a compulsão, raiva lenta e fria me inundou. A mesma raiva que usei para levantar meu braço e o cortar na floresta.

- Pare. – Sussurrei, por que de outra forma gritaria. Encontrei seus olhos e repeti com força. – Pare o que esteja fazendo! – Forcei minhas costas na parede, eu tinha que me afastar dele a qualquer custo.

- Huh, então sente mesmo minha magia? – Falou baixando seu braço.

Como na outra noite, quando falei que ele estava em perigo, sua voz tinha uma nota de divertimento. Claro que ele riria da minha ignorância por não saber que estava falando com o que temia. Mas agora ele não ria por minha ignorância, seu divertimento era o de alguém que estava se entretendo, como uma criança com seu brinquedo novo.

O encarei e me arrependi instantaneamente de ter feito, baixei os olhos para sua camisa branca. Branco é uma boa cor.

- Não sei ao que se refere. – Menti, não que realmente soubesse, mas tinha ideia.

Ele era capaz de compelir as pessoas a fazer o que desejava. E se isso fosse verdade, talvez, por um momento, Petra não tivesse me entregado intencionalmente, afinal ela chorava quando o fez.

- Mentirosa. – Ele acusou. – Não guarde seus truques, é isso que esta te mantendo útil a mim. E com útil quero dizer viva.

- O que planeja fazer comigo? - Perguntei.

Não era estúpida. Se estava viva até então, havia algo em mim que ele desejava. Não podia acreditar que fosse meu corpo, já havia visto luxuria no rosto de um homem e não havia nada no dele. Ter todo o trabalho de ir à vila fazer com que adiassem o sacrifício e Petra me dedura-se... Não sabia sua parcela de envolvimento quanto o ataque a Naila e os patrulheiros, mas ele estava lá e me deixou ir. Não consegui encontrar sentido através de suas ações.

- Não irei mata-la se é isso que a preocupa.

Mentiroso. A existência de todos os outros sacrifícios contribuía para o contrario. Afinal o que ele queria dizer com apenas pegar algo de que precisava das escolhidas?

- Acabou de dizer que só estou viva porque sou útil a você. – Rebati. –Quero saber como.

Ele pareceu pensar por alguns segundos.

- Você é inteligente. Isso é bom, de fato é ótimo. Mas não vou contar agora.

Fiquei de pé, a forma como ele olhava de cima tinha começado a me irritar. E se não ia me matar como falou, não havia mais motivo para temê-lo, tentei me convencer disso.

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