Por mais que eu estivesse surpresa a ainda ter meu coração batendo com um pulso forte em meu peito, não perdi tempo e rolei pelo chão empoeirado até sair do alcance do Lican. Foi à cota de segundos para que seu punho atingisse erroneamente o chão.
- Devo admitir, não esperava que o grande e orgulhoso Mestre Mondavarius fosse derramar o próprio sangue para ajudar uma humana. – Falou, virando o rosto furioso para encarar o Lobo. - Eu deveria ter percebido mais cedo quando a toxina não o...
Um crash molhado.
Fechei os olhos incapaz de continuar vendo quando o Lobo puxou o coração do Lican para fora do peito. Sem aviso, sem contenção. Escutei quando o corpo caiu do meu lado.
Eu estava tremendo, fosse pela sensação de minutos atrás em quase ter meu coração arrancado ou pela visão de ver um fora do corpo de seu dono. Estava tremendo, mas mesmo assim não pude deixar de sentir alivio.
Com alguma coragem eu me virei parcialmente e abri os olhos vendo um olhar petrificado e sem vida me encarando de volta, um resquício de memória escapou da minha caixinha e eu me levantei sem ar, me apoiando em meus joelhos.
Quando enfim consegui voltar a respirar notei que o Lobo estava caído no chão, completamente imóvel. Foi quando me lembrei das ultimas palavras do Lican: Não esperava que o grande e orgulhoso Mestre Mondavarius fosse derramar o próprio sangue.
Mais rápido do que meu corpo ferido recomendaria corri até ele e me ajoelhei ao seu lado. Seus lábios estavam entre abertos e sua respiração parecia fraca, quase inexistente, havia muito sangue em seu tórax. Minha visão ficou turva e eu tive que piscar algumas vezes para foca-la.
- Lobo. – Chamei, sem resposta. – Você morreu? – Perguntei perto do seu ouvido.
- Não, sua idiota. – Respondeu fracamente, sem abrir os olhos.
- O que está errado? Como você derramou o próprio sangue? – Perguntei, checando seus ferimentos, além dos cortes em seu tórax não havia nenhum outro sinal em seus pulsos ou veias principais.
- Vou procurar Elikham. – Falei, porque nenhuma outra ideia me ocorreu.
- Não. – Ele segurou meu braço quando tentei me levantar, sua mão estava fria contra minha pele. - Não é seguro.
- Você não vai conseguir dar três passos nessas condições. – Repliquei.
- Me ajude. – Pediu, minha boca deve ter caído aberta.
- Certo. – Falei, engolindo a surpresa.
- Afinal a culpa é toda sua. – Disse.
- Sabe eu poderia larga-lo agora e ir embora, na verdade estou seriamente cogitando isso. No entanto não consigo ignorar que salvou minha vida. E eu não gosto de ficar em divida com ninguém, seja quem for. – Falei firme, fosse por isso ou por não acreditar que conseguiria ir longe com meus ferimentos sem ser apanhada antes. – Então dessa vez, vou deixar isso passar e ajuda-lo, onde posso encontrar suprimentos médicos? – Perguntei.
- Leve-me ao meu quarto. – Falou.
- Há suprimentos lá? – Perguntei cética.
- Apenas me leve, vou me curar sem necessidades destes. Se tentar me dar pontos a pele vai crescer sobre eles. – Explicou.
- Ah, certo. – Tinha me esquecido por um momento o fato que ele não era humano. Mas não era todo dia que se via monstros sangrarem e não era todo dia que você da uma de boa samaritana para seu captor.
Algo me dizia que eu ainda iria me arrepender por isso, como se o lembrete de um coração ainda pulsante jogado no chão não fosse o suficiente.
Ele me instruiu pelos corredores até uma porta que disse ser seu quarto. Parecia com a porta de qualquer outra cela com adição de uma maçaneta, então não fingi surpresa quando abri a porta e encontrei, bem, um quarto.
Era muito mais simples do que imaginei, móveis de madeira, uma escrivaninha com amontoados de papeis e livros em uma pilha encostada a ela no chão. Uma cama de dossel com lençóis brancos e um armário sem portas com camisas e outras roupas organizadas em cruzetas. Escutei som de água corrente e não escondi a surpresa com um digno 'oh' quando vi o pequeno lago subterrâneo no fundo do quarto.
Meu primeiro impulso foi querer jogar o Lobo no quarto e fechar a porta, mas eu realmente estava tentando não aderir ao meu lado negro, então continuei o apoiando e o levei até a cama.
- Vai me dizer o que está acontecendo? – Falei, deixando-o cair na cama. – Porque se alguém vier para me matar durante a noite eu gostaria de saber antes. – Provavelmente estava exagerando, mas é o que acontece quando tentam lhe matar mais de uma vez, a paranoia começa a lhe atingir.
- Não haverá mais problemas hoje. Ainda que haja mais traidores Elikham esta cuidando deles nesse exato momento. – Respondeu fatigado, mesmo sentado em uma cama com a pior das condições ele parecia bonito. Era como se a poeira e o sangue o deixassem com um aspecto selvagem, irreal. Me amaldiçoei por pensar nisso, principalmente quando estávamos ambos cobertos de sangue.
- Acho que o principal problema não são seus subordinados. Não deveria ter matado aquele Lican. – Falei, acrescentando com muito cuidado. – Não antes que tivesse descoberto quem o mandou, há não ser que você já saiba quem foi. – Respirei fundo, tomando coragem. – Você quer que eu mate alguém. Mas parece que quem está com o alvo nas costas é você Lobo. Então vai continuar me deixando as escuras ou vai me dizer o que está acontecendo?
- Já falei que é uma mulher inteligente, Aysha? – Disse, começando a desabotoar o que tinha restado da camisa. Ele desistiu no terceiro botão e simplesmente a arrancou do corpo. A peça já estava arruinada de qualquer forma. Percebi qual era o problema assim que vi seu peito plano e ferido. As feridas que o Lican tinha provocado pareciam simples arranhões quando comparado a de seu ombro.
- Merda, a flecha estava envenenada. – Falei, encostando a ponta dos dedos nos veios cinzentos que tinha se formado a partir da perfuração, onde Hansel havia lhe atingindo a flecha. Ele não se retraiu, me deixou examinar a ferida como se ela não existisse, recuei assim que percebi o que fazia.
- Não estava envenenada, meu tipo apenas não se dá bem com prata. – Disse, cruzei os braços, não confiava mais neles para deixa-los soltos.
- E quanto ao que o Lican falou, porque ele disse que derramou seu sangue? – Perguntei.
- Atrasei o processo de cura do meu corpo, quanto mais rápido perdesse sangue, mais rápido me livraria da toxina. – Respondeu.
-Por isso está fraco. – Falei e se podia arrancar o coração de alguém assim não queria nem ver quando estivesse em plena saúde.
- Não estou fraco. - Rebateu. E de fato ele tinha melhorado pelos minutos que passamos até chegar ao seu quarto.
- Aham, espero que não tenha mais subordinados insatisfeitos para seu bem. – Falei, lembrando-me das palavras de Kohina: Controlo aos meus muito melhor que você aos seus Raymond. Mesmo um Mestre como você não pode reinar em absoluto sobre os Selvagens. Eles esquecem muito mais rápido do que aprendem, principalmente a seus jovens Mestres, já reconsiderou voltar a seu antigo posto? Certamente é algo mais louvável do que...
- Preocupada? – Perguntou.
- Com que outro maluco pior que você se livre de mim, sim. – Respondi. Andei até a água corrente do lago e me agachei para lavar as mãos, tinha sangue seco debaixo das minhas unhas, quando lembrei disso lavei meu rosto.
- Isso não vai acontecer. – Falou, atrás de mim. - Porque a única pessoa que pode tirar sua vida, sou eu, Senhorita Nowak. - Disse antes de me empurrar.
***
N.A: Oi gente, sei que fiquei um bom tempo sem postar, peço desculpas por isso. Não irei prometer prazos, mas acho que consegui superar meu bloqueio criativo e estou muito animada para concluir o livro, um abraço!
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Vermelho
WerewolfEscolhida como o próximo sacrifício de sua vila, Aysha terá que lidar com a enigmática figura do Lobo e com os perigos depois do Limite, a divisão do seu mundo fechado com o vasto desconhecido. Dotada com uma misteriosa voz interior que a assombra d...